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Conheça a história do Amarone de Giuseppe Quintarelli

Giuseppe, ou Bepi, Quintarelli foi um obstinado com a qualidade do seu vinho

por Redação

Quem observa pela primeira vez uma garrafa de vinho de Giuseppe Quintarelli provavelmente não consegue entender como aquele rótulo escrito à mão, com letras que nem sempre são perfeitamente distinguíveis, pode ser tão caro. O invólucro parece não corresponder com o preço na etiqueta. No entanto, quem conhece a história e a fama desse produtor do Vêneto reconhece de longe aquelas letrinhas miúdas na garrafa e torce para poder desfrutar de ao menos uma ao longo da vida.

Sim, um Amarone de Giuseppe Quintarelli é vendido com valor equivalente ou superior a grandes vinhos de Bordeaux, com um detalhe importante: eles não são produzidos todos os anos. Além disso, sua produção é bastante limitada e ter acesso a uma garrafa é algo bastante raro. Mas, como um vinho de uma região tão desprestigiada quanto Valpolicella se tornou um ícone mundial?

Paciência

A história da vinícola começou no início do século XX, quando Silvio Quintarelli cultivava terras em Valpolicella como mezzadro (meeiro) e já produzia seus vinhos. Em 1906, diz-se que Silvio e a esposa viajaram a cavalo por cinco dias para levar barris de 50 litros de vinho para Gênova, de onde seriam exportados para os Estados Unidos. Depois da I Guerra Mundial, ele adquiriu alguns hectares em Cerè, local próximo da cidade de Negar, no monte Cà Paletta, ao norte de Verona, não muito longe do paradisíaco lago de Guarda.

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Somente nos anos 1950 é que Giuseppe, seu filho, entrou na empresa. Ele renovou vinhas e processos, e também introduziu algumas variedades internacionais. Além disso, passou a dar valor às tradições locais, como a produção dos Amarones. Ele se fiou no lento processo de apassimento (também conhecido como passificação: depois de colhidas, as uvas são deixadas para secar por períodos que variam de 90 a 120 dias, acomodadas em “bandejas” superpostas, conhecidas por arelas) e dos longos períodos de envelhecimento (sete anos ou mais) em barricas da Slavonia.

Giuseppe, ou Bepi, como era carinhosamente chamado, não se contentou em produzir vinhos ligeiros e massivos pelos quais a região de Valpolicella ficou conhecida. Ele foi um dos primeiros a trabalhar com Cabernet Sauvignon na região e a priorizar a qualidade sobre a quantidade. Um de seus principais trunfos foi a paciência. Enquanto a maioria dos produtores envelhecia seus Amarones por três ou quatro anos, ele aguardava o dobro do tempo e, em safras medianas, simplesmente não produzia, rebaixando o vinho para seu Rosso del Bepi. Em safras ruins, nem mesmo isso fazia, deixando de produzir qualquer coisa.

O erro

Quintarelli faleceu em 2012, aos 84 anos, e relativamente poucos tiveram a oportunidade de conhecê-lo profundamente. Ele era considerado excêntrico, de certa forma enigmático e também um pouco recluso. Avesso aos holofotes, quem busca informações sobre ele hoje, encontra poucos relatos com frases que teriam saído de seus lábios (nem mesmo site a vinícola possui). Uma frase célebre teria sido: “Ainda me lembro da época em que, se continuasse a fermentar e consumisse todo o seu açúcar para se tornar seco, o Recioto seria uma vergonha para a família”.

Sim, Quintarelli é da época em que o Amarone era um erro. No início do século XX, usava-se o termo Recioto amaro quando o vinho fermentava totalmente e se tornava seco. Amaro vem de amargo, mas, no caso, significava um vinho seco. Diz-se que foi Adelino Lucchese ou então de Gaetano Dall’Ora, respectivamente enólogo e presidente Cantina Sociale Valpolicella Negrar, que, ao provarem o vinho teriam dito: “Isso não é um ‘amaro’, é um ‘amarone’!” Assim, o nome no superlativo ficou ligado ao vinho.

À mão

Durante seus anos à frente da empresa, Giuseppe sempre foi obstinado pela qualidade, não somente dos vinhos, mas de tudo o que o cercava, até mesmo do vidro das garrafas, das rolhas, selos e dos rótulos feitos à mão. Em sua cantina, Quintarelli possui uma pequena coleção de antigos botti entalhados, cada um deles representando um membro da família.

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Após a morte de Giuseppe, a empresa ficou sob a responsabilidade de sua filha mais velha, Fiorenza, seu genro Giampaolo, e seus netos Francesco e Lorenzo. Eles mantêm os ensinamentos de Giuseppe, produzindo cerca de 60 mil garrafas por ano de 11 rótulos diferentes com uvas de cerca de 12 hectares de terras. Somente o branco Primofiore e o Valpolicella Classico são feitos todos os anos. Além de seu famoso Amarone, Quintarelli produz um blend bordalês chamado Alzero, e ainda outras misturas de uvas típicas do Vêneto com variedades internacionais.

Quem tem a oportunidade de visitar a vinícola e degustar seus vinhos logo repara que não há cuspideiras sobre a mesa. Ou seja, o convidado é “obrigado” a sorver todo o conteúdo da taça, pois, para Giuseppe e seus descendentes, não se deve desperdiçar uma gota sequer. E quem desperdiçaria?

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