Bebida histórica

Os vinhos que homenageiam grandes personagens históricos

Elegemos 20 rótulos que fazem alusão a nomes como Freud, da Vinci, Mozart e até Marilyn Monroe

por Por Arnaldo Grizzo

Como um produtor decide o nome que colocará no rótulo de seu vinho? Alguns dão o nome da propriedade onde a bebida é feita. Outros escolhem dar o nome do local onde as vinhas são cultivadas. Há quem decida por um nome mais comercial, chamativo, fácil de identificar e lembrar. Mas, como a vitivinicultura é uma atividade tão tradicional, muitos optam por homenagear pessoas – muitas delas da própria família do produtor, como seu pai, avô, mãe, bisavó etc. No entanto, há quem prefira ir além e nomear seu vinho sob inspiração de algum personagem relevante da história mundial.

Portanto, ADEGA vasculhou atrás de rótulos que prestassem homenagens a figuras históricas. É possível encontrar diversos e alguns talvez não muito atrativos para o consumidor como os que levam o nome de Hitler, Stalin ou Mussolini, por exemplo. No entanto, há homenagens para os mais diversos gostos, como os irmãos Wright – tidos como inventores do avião –, Joana D’Arc, Che Guevara, entre outros tantos, muitos deles em rótulos produzidos em pequena escala por produtores desconhecidos.

Aqui, decidimos elencar 20 rótulos (com tiragens relevantes) que homenageiam personalidades históricas. Confira a seguir.

Nicolau Maquiavel

Famoso pelo livro que definiu o período da Idade Média e Renascença, “O Príncipe”, Niccolò Machiavelli (seu nome em italiano) teve seu sobrenome transformado em adjetivo – maquiavélico. Nascido em Florença em 1469, ele viveu exilado na região de Chianti, mais especificamente na vila de San Casciano in Val di Pesa, onde escreveu sua obra prima. Atualmente, os irmãos Saraceni decidiram comprar o suposto local onde Maquiavel viveu e lá construíram uma vinícola e restaurante. Obviamente, decidiram produzir vinhos, devidamente registrados na DOC Chianti Classico, homenageando o ilustre morador da vila.

Marilyn Monroe

Talvez um dos maiores ícones da cultura popular norte-americana, a atriz Marilyn Monroe causou furor mundial nos anos 1950. Principal sex simbol de sua época, ela foi casada com Joe DiMaggio, um dos heróis do beisebol, além de haver boatos de ter sido amante do presidente John Kennedy. Sua morte prematura, em 1962, por overdose de medicamentos, transformou-a numa lenda. Até hoje, sua imagem é usada (e explorada) comercialmente. Entre os diversos usos autorizados está o licenciamento para rótulos de vinho da Marilyn Wines, cujo mais famoso é o Marylin Merlot e o Norma Jane (seu nome verdadeiro).

Luís XV

A Era dos Luíses foi um período épico para a França, especialmente com Luís XIV (dito Rei Sol) e seu bisneto, Luís XV (O Bem Amado). Este último tinha predileção pelas artes e também pela gastronomia, incluindo os vinhos. Seu reinado, além de ter ficado marcado por seus caprichos em relação a suas famosas amantes (entre elas Pompadour e du Barry), influenciaria a produção em regiões clássicas francesas. Diz-se que uma lei por ele promulgada, proibindo o transporte de Champagne em barris, teria sido a origem do processo de segunda fermentação em garrafa. Então, para homenagear esse rei, a casa de Venoge, fundada em 1837 em Épernay, possui uma Cuvée prestige com seu nome.

Aníbal

Um dos momentos cruciais na história do Império Romano certamente foram as Guerras Púnicas. Aníbal, o general cartaginês, esteve a ponto de invadir Roma e mudar toda a história da humanidade. Grande estrategista, ele ficou famoso por usas elefantes contra o exército romano. Com suas tropas, invadiu a Península Ibérica e atravessou os Alpes com milhares de soldados, mas acabou derrotado por Cipião. Aníbal ainda hoje é cultuado e serve de inspiração. Um dos que usa seu nome é vinícola sul-africana Bouchard Finlayson, para o rótulo Hannibal, um blend de castas francesas e italianas “unidas pelos pés dos elefantes do general de Cartago”.

Ausônio

Décimo Magno Ausônio foi um poeta romano que nasceu na região de Burdigala, na Aquitânia, hoje conhecida como Bordeaux. Ele foi tutor do imperador Graciano, que futuramente o tornou cônsul de Roma. Entre suas posses, acredita-se que Ausônio teria sido proprietário das terras em que hoje está situado o Château Ausone, um dos Premier Grand Cru Classé A, a mais alta classificação de Saint-Émilion. Acredita-se que Ausônio tenha sido um entusiasta do vinho, já que chegou a escrever sobre vitivinicultura em suas inúmeras obras.

Papa Clemente V

Foi durante o papado de Bertrand de Gouth, ou Clemente V, que a Igreja Católica passaria por uma de suas principais crises. Em 1309, ocorreu o Grande Cisma do Ocidente, quando a sede papal seria transferida para Avignon, onde permaneceria até 1377. Clemente, antes de ser eleito papa com apoio do rei Felipe IV da França, foi arcebispo de Bordeaux, onde possuía vinhedos em La Mothe, propriedade na região de Pessac. Após se tornar o líder da igreja, cedeu a propriedade em Bordeaux para seu sucessor, que deu nome ao lugar de Château Pape Clement, em homenagem a seu antigo proprietário.

Winston Churchill

Primeiro ministro inglês durante a II Guerra Mundial, Winston Churchill foi uma das figuras políticas mais relevantes da história do século XX. Apaixonado por charutos, ele também era um grande consumidor de bebidas alcoólicas. Apesar da predileção por uísque, tornou-se fã de Champagne, cunhando até mesmo a frase: “Lembrem-se, senhores, não é apenas pela França que estamos lutando, é pela Champagne”. No pós-guerra, encantou-se por uma marca em especial, Pol Roger, e também por sua embaixadora Odette Pol Roger, com quem cultivou longa amizade. Em 1984, a casa decidiu criar a Cuvée Sir Winston Churchill em sua homenagem.

Charles de Gaulle

Durante a dominação nazista da França na II Guerra Mundial, o principal nome da resistência francesa foi o general Charles de Gaulle. Ele liderou as forças de libertação do país e, mais tarde, tornou-se presidente, instituindo uma nova constituição. De Gaulle é visto como o homem que conseguiu por fim ao caos político na França após a guerra. O general tinha uma casa na vila de Colombey-les-Deux-Églises, na região de Champagne, onde diz-se que costumava receber seus convidados com um espumante da casa Drappier. Atualmente, a Drappier “reedita” o Champagne escolhido pelo estadista usando seu nome e sua imagem no rótulo.

Thomas Jefferson

Antes de se tornar presidente dos Estados Unidos, Thomas Jefferson foi embaixador na França entre 1784 a 1789. Lá, além de presenciar o início da Revolução Francesa, aprendeu a apreciar bons vinhos. Durante sua estada em território francês, além de atuar diplomaticamente, visitou propriedades vinícolas em diversas regiões, tomou notas e mandou enviar para os Estados Unidos vários carregamentos de garrafas de seus rótulos preferidos. Ele chegou a bolar um ranking dos melhores vinhos de Bordeaux. No entanto, apesar da predileção pelos “clarets”, Jefferson também apreciava espumantes, inclusive os Crémant de Limoux. Por isso, Gérard Bertrand, produtor do sul da França, criou a Cuvée Thomas Jefferson.

San Martín

José de San Martín, mais conhecido pela alcunha de El Libertador, é figura central nas guerras de independência hispano-americanas. Graças a suas campanhas militares, Argentina, Chile e Peru conquistaram sua independência. Na Argentina, San Martín foi declarado governado de Cuyo, em Mendoza, e é chamado de “pai da pátria”. Atualmente, a empresa Revolution Wine Company possui uma linha de vinhos inspirados em motivos revolucionários e, um deles é chamado de El Libertador Malbec, dedicado a San Martín.

Leonardo da Vinci

Gênio da Renascença, Leonardo da Vinci foi muito mais do que um simples artista. Ele influenciou gerações com seus trabalhos. Acredita-se ainda que ele tenha sido proprietário de um pequeno vinhedo no centro de Milão (atualmente replantado), recompensa recebida por ter realizado a “Santa Ceia” para seu mecenas, Ludovico Sforza. Vale lembrar ainda que Vinci, onde o artista nasceu, é uma comuna perto de Florença. Lá hoje fica a sede da Cantine Leonardo da Vinci, fundada em 1961 da união de 30 pequenos produtores. Uma série de rótulos das mais diversas denominações toscanas (Chianti, Morellino, Brunello) são produzidos com o nome do pintor, além de ostentar algumas de suas obras.

Richelieu

Os duques de Richelieu exerceram grande influência na política francesa na Era dos Luíses. Um dos mais proeminentes foi o poderoso Cardeal Richelieu, o principal ministro do governo de Luís XIII. Outro foi o Marechal Richelieu, seu sobrinho-neto, amigo íntimo do rei Luís XV. Mas, apesar de ficarem famosos por uma parte apenas de seus nomes, ambos eram duques de Richelieu e Fronsac (comuna na região de Bordeaux). Lá, tanto o cardeal quanto o marechal possuíam terras com vinhedos. Diz-se que o marechal, conhecido por seu hedonismo, apresentou seus vinhos à corte de Versalhes. Hoje, o local abriga o Château Richelieu.

Ludwig van Beethoven

Muitos consideram Beethoven o principal nome da história da música. Ele não só revolucionou a música de sua época como influenciou todas as gerações posteriores até os nossos dias. O gênio morou em Viena, na Áustria, num apartamento no subúrbio da cidade, em Pfarrplatz. Acredita-se que lá em criou algumas de suas principais composições, entre elas a Terceira Sinfonia, chamada de Eroica, e a Nona. Ambas, aliás, serviram de inspiração para a vinícola vienense, Mayer am Pfarrplatz, criar os rótulos Cuvee Eroica e Beethoven No.9.

Wolfgang Amadeus Mozart

Prodígio musical, acredita-se que Mozart tenha começado a escrever sua primeira sinfonia ao oito anos de idade. Desde muito jovem, passou a viajar pela Europa com sua família parando de cidade em cidade para demonstrar seus talentos. Em uma dessas viagens, esteve no norte da Itália, onde teve contato com o vinho Marzemino, que posteriormente citaria em uma de suas mais famosas óperas, Don Giovanni. Não à toa, os produtores do Trento até hoje evocam Mozart para falar de seu vinho tinto mais conhecido, entre eles, a cantina Concilio, que colocou o nome do compositor no rótulo.

Giuseppe Garibaldi

O guerrilheiro Giuseppe Garibaldi é chamado de “herói de dois mundos”, por sua atuação em conflitos na Europa e na América. Ele lutou nas guerras pela unificação italiana em meados do século XIX assim como na Revolução Farroupilha, no Rio Grande do Sul. Em 1900, seu sobrenome foi usado para batizar uma cidade na Serra Gaúcha. Anos mais tarde, a principal cooperativa vinícola do município o homenageou dando seu nome a um de seus principais espumantes.

George Patton

Um dos generais mais importantes da II Guerra Mundial, Patton liderou os principais batalhões do exército norte-americano durante a retomada do território francês. Sob seu comando, cerca de 12 mil cidades e vilarejos europeus foram libertados em menos de dois anos. Um desses locais, retomado em 1944, foi Reims, ponto estratégico para os combates que se seguiram. Lá, Patton montou um quartel general nas adegas da casa de Champagne Comtes de Dampierre. Setenta anos mais tarde, uma Cuvée especial foi criada com o nome do general.

Vasco da Gama

Portugal foi um dos países que se lançou com mais fúria ao mar na Era dos Descobrimentos. Seus navegadores tornaram-se famosos, entre eles, Vasco da Gama, que, em 1497 descobriu o caminho marítimo para a Índia. A viagem de ida e volta durou dois anos e deu início a um intenso comércio entre a Europa e o Oriente. O navegador é considerado herói nacional português e sendo homenageado no maior poema escrito em nossa língua por Luís de Camões, os Lusíadas. Obviamente que seu nome aparece em milhares de locais, de clubes de futebol a universidades, mas também em vinhos. As Caves Arcos do Rei, na Bairrada, dedica uma linha de rótulos ao navegador.

Arquimedes

Um dos mais notáveis matemáticos da antiguidade, Arquimedes criou diversas leis da física, como a do empuxo e da alavanca. Seus trabalhos até hoje influenciam a física, engenharia, astronomia, matemática etc. Nascido em Siracusa, nunca se ouviu dizer que ele tenha tido alguma relação com o vinho. No entanto, atualmente, um rótulo da vinícola Coppola, nos Estados Unidos, leva seu nome. Agostino, avô de Francis Ford Coppola, inspirado pela engenhosidade de Arquimedes, deu este nome ao seu primeiro filho, tio do diretor de cinema. Recentemente, a vinícola deu o nome de Archimedes para seu novo ícone.

Sigmund Freud

Pai da psicanálise, Freud influenciou o mundo com suas teorias. Até hoje, suas ideias são defendidas ou debatidas por terapeutas das mais diversas linhas e vertentes. Ele chegou a propor o uso de drogas, como cocaína, para auxiliar no tratamento terapêutico. Aproveitando essa ideia de terapia, a Therapy Vineyards foi criada em Okanagan Valley, na província de British Columbia, no Canadá. Entre os “vinhos terapêuticos” oferecidos estão o Freud’s Ego, o Pink Freud e o Freudfied.

Calígula

Gaius Julius Caesar Augustus Germanicus, mais conhecido pela alcunha Calígula, foi um dos imperadores romanos mais controversos. Ele ficou conhecido por sua extrema crueldade e também por atos de loucura. Historiadores dizem que ele matava por diversão, mantinha relações incestuosas, além de ter nomeado seu cavalo, Incitatus, para cônsul de Roma. O Domaine Cave La Romaine, do Rhône, decidiu homenagear o imperador assassinado denominando um de seus rótulos da linha Cuvée des Empereurs como Assemblage Rouge Caligula Réserve. A mesma linha possui um Colheita Tardia em homenagem à Cleópatra.

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