Os sonhos dos enófilos

Que vinhos habitam a imaginação dos apaixonados por esta bebida milenar?

por LGB

Fotos: Luna Garcia

Sonhar vale para todos. Valem sonhos dos mais simples aos mais complexos. Valem para qualquer gosto, idade, tamanho e preço. O milionário americano Charles Simony, por exemplo, sonhou viajar no espaço e pagou US$ 25 milhões por duas semanas nas alturas. Por outro lado, a esposa de um dos homens mais ricos do mundo, Warren Buffet, ao ser indagada sobre o que deixava seu marido feliz, respondeu sem hesitar: "Um bom livro e uma lâmpada de 60 watts."

A indústria de bens de consumo vive de gerar sonhos. São inúmeros os exemplos de produtos Ultra Premium que povoam o imaginário das pessoas, como relógios, perfumes, bolsas, sapatos, viagens etc. E, nesta edição de ADEGA, dedicamo-nos a desvendar quais são os vinhos mais desejados do mundo.

E para ilustrar essa paixão, vale um breve paralelo com outra indústria que deixa deslumbrados muitos apaixonados: a automobilística. Todo amante de carros sonha com Ferrari, Bugatti, Porsche, Lotus, Aston Martins e Rolls- Royce. Inegavelmente, em qualquer lugar do mundo o ronco de uma Ferrari chama a atenção e desperta aquela ânsia nos amantes da velocidade. Para os enófilos (os amantes de vinhos), a sensação não é diferente. Qualquer maluco por vinhos delira ao pensar em fermentados como Château Lafite e Château D'Yquem, por exemplo.

Siga o raciocínio. Um Bugatti Veyron custa cerca de 2 milhões de euros, um alto preço para uma paixão. Mas, convenhamos, há bons carros por valores 100 vezes menor. Este critério vale também para os enófilos, que pagam - sem nenhuma dor no coração - R$ 10.000 por uma garrafa. A lógica é a mesma, ou seja, por 100 vezes menos que o preço de um Romanée Conti de safra média, por exemplo, é possível adquirir uma boa garrafa. Por esse valor, R$ 100, existem excelentes produtos que podem propiciar muito prazer a qualquer enófilo.

No entanto, o importante para quem é apaixonado é o objeto de sua paixão. E isso, na maioria dos casos, não tem preço. O que vale, de verdade, é a determinação para realizar seu sonho, seja ele qual for. Cálculos e lógicas à parte, todos os grandes apreciadores e colecionadores de vinhos desejam degustar ou ter em sua adega os ícones da vitivinicultura mundial.

A seguir, vamos elencar quais são os sonhos de consumo de enófilos mundo afora, tanto no quesito tradição e requinte, quanto raridade e novidade. Esses últimos quase sempre são denominados cult wines. Alguns chamam os vinhos muito caros e produzidos em ínfimas quantidades de garage wines. Seja cult, seja garage, o que esses vinhos têm em comum são preços elevadíssimos.

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França - A maioria dos sonhos Romanée Conti com Lula

A França é o grande berço quando o assunto é "vinhos top", ou seja, a maioria dos fermentados mais especiais e caros do mundo é, sem dúvida, da terra de Asterix. O primeiro exemplo é a mística do Romanée Conti. Ele ganhou grande repercussão aqui no Brasil quando o publicitário de Lula, Duda Mendonça, presenteou o presidente, então recém-eleito, com uma garrafa desse monumental vinho, safra 1998. Antes de assumir seu primeiro mandato, Lula, mesmo não sendo grande amante de vinhos, degustou o mais cobiçado fermentado do planeta, sonho dos sonhos de quase todos os enófilos.

Provar esse vinho é uma experiência para poucos. O impressionante é que a procura por ele tem crescido a cada safra. Um fenômeno para deixar qualquer especialista em marketing encafifado, pois nem mesmo o "todo poderoso" Robert Parker conseguiu deixar cair o interesse por ele - mesmo com suas baixíssimas pontuações para a safra 1998. Parker, crítico e especialista em fermentados potentes e à base de Cabernet Sauvignon e Merlot, somente uma vez deu 100 pontos para o Romanée Conti, um Pinot Noir puro da safra 1985. Nem por isso esse vinho deixou de ser a Rolls-Royce do mundo do vinho.

Fotos: Luna Garcia

A sensação é que essa jóia da Borgonha está acima de tudo. Além do 1985, que é unanimidade em termos de procura, as safras mais recentes de 1990, 1996, 1999, 2002, 2004 e 2005 são verdadeiras obras-primas segundo os especialistas. Para se ter uma idéia de preços, é difícil, nos Estados Unidos, achar uma garrafa por menos de US$ 5.000. A última safra lançada no mercado europeu ano passado, a 2005, alcançou preços estratosféricos que chegaram perto dos US$ 15 mil para uma garrafa de 750 mililitros.

Mesmo com esses preços, o mercado brasileiro é importante para o proprietário do Romanée Conti. Ele costuma vir ao Brasil para encontros com seus clientes e com jornalistas. Em meados de 2008, Aubert De Villaine, proprietário da Domaine, veio ao País para visitar algumas cidades e, em um de seus eventos por aqui, brindou com um grupo de jornalistas o lançamento completo de seus vinhos da safra de 2004.

Além do Romanée Conti, Villaine produz outros sete fermentados, sendo três deles - os tintos La Tache e Richebourg, seguidos do branco Montrachet (esse o mais imponente e disputado vinho branco do planeta) -, sem dúvida, parte integrante da lista dos sonhos de muitos enófilos. O La Tache 1996 e o Richebourg 1999 são monumentais e estão no mesmo nível do vinho principal da casa.

Petrus e demissões

Ainda na França, temos mais um sonho, agora da comuna de Pomerol, situada na macrorregião de Bordeaux, o Petrus. Esse vinho, diferentemente de outros bordaleses, como os Château Margaux e Haut-Brion - que são produzidos há mais de 200 anos -, nasceu no final do século XIX. O Petrus (não é Châteaux Petrus, mas, sim, só Petrus) é produzido, quase sempre, a partir de 100% da uva Merlot e tem uma legião de seguidores pelo mundo todo.

Foi em uma vertical (degustação do mesmo vinho de várias safras) que fez com que quatro de cinco executivos ingleses de um grande banco fossem demitidos por causa de um jantar no restaurante de mesmo nome (Petrus), em Londres, após gastarem a bagatela de 45.000 libras esterlinas (mais de R$ 150 mil). Eles, sem qualquer pudor, pediram reembolso do valor ao banco. Só um conseguiu salvar a pele. Sonho vale, mas não como pessoa jurídica. Certo?

Exposições e escândalos à parte, o Petrus está entre os mais intensos e profundos vinhos do planeta. Para se ter uma idéia de sua longevidade, o Petrus 1970, em 2002 quando tivemos a honra de prová-lo, ainda não estava pronto para "beber". Será que está pronto hoje?

Nos leilões, tanto da Sotheby's quanto da Christie's, os Petrus estão sempre entre os mais disputados. As safras de 1921, 1929 e 1945 são jóias raríssimas e restam pouquíssimas garrafas no mundo. As safras mais recentes, como 1982, 1989, 1990, 1995, 1998, 2000, 2003 e 2005, estão entre as mais afamadas e desejadas por enófilos. O preço básico de lançamento da extraordinária safra 2005 superou US$ 5 mil no mercado norte-americano.

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Clos de Vougeot e o Oscar

Ainda em Bordeaux temos alguns cult wines como Le Pin, Ausone, La Mondotte e Pavie como sensações, mas precisam de um pouco mais de tempo para se consolidar e estar ao lado do Petrus. Esses vinhos estão com seus preços superando, e em muito, tradições de Bordeaux tais como Château Mouton e Lafite Rothschild, além dos lendários Château Margaux, Haut- Brion e Latour, que também são sonhos de quase todos os amantes do vinho. Safras antigas desses vinhos, como Château Margaux 1900; Latour 1945, 1961 e 1990; Mouton 1945, 1959 e 1982; Lafite 1982 e 2000; e Haut-Brion 1989, são vendidas em leilões a preços fora de qualquer controle. São verdadeiramente "ouro líquido".

Da Borgonha, temos alguns seguidores dos vinhos da Domaine de la Romanée Conti, como o Richebourg e o Clos de Vougeot, do produtor Méo- Camuzet; o Bonnes Mares da Comté de Vogué; o Romanée Saint Vivant, da Domaine Leroy; o Clos de La Roche, da Domaine Dujac; o Chambertin Clos de Beze Vieilles Vignes, de Dominique Laurent; e o Chambertin de Armand Rousseau, dentre outros.

Vale ressaltar que o Clos de Vougeot é, do ponto de vista artístico, o vinho mais importante do mundo, pois foi ele que acompanhou o prato principal, as "Codornas no Sarcófago", no filme "A Festa de Babete". Um fermentado que deveria ter concorrido ao Oscar por seu papel e importância nesse delicioso longa metragem. Degustar um Clos de Vougeot de um grande produtor é realmente um sonho.

A grande maioria dos "loucos por vinhos", os mais compulsivos, perdem a cabeça com os raríssimos e disputadíssimos vinhos dessa região, pois a Borgonha, com suas micropropriedades, produz quantidades muito pequenas, que fazem valer a lei da oferta e procura. Para se ter uma idéia, o preço de lançamento de vinhos Gran Cru da Borgonha tiveram, em muitos casos, seus preços multiplicados por cinco nos últimos dez anos. Ou seja, 400% de aumento. A vida dos enófilos está ficando cada vez mais difícil, cada vez mais cara...

Champagne também

Ainda na França temos outra paixão inveterada que está na maioria dos sonhos, os champanhes. Beber um champanhe já é um privilégio, seja ele qual for, mas se entrarmos na mente dos sonhadores, todos querem ter a chance de provar um Krug Vintage ou um Salon, ou até mesmo um Krug Collection, esse último tão raro que nem em duas visitas à Maison Krug, em Reims, chegamos perto de uma garrafa. Mas, esse dia ainda vai chegar.

Poucos sabem, mas champanhes non vintage, devem ser consumidos logo que chegam ao mercado. Já os vintages (safrados) de grandes casas podem durar meio século. Nos últimos anos, tivemos safras espetaculares na Champagne como a de 1996, que está entre as melhores de sempre.

Dos Krug Collection, o 1961 e o 1964 estão entre os mais valiosos "vinhos com bolinhas" do mercado e praticamente não têm preço de base. Dos Krug Vintages, o 1988 é o mais grandioso entre todos, pois, além de tudo, tem uma história curiosa. A Maison Krug pela primeira vez em sua vida lançou um Champagne antes de uma safra subsequente, pois a 1989 foi lançada antes da 1988, tamanha a certeza que a casa tinha de estar à frente de um dos champanhes mais longevos de todos os tempos.

Dos Salon, o 1996 é monumental. Tivemos o prazer de degustá-lo em 2007, em Mesnil-Sur-Oger, sede da propriedade. Foi, sem dúvida, o mais impressionante Champagne já degustado. Um sonho realizado. Essa garrafa já é comparada aos fenomenais Salon 1982 e 1990.

Itália - Muito requinte Piemonte, Toscana e Veneto

Na Itália, a briga para ser um Bugatti ou uma Ferrari fica, como na França, focada entre duas regiões. Mas, vamos falar de três. O Piemonte com seus Barolos e Barbarescos e a Toscana com seus Super Toscanos e Brunellos. O outsider dos sonhos, representando a terceira região produtora da Bota, são os grandes Amarones, produzidos nas cercanias de Verona.

Foto: Luna Garcia

O piemontês Angelo Gaja pode ser considerado o peregrino que fez do fermentado italiano um objeto de desejo, mas foi o Sassicaia da Toscana que começou a colocar os italianos no topo do mundo. Foi o Barão Mario Incisa della Rocchetta, também um dos mais importantes criadores de cavalos puro sangue de corrida (nomes como Ribot e Nearco nasceram nas terras do Barão, que era sócio do Mago Federico Tesio - o maior criador de puro sangue inglês de todos os tempos), quem criou esse ícone italiano. Ele deu origem aos Super Toscanos, sucesso pelo mundo, principalmente nas últimas duas décadas.

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Mario Incisa era amigo particular do Barão Philippe de Rothschild, do citado Château Mouton, com quem dividia o sucesso de seus cavalos em meados do século passado. Pois bem, o barão francês influenciou de tal maneira Mario que esse colocou mais ênfase nas uvas "francesas", Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc, plantadas no século XIX em plena Toscana (Bolgheri). Della Rocchetta iniciou produzindo vinhos, na época, para consumo próprio (claro que os amigos degustavam também seu poderoso tinto). O primeiro Sassicaia lançado comercialmente no início da década de 70 foi o 1968.

Já Angelo Gaja, o peregrino italiano, produz uma série de fermentados, mas são seus vinhos de vinhedos únicos: Sori Tildin, Sori San Lorenzo e Costa Russi, que alcançam as maiores pontuações em várias publicações mundiais. O Sori Tildin 1982 é um dos maiores monumentos da Itália que já degustamos. Recentemente degustamos o Sori Tildin 1996, que pode ser considerado o sucessor do 1982. Os Sori San Lorenzo e Tildin 1990 são afamados e desejados por muitos. O Costa Russi 1988 é tão maravilhoso quanto surpreendente. Dos Sassicaias, o 1985 é hoje o vinho mais procurado e caro na Itália. Uma garrafa já chegou a custar mais de US$ 5 mil.

Roberto Voerzio do Piemonte, com seus Barolos, e Gianfranco Soldera da Toscana, com seus extraordinários Brunellos, são talvez as novas sensações de maior destaque nos últimos 15 anos na Itália. Mas, vem do Veneto o mais artesanal de todos os produtores italianos no momento. Trata-se de Giuseppe Quintarelli, um mago que produz o Amarone mais espetacular dentre todos.

Não contente somente com seu Amarone, que, no Brasil, custa quase US$ 900, Quintarelli produz o ícone dos ícones da Itália. O vinho chama-se Alzero e é produzido, quase sempre, em partes iguais de Cabernet Sauvignon e Cabernet Franc. Ele é extraordinário e sua resistência quase infinita. Seus taninos são de uma solidez incrível. Um fermentado que pode evoluir por décadas. Especificamente, provamos o Alzero 1996 quando visitamos o senhor Beppe (como carinhosamente é chamado Quintarelli) em Negrar, na grande Verona. Vinho inesquecível.

Península Ibérica - Todo dia nascem mais sonhos
Espanha

Da Espanha, não há como negar a tradição do Vega Sicília. São dessa propriedade que saem os melhores vinhos do reino de Juan Carlos. A propósito, a propriedade produz três vinhos: o Único, o Valbuena 5º año e o, não safrado, Reserva Especial. Estamos falando de fermentados que têm a uva Tinta del Pais (a Tempranillo na Ribera del Duero) como espinha dorsal. E aqui podemos fazer uma pequena comparação do Único, o top dos Vegas, com o Petrus, pois ao lado deste, talvez estejamos falando dos dois mais longevos vinhos do mundo.

Alguns vinhos na Espanha despontam como ícones, o Cirsion, produzido pela Bodegas Roda na Rioja; o Alvaro Palacios L'Ermita do Priorato; o Abadia Retuerta Pago Garduña de Sardon del Duero; e o caríssimo Pingus da Ribera del Duero. Este último hoje o vinho mais caro da Espanha, superando em muito o próprio Vega Sicília. Recentemente, o Bodegas Hermanos Sastre Pesus, também da Ribera del Duero, tem alcançado preços estratosféricos e já virou sonho de muitos.

Fotos: Luna Garcia

Portugal

Em Portugal, as jóias mais procuradas são os vinhos do Porto. As Casas Taylor's e Fonseca produzem os mais sofisticados, só superadas por uma verdadeira preciosidade chamada Quinta do Noval Nacional. O Porto Noval Nacional 1963 é vendido atualmente em Lisboa por 5 mil euros. O 1931 é o maior de todos os tempos e seu valor hoje é incalculável, pois existem pouquíssimas garrafas ainda disponíveis no mercado. Eles são muito disputados nos leilões internacionais.

Dos vinhos de mesa, a tradição portuguesa vem do Barca Velha, que ficou, nos últimos anos, no anonimato e ainda precisa mostrar o que foi, pois os Barca Velha safras 1964, 1965 e 1966 são, além de excepcionais, muito procurados e cada vez mais raros.

Para enófilos não tão exigentes e que podem gastar quantias menos absurdas, Portugal - mais especificamente o Douro -, tem trazido ao mercado vinhos que, em um curto espaço de tempo, são muito desejados mundo afora. Quinta do Crasto Maria Teresa e Vinha da Ponte, Quinta Vale Meão, Vallado Adelaide, Lemos & Van Zeller Curriculum Vitae e Niepoort Charme, são fermentados que já podem ser considerados sonhos, principalmente para os brasileiros, que têm um carinho especial por vinhos produzidos na terrinha.

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Vinhos doces a preçosestratosféricos

Poucos sabem, mas na Hungria, Áustria e Alemanha, podemos encontrar vinhos doces com preços que chegam ao absurdo. Muitos deles superam os top Sauternes e Sélection de Grains Nobles, respectivamente do sul de Bordeaux e da Alsácia. O número de enófilos desejosos desse tipo de vinho é menor, mas se temos meias garrafas que alcançam mais de mil dólares, podemos concluir facilmente que existem sonhadores por trás desse fenômeno.

Da Hungria, temos o Tokaji Eszencia, um líquido dourado, muito denso, de graduação alcoólica baixa e de doçura encantadora. É sonho de enófilo, sim. Uma pequena garrafa de 200 ml desse néctar dos deuses custa mais de US$ 300, de safra corrente. Os mais antigos são disputados como se fossem diamantes.

Áustria e Alemanha produzem os vinhos chamados Trockenbeerenauslese, produzidos - como os Tokajis -, a partir de uvas 100% atacadas pela "Podridão Nobre" - Botritys Cinérea. Alguns viticultores craques na produção desses vinhos são Joh. Jos. Prüm, Selbach Oster, Egon Muller e Fritz Haag, todos do Mosel (Mosela), Gunderloch, do Reno, e Dr. Burklin Wolf, do Pfalz.

Para se ter uma idéia, o Joh.Jos. Prüm Riesling Trockenbeerenauslese Mosel- Saar-Ruwer Wehlener Sonnenuhr 1971 já alcançou, em leilões, mais de US$ 2.500 por uma meia garrafa. Esse vinho, por exemplo, já com quase 40 anos, ainda tem mais 30 anos de evolução.

Na vizinha Áustria, temos um sem número de grandes produtores, mas um se destaca. O nome da casa é Kracher. Alois Kracher, desaparecido ano passado, produz mais de uma dezena de Trockenbeerenauslese e todos, sem exceção, são sensacionais. Mas, o destaque é o No 6 Scheurebe Trockenbeerenauslese Zwischen Den Seen 2002, um sonho de vinho pela sua encantadora doçura e pela novidade, pois é produzida pela uva Scheurebe, uma especialidade austríaca.

Seus vinhos doces estão no mesmo nível de seus co-irmãos alemães citados acima, de Château D'Yquem, o mais cobiçado doce do planeta, Château Suduiraut, Tokaji Eszencia da Oremus e Domaine Weinbach Gewürztraminer Furstentum Quintessence de Grains Nobles. Esse último, alsaciano, da safra 2001, foi o maior de todos os sonhos doces de enófilo de nossa vida. Vinho inesquecível e quase perfeito.

A África do Sul tem em um vinho doce seu maior ícone e sonho de muitos. Ele tem muita história, pois fazia parte da lista de preferidos de Napoleão Bonaparte. Seu nome é Vin de Constance, do produtor Klein Constantia.

Novo Mundo - Plena ascensão no mundo dos top
América e a águia

No Novo Mundo (e por esse motivo: novo), há menos ícones, mas alguns já com muita pompa e circunstância. A Austrália e os Estados Unidos encabeçam por terem começado primeiro a produzir vinhos muito especiais, raros e caros.

Na América do Norte, o Napa Valley está no topo da lista com os melhores e mais procurados. Screaming Eagle, Harlan State, Dominus (este, de mesma propriedade do Petrus, é conhecido como o Petrus americano), Caymus Special Selection e o badaladíssimo Opus One - fruto da união de Robert Mondavi e o Barão Philippe Rothschild -, estão entre os rótulos mais procurados.

A coqueluche atualmente é o Screaming Eagle, que alcança mais de US$ 5 mil por garrafa, dependendo da safra. Foi com esse vinho que realizamos, recentemente, mais um sonho de enófilo, pois tivemos o prazer de degustar o 2003. Degustamo-lo ao lado do Cheval Blanc 1999, um vinho de estirpe. O cult Screaming Eagle o superou facilmente. Um sonho raro, caro e excepcional.

Austrália também

Da Austrália, temos dois vinhos que disputam o berço de cult dos cults. De um lado, o grandíssimo Grange, do conglomerado Penfolds, que já levou o nome de Hermitage - uma alusão aos seus irmãos do Rhône na França -; e o Hill of Grace Shiraz, da família Henschke. São dois dos fermentados mais robustos e encorpados do mundo. Exemplos como o Grange 1990 e o Hill of Grace 1996, que valem hoje mais de US$ 2 mil, também fazem parte constante do sonho de muitos loucos por vinhos.

Fotos: Luna Garcia

Chile e "o melhor do ano"

Pois bem, todos os países buscam produzir seus objetos de desejo. O Chile tem, atualmente, Almaviva, Carmin de Peumo, Clos Apalta, e Cia. Este último foi consagrado em dezembro de 2008 como o primeiro vinho da América do Sul a receber o laurel de "Wine of the Year" da Wine Spectator. O fermentado já era especial e, com esse reconhecimento, tornou-se ainda mais desejado, principalmente por brasileiros que adoram (e degustam muito) produtos chilenos.

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Argentina e os novos ícones

A Argentina começou tarde na produção de vinhos high end, mas já tem o Noemia, um Malbec 100% da Patagônia, que custa quase R$ 500. Além do Ícono, de Luigi Bosca; do Magdalena, de Pascual Toso, e do Nicolas Catena Zapata. Esse último um dos fermentados mais colecionáveis de nosso continente, pela longevidade, estrutura e intensidade.

O Nicolas Catena Zapata 1999, que hoje não tem preço de mercado (já está esgotado há muitos anos), é o mais imponente, complexo e especial vinho que provamos da América do Sul. Em recente degustação às cegas com outros seis fermentados à base de Cabernet Sauvignon ao redor do mundo, ele provou que é mesmo "dos sonhos", pois superou produtos como Château Ducru Beaucaillou 1995, Penfolds Bin 707 1998 e Almaviva 2001, entre outros. Um resultado surpreendente em todos os sentidos, mas provando que o Novo Mundo tem vinhos que estão no topo entre os melhores do mundo.

Um brinde a todos os que produzem vinhos que inspiram os amantes dessa nobre bebida, a mais elegante e fantástica dentre todas. E que nossos sonhos continuem vivos por muito tempo, sejam eles quais forem.

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