Personagens chave do vinho argentino e chileno

por Patricio Tapia

Como em todas as coisas da vida, no vinho também sucede: enquanto a maioria vai em uma direção, outros optam por ir para o sentido oposto. Essas são algumas das mentes do vinho na Argentina e no Chile que estão mudando o cenário enológico da América do Sul.

Argentina

Sebastián Zuccardi

Bodega Zuccardi

Herdeiro dessa importantíssima vinícola argentina, na zona de Maipú, Sebástian Zuccardi tem a energia da juventude, mas também ideias claras sobre o que deve ser um vinho. Hoje está no comando da parte de enologia da vinícola e, de lá, vem dando ênfase especial no lado vitícola, expandindo os vinhedos da Zuccardi até os pés dos Andes, no Vale de Uco. Seus vinhedos em Altamira mudaram a cara dos vinhos da Zuccardi, assim como o intenso trabalho exploratório desse terroir andino.

Matías Michelini

Zorzal, Passionate Wines

Provavelmente um dos enólogos mais criativos da América do Sul, Michelini - junto a seus irmãos Juan Pablo e Gerardo - faz os vinhos da vinícola Zorzal. Entre os muito bons tintos que nascem ali estão os Malbec e Pinot Noir, que são simples e diretos em sua fruta. Paralelo a Zorzal, Michelini tem seu próprio projeto: Passionate Wines. Ali ele solta sua loucura, fazendo co-fermentações, vinhos extremos (Hulk, um Semillón que se assemelha aos de Hunter, é um deles) e também brancos e tintos muito fáceis de beber. Seu lema é o frescor, que começa por uma colheita mais adiantada. Entre seus colegas, é conhecido como "o verde" Michelini, precisamente por essa ideia de colher as uvas antes.

Alejandro Vigil

Catena

Aleanna

Vigil é um dos enólogos mais apaixonados do mundo. Mas essa paixão não se vê apenas em sua imensa capacidade de trabalho, mas também em sua constante experimentação. Tentativa e erro são seus lemas, sua forma de ver a enologia. Como enólogo chefe da Catena, tem a seu cargo alguns dos mais emblemáticos Malbec da era moderna argentina: Adrianna, em Gualtallary, e Angélica, em Lunlunta. Também há impressionantes Chardonnay, como a nova (e muito limitada em questão de volume) linha de White Bonés e White Stones, dois brancos imprescindíveis para se entender a influência dos ventos da Cordilheira e o solo de cal nos vinhos brancos dessa parte do mundo. Ambos parecem ter sido feitos de pedras. E, claro, também há o El Enemigo, um tinto da vinícola Aleanna, que faz tributo a Malbec e ao Cabernet Franc de Gualtallary, a zona de maior altitude do Vale de Uco.

Hans Vinding Diers

Chacra

Noemia

Quando o sul-africano de nascimento (dinamarquês de nacionalidade) Hans Vinding-Diers pôs os pés em Rio Negro, e 1998, ninguém poderia adivinhar que esse tipo meio hippie iria mudar a cara dos vinhos da Patagônia. Hoje, quinze anos mais tarde, Vinding-Diers está no comando de duas vinícolas fundamentais para o vinho argentino. A primeira é Noêmia, tocada junto a sua esposa, a condessa Noemi Marone Cinzano. Malbec de vinhas velhas é a matéria prima para um trio de tintos superlativos. A segunda é Chacra, propriedade do italiano Piero Incisa. Aqui a diferença está também nas vinhas velhas, mas nesse caso de Pinot Noir. Chacra Treinta y Dos é um desses Pinot Noir difíceis, muito difíceis de encontrar em solo sul-americano.

Carmelo Patti

Bodega Carmelo Patti

Enquanto a maioria busca concentração e supermaturação, quantidades de madeira nova em vinhos que impactam no primeiro gole, o caminho de Carmelo Patti é outro, muito distinto. Seu trabalho quase obsessivo com o Malbec e o Cabernet Sauvignon se foca na delicadeza, na sutileza de vinhos para guarda. Os anos dão razão a Patti, pois a complexidade é o que realmente está por trás de seu intenso e minucioso trabalho. Se não provou os vinhos de Carmelo Patti, essa é a hora de fazê-lo. Na perca uma parte central da história moderna dos vinhos argentinos. 

Chile

Pablo Morandé

Bodegas Re

Pablo Morandé é uma das lendas do vinho chileno. E já entrou nos livros de história por ser o primeiro a ousar plantar no Vale de Casablanca, o que acabou convertendo-se em um dos pontos decisivos para o vinho do Chile. No ano passado, começou um novo projeto, Bodegas Re, em que Morandé - junto a sua família - deixa correr sua criatividade produzindo vinhos totalmente não usuais para o meio latino-americano: um branco ao estilo dos vinhos amarelos do Jurá , um tinto em ânforas de cem anos ou uma mescla de Pinot e Chardonnay que mais parece um espumante sem borbulhas, mas com o frescor e intensidade dos melhores. Bodegas Re é atualmente um dos projetos mais originais do continente.

Marcelo Retamal

De Martino

Marcelo Retamal está a caminho de cumprir 20 anos como enólogo da Viña De Martino, um tempo admirável no contexto da sempre presente mobilidade laboral dos enólogos no Chile. Nesse largo período, Retamal pode aprender com seus vinhedos e também teve a liberdade para ir mais longe. Hoje, sua coleção de Single Vineyards abraça vinhas velhas em zonas esquecidas do Chile e seu Viejas Tinajas chama a atenção para a Muscat e Cinsault, variedades pelas quais ninguém se interessava, até que apareceram estes deliciosos vinhos, feitos em velhas ânforas de barro. Mas o inquieto e iconoclasta Retamal não se deteve lá. Renunciou a barrica nova (um agente estandardizador, segundo suas palavras) e só usa fudres (recipientes de grande capacidade) para elaborar seus tintos. Hoje, vale a pena o esclarecimento, os vinhos De Martino são melhores que nunca.

Louis Antoine Luyt

Bodega Louis Antoine Luyt

Há poucos trabalhos tão esforçados e de tanto pulso quanto o de Louis Antonie Luyt no Vale do Maule, ao sul de Santiago. E não é um trabalho convencional. Luyt descobriu que as velhas e esquecidas vinhas da cepa País (a que os conquistadores trouxeram para a América) poderiam ser fonte de bons vinhos, e o comprovou com o País de Quenehuao 2010, feito em colaboração com o já falecido Marcel Lapierre (personagem chave em Beaujolais) e cujo resultado foi um profundo alarme no cenário chileno. Logo vieram outros vinhos, alguns excelentes Carignan e outros País, de diferentes vinhedos, comprovando que o trabalho de Luyt para resgatar a cepa não foi em vão.

Pedro Parra

Clos de Fous

Aristos

Pedro Parra é um estudioso do terroir e o título de doutor em "terroir viticole" de Paris, o certifica como expert no assunto. Seu conhecimento sobre solos o fez participar de inumeráveis projetos na Argentina e no Chile, mudando muitas vezes a maneira como o proprietário da vinícola ou o enólogo encaram a tarefa de produzir vinhos. Mas faltava a Parra entrar na enologia, e hoje faz isso. Clos de Fous é um projeto de vinhos simples e frutados, enquanto Aristos é muito mais ambicioso. Seu Chardonnay é um dos melhores da América do Sul.

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