“Comprei um espumante numa loja online e, quando chegou, ele tinha tampa de metal. Quando abri, estava turvo. Questionei o vendedor e ele disse que era assim mesmo, que é um estilo. Era para ser turvo mesmo?”, indaga a leitora Lívia Ulisses
Redação Publicado em 07/05/2022, às 08h00
A moda é relativamente recente, mas a história dos espumantes turvos, ou mais tecnicamente falando "sur lie", é bem antiga.
Na verdade, muito antes de surgirem esses líquidos quase transparentes com borbulhas efervescentes com os quais nos acostumamos, a origem do espumantes é bastante “turva”. Mas antes de explicar isso, é preciso explicar de onde vêm as bolhas.
Pois bem, vinhos feitos pelo chamado método tradicional ou Champenoise (pois foi desenvolvido em Champagne) se tornam espumantes após a segunda fermentação, que, neste caso, ocorre dentro da garrafa.
Retomando: a primeira fermentação é que transforma o mosto da uva em vinho. A segunda é a que vai gerar as borbulhas. Para isso, a forma mais tradicional (daí o nome) é colocar o vinho na garrafa e acrescentar leveduras. Elas farão o vinho fermentar novamente e, como ele está na garrafa, o gás carbônico liberado no processo fica preso dentro do líquido. E as bolhas nascem assim que o líquido entra em contato com o ar.
Mas, após a fermentação, as leveduras morrem e também ficam “presas” na garrafa. E por isso é provável que os primeiros espumantes fossem bastante turvos. Pois o processo de tirar a levedura morta (chamado dégorgement) só foi desenvolvido posteriormente (um dos inventores da técnica mais usada até hoje – que é através do congelamento do gargalo – foi Armand Walfard, em 1881). Com o tempo e técnicas cada vez mais apuradas para remover os sedimentos indesejáveis, os espumantes ficaram “limpinhos”.
Há alguns anos, contudo, produtores – muitos brasileiros, por sinal – passaram a deixar as leveduras dentro das garrafas e vendê-las dessa forma.
Preguiça? Não. A ideia é que esse contato mais intenso e esse tempo mais longo de descanso sobre as leveduras (ou sur lie – algo bastante comum em grandes espumantes) dê mais complexidade e, ao mesmo tempo, mantenha o frescor da bebida.
Contudo, no caso dos vinhos sur lie, em que não há o dégorgement, as leveduras tendem a turvar o líquido. Tanto que os produtores costumam indicar aos consumidores para que mantenham a garrafa em pé por um bom tempo antes de abrir, fazendo com que as leveduras assentem no fundo e não tornem a bebida tão turva. Não tem problema beber leveduras mortas? Não, quanto a isso, fique tranquilo.