O Château La Tour Carnet está implantando um projeto para simular o nível de calor ao qual os seus vinhedos estarão expostos em 2050
Silvia Mascella Rosa Publicado em 09/03/2022, às 16h00
Mapa mostra o vinhedo com as diversas castas que serão testadas
A realidade do aquecimento global é particularmente preocupante em regiões produtoras de uvas para vinhos de elegância e sutileza consagradas, como a região de Bordeaux. As vinícolas podem pouco para diminuir as causas que estão levando à mudança climática, mas - assim mesmo - precisam entender o impacto disso em seus vinhedos e vinhos.
O Château La Tour Carnet, um dos quatro Grand Cru Classé de propriedade de Bernard Magrez em Bordeaux, está implantando um projeto que pretende simular o nível de calor ao qual os seus vinhedos estarão expostos em 2050. Parece distante, mas para vinhos que podem envelhecer por décadas e para vinícolas centenárias, 2050 é logo ali!
O projeto, chamado Oracle quer entender o impacto e a possível adaptação das cepas tradicionais de Bordeaux (especialmente a Cabernet Sauvignon e a Merlot, entre outras) `as mudanças climáticas. Para isso, uma parte selecionada do vinhedo está recebendo neste ano cabos subterrâneos que se aquecem (como os utilizados em aviões) e esse aquecimento alterará o crescimento das videiras, simulando a elevação da temperatura ambiente.
Julian Lecourt, chefe de pesquisa e desenvolvimento da vinícola afirmou, em entrevista para a revista Decanter, que esse aquecimento vai alterar o ciclo da planta e modificar o momento da colheita, mesmo que existam outros fatores que possam causar impacto nas plantações quando o clima ficar mais extremo: "Os modelos que calculamos até agora nos dão a entender que teremos a colheita de 15 dias a três semanas mais adiantadas do que temos agora", revelou o pesquisador.
Para além do campo, o objetivo do estudo dentro da vinícola é, através de microvinificações das variedades submetidas ao aquecimento, perceber se o estilo de um Bordeaux tradicional permanece em diferentes condições: "É importante para nós checarmos se as variedades emblemáticas que compõe o blend de Bordeaux estão ameaçadas ou não", disse Lecourt.
O objetivo da empresa, a longo prazo, é produzir vinhos no estilo Grand Cru de cada uma das variedades que possuem no vinhedo experimental, para testá-las e saber, de antemão, quais as que resistirão e quais terão de ser abandonadas quando as condições climáticas mudarem drasticamente.
Segundo o pesquisador, o proprietário da empresa - Bernard Magrez - está pensando na continuidade da produção que será herdada pelas próximas gerações, assim ele deu apenas uma missão para a equipe: "Façam funcionar!".
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