Mal vista na França, a Malbec fez fama e ganhou espaço com os argentinos
Carolina Almeida Publicado em 22/08/2019, às 13h00
Quando falamos em Malbec, o país que vem à cabeça é a Argentina, mas isso não passa de um mal entendido (que será explicado a seguir). A verdade é que a uva é originária de Bordeaux e, na França, sua casa mais popular e tradicional é a cidade de Cahors, onde é conhecida como Auxerrois ou Côt Noir (este nome é usado mais no oeste francês). Durante muito tempo, a Malbec foi plantada na França, mas, depois da filoxera, ela passou a ser vista como uma casta frágil em relação as demais. Em 1956, logo após uma geada histórica atingir todo o país e devastar cerca de 75% das plantações, os produtores viram uma boa oportunidade para substitui-la.
No lugar da Malbec foram plantadas vinhas de Merlot, que é menos suscetível a doenças e a coulure (praga comum em épocas chuvosas, que impede a uva de brotar) e tem uma safra mais regular. Em Cahors, no entanto, ela ainda hoje é amplamente usada na produção dos vinhos, que devem ter, no mínimo, 70% de Malbec. Nas demais regiões do país, é plantada em baixíssima escala e não passa dos 10 ou 15% do total de hectares plantados em cada local – em Bordeaux, ela tem papel secundário no chamado corte bordalês, que dá prioridade a variedades como Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Petit Verdot.
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Jogada para escanteio na França, a Malbec encontrou condições ideais de crescimento na Argentina, onde hoje é o carro chefe dos vinhos (especialmente os ícones) e foi uma das principais responsáveis por alavancar a indústria no país. Ela chegou à Argentina em 1868, através do agrônomo francês Michel Pouget, que foi contratado para iniciar um programa de melhoria nos vinhedos de Mendoza. Ele levou consigo, além da Malbec, algumas outras castas francesas, que não se adaptaram bem ao terroir mendocino e logo foram descartadas.
No início, a Malbec era constantemente refugada por não ser tão produtiva como outras castas plantadas ali. Mas, com o passar das décadas e a consequente evolução do gosto do consumidor, a uva saltou aos olhos de diversos experts internacionais e caiu nas graças do país. Na Argentina, ela ganhou características distintas da uva plantada em Cahors e mais “mobilidade”, produzindo desde vinhos mais simples até os de boa complexidade.
A Malbec é uma uva tinta de taninos bastante fortes (harmoniza extremamente bem com o famoso churrasco argentino), casca grossa e que, quando cultivada em clima quente e seco, produz um vinho de cor violeta escuro, quase negro, com notas de frutas vermelhas como ameixa e amora. Dependendo do local em que foi cultivada, assume uma característica. Enquanto o vinho francês é um tanto quanto tânico e ácido, com notas de tabaco, baunilha e violetas, o argentino, em geral, possui taninos doces e macios, toques mais suaves, suculentos e aromáticos e de acidez mais baixa.
No Novo Mundo a casta faz sucesso e é a segunda uva tinta mais plantada da Argentina – usada, inclusive na produção de vinhos 100% varietais – e a terceira no vizinho Chile, onde está se adaptando muito bem. Fora os países latinos, a Malbec também começa a fazer história em vinhedos do sul da Austrália e da Nova Zelândia.
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