A Tannat se tornou símbolo (e sinônimo) da vitivinicultura uruguaia, mas nosso vizinho tem muito mais para apresentar, especialmente os vinhos brancos
Daniel Arraspide Publicado em 07/03/2019, às 15h00 - Atualizado em 18/03/2019, às 14h09
Brancos jovens, alguns espumantes, e até rótulos de guarda surgem próximos ao gado que pasta em verdes pradarias. Em torno de vinhedos saturados com a casta Tannat – vinho que harmoniza perfeitamente com as carnes uruguaias – começam a despontar outras uvas, as brancas, que ganham espaço na plantação, na vinícola e na mesa do consumidor.
Há 15 anos, pensar em beber vinho branco no Uruguai acompanhando comida significava, sem dúvida, pensar em vinho importado. A oferta escassa, a qualidade discutível e a falta de costume de comprar rótulos nacionais faziam com que fosse quase certo que o consumidor uruguaio tenderia a procurar por um branco chileno – ou europeu, se seu bolso o permitisse – na maioria das vezes.
Para a sorte dos viticultores e consumidores, essa realidade tem mudado. Infelizmente, não tão rápido como no caso dos tintos, vinhos que, em geral, também evoluíram em termos de qualidade, mas, independentemente disso, sempre foram consumidos devido à dieta uruguaia, baseada em grande quantidade de carne vermelha.
Com os vinhos brancos a história é outra. As vinícolas tiveram que investir fortemente em tecnologia (equipamentos de resfriamento, aço inoxidável, filtros, linhas de engarrafamento mais modernas, rolhas screw cap etc), além dos vinhedos, nos quais elas têm contado, inclusive, com assessoria de especialistas internacionais. Apenas para nomear alguém, não podemos esquecer o grande aporte que o neozelandês Dunkan Killiner fez com o cultivo de Sauvignon Blanc nesse canto do mundo.
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Mas, como são hoje em dia os brancos uruguaios? Boa variedade de estilos, tipos de vinificação, e boa diversidade de cepas permitem levar à mesa rótulos que antes não existiam acompanhados de pratos ligeiramente a medianamente encorpados.
Desde o fresco, herbáceo e cítrico Sauvignon Blanc – um vinho que no Uruguai promete e que já conta com muitos seguidores – até os mais clássicos Chardonnays – às vezes fermentados em barricas, a elegância e finesse são denominadores comuns nesses brancos saborosos e muitas vezes versáteis nas harmonizações.
Porém não apenas tipos clássicos dão o que falar atualmente. Também exclusividades como o Torrontés e o Albariño agradam consumidores locais e do mundo todo, que ávidos por provarem novos sabores, uma vez os aprovem, acabam maravilhados com esses brancos diferentes e intrigantes, incorporando esses vinhos a seus rótulos do dia-a-dia.
Condições geoclimáticas, especialmente no sul do país, fazem com que a região reúna fatores imprescindíveis para se obter bons brancos
Outro capítulo merecem os espumantes, ainda escassos se considerarmos apenas os que conseguiram alcançar um nível de qualidade que os coloque entre os melhores do mundo. Mesmo assim, o país conta com alguns poucos excelentemente bem elaborados e que demonstram que no Uruguai também se pode alcançar um verdadeiro champenoise quando assim se propõe.
Agora, se há algo que realmente chama a atenção, é que nem sempre um vinho expressa o seu melhor quando jovem. Depende, claro, do estilo, da forma como é elaborado, e da forma como é conservado. Aspectos que todo bom enófilo leva em conta. Já sobre a gastronomia que acompanha esses líquidos, ainda que aquela regra que diz que “vinho branco acompanha carne branca, peixes e frutos do mar” deva ser respeitada, nem sempre são essas as melhores opções para esses vinhos modernos, que acompanham uma variedade maior de pratos, permitindo um prazeroso desfrute durante a refeição.
Qual é o motivo pelo qual o Uruguai apresenta tanta aptidão para a produção de vinhos brancos? Uma simples resposta explica esta questão: as condições geoclimáticas contribuem para que o terroir – especialmente no sul do Uruguai – reúna os fatores imprescindíveis para se obter vinhos brancos elegantes.
Temperaturas moderadas que são influenciadas diretamente por grandes massas de água – como é o caso do Rio da Prata – com influência marítima e grande amplitude térmica, somadas ao fato de que na temporada de colheita é comum que nesta região do país chova mais do que o necessário. Todas essas características fazem com que variedades com ciclo de maturação curto (como é o caso da Sauvignon Blanc, por exemplo) se beneficiem e acabem oferecendo o frescor, a acidez e as notas cítricas tão buscadas nesse estilo de vinho.
Vinhos brancos que, diferentemente dos produzidos pela Argentina e Chile – dois países onde a vitivinicultura é praticada em clima semi-desértico –, se expressam com grande potencial de fruta fresca, sem dar lugar a notas de fruta cozida e sobrematuração que, às vezes, conspiram contra a tipicidade varietal.
Para terminar, experimente rótulos uruguaios, harmonize-os a seu gosto, quebre paradigmas, abra sua cabeça. Temos certeza de que não se arrependerá. E lembre-se que seu país vizinho, o Uruguai, não vive apenas de Tannat.