Programa utiliza uma base de dados com mais de 125 mil resenhas e as fichas técnicas dos vinhos para criar suas percepções
Silvia Mascella Rosa Publicado em 10/05/2022, às 04h15
Uma vez que os jovens hoje utilizam a palavra "resenha" para falar de uma saída, um passeio, até uma festa, a palavra em si, no sentido original, pode estar com os dias (humanos) contados.
No mundo do jornalismo, uma resenha é uma análise crítica de um objeto específico, seja de área de cultura (uma peça de teatro, um filme, uma obra de arte) ou da área de alimentos, bebidas e turismo (restaurantes, um prato, um vinho, cerveja, um hotel ou atração turística).
Para ADEGA, as pessoas que fazem as resenhas de nossos vinhos, sob a liderança do experiente editor Eduardo Milan, são dedicadas na degustação técnica e muito estudiosas de vinhos, uvas e terroirs de todo o mundo. Para que exista uma maneira de identificar os vinhos em qualquer lugar do mundo, há uma linguagem “enocrítica” (vinda da análise sensorial) que é comum a todos os que degustam e escrevem sobre vinhos. Frutas vermelhas, por exemplo, são um descritor de aromas ou de paladar aqui, no Canadá ou na China.
Mas é precisamente essa linguagem em comum que pode colocar os degustadores profissionais numa posição, no mínimo, inusitada. Acaba de ser publicado um estudo na revista Scientifc American, conduzido por pesquisadores do Dartmouth College (EUA), que criaram uma Inteligência Artificial capaz de escrever resenhas sobre vinhos.
Os pesquisadores utilizaram por volta de 125 mil resenhas publicadas numa famosa revista americana especializada em vinhos para treinar o programa e mostrar como as críticas de vinhos costumam ser escritas. A Inteligência Artificial utilizou essas resenhas, junto das fichas técnicas fornecidas pelas vinícolas e começou a gerar seus próprios textos.
"As pessoas falam do vinho da mesma maneira, utilizando o mesmo conjunto de palavras, é um conjunto de informações único para um processador", disse Keith Carlson, engenheiro de computação de Dartmouth. E a Inteligência Artificial se provou bem eficiente em escrever as críticas, quase tão boa como seus pares humanos. Um grupo de pessoas foi convidado a ler 300 resenhas de vinhos, sendo que uma era escrita por uma pessoa e outra pelo computador e foi perguntado para eles qual era qual. A maior parte do tempo as pessoas não puderam detectar a diferença.
Felizmente, pelo menos por algum tempo ainda, os degustadores de ADEGA têm espaço garantido. O professor assistente de administração e negócios da Dartmouth Tuch Escola de Negócios, Prasad Vana, disse que essa inteligência artificial vai ajudar a criar base de dados e facilitar a vida de quem precisa escrever muito e de consumidores que precisam escolher entre muita informação. "Isso também vai beneficiar restaurantes e vendedores online que não podem pagar para ter um sommelier", afirmou Prasad.