Com origem provável na Guatemala, o charuto conquistou os paladares mais refinados do mundo. Atualmente encerra com chave de ouro um banquete gourmet
por Paulo Rogério Bueno
A origem exata dos charutos, como a do vinho, é envolta em lendas e mistérios. Assim como Dionísio presenteou os homens com um néctar divino, alguém nos trouxe, dos reinos celestes, o primeiro charuto. Não se sabe quem foi o felizardo que o provou pela primeira vez. Mas há indícios da região em que foram dadas as primeiras baforadas. Uma peça de cerâmica do século X, descoberta na Guatemala, retrata um maia degustando um rolo de folhas amarradas com um tipo de barbante. Notou a semelhança.
O hábito de fumar transcende os séculos. Sua documentação coincide com a descoberta do continente americano. A aristocracia européia, apreciadora de diversos prazeres, teve o privilégio de desfrutar do tabaco em várias fases. Originalmente o tabaco foi difundido como folhas enroladas para serem fumadas. Outra versão era o rapé, inalado por seus apreciadores. Essa maneira de se fumar tornou-se moda, atingindo até as classes menos abastadas. Daí, derivou-se o cachimbo. Um estágio posterior de se apreciar o tabaco surgiu entre os indigentes de Sevilha, na Espanha, que usavam as sobras de charutos. Eles os abriam, picavam as folhas e enrolavam em papel. Essa é a versão mais aceita para a criação do cigarro.
Não se pode negar que o tabaco sempre foi um sinal de luxo e riqueza. Com o aumento de apreciadores ao redor do mundo, e a descoberta de terras, climas e, principalmente, o avanço tecnológico, a produção de charutos premium foi alavancada. Isso inclui um de seus melhores terroirs, o Brasil. As questões que se impõem são: qual, quando e por que fumar um charuto? Na Era da Informação, todos adquirem conhecimentos e podem aprimorar seu senso crítico. Um bom exemplo é a diversidade de alimentos e bebidas, que há 20 anos não se existia, principalmente em nosso país.
O prazer de apreciar um prato de um chef criativo, harmonizado com um vinho espetacular, não é mais privilégio de poucos endinheirados, mas de pessoas bem informadas. Os charutos entram nessa categoria. Para muitos gourmets, a harmonização de uma refeição com vinho não termina sem um brandy combinado com um charuto, diretamente relacionado com a seqüência servida desde a primeira entrada até a sobremesa. Ele fecha com chave de ouro o ritual. Mais interessante é poder descobrir novos formatos, marcas e nuances de notas e sabores, que com o tempo e boas informações ficam perceptíveis, aprimorando o hábito de fumar.
Bons restaurantes já possuem espaços especiais para os apreciadores. Se isso não ocorre, é possível degustar charutos nos fumoirs de diversos locais de comercialização. A degustação de um charuto demanda algum tempo (no mínimo 30 minutos). Assim como a degustação de um bom vinho, a de charutos também exige tempo e dedicação. Conhecimento, sabedoria e prazer, definitivamente, estão entrelaçados nessa arte, a arte de degustar um presente dos céus.