Um passeio pela ilha dos melhores habanos
por Paulo Rogério Bueno
Plantio de tabaco em Pinnar del Rio |
Uma viagem para Cuba já estava programada há mais ou menos três meses, com datas variáveis, mas nada depois do dia vinte de fevereiro. A intenção era estar em Cuba dias antes do festival de Habanos, o grande festival que acontece todos os anos, onde o assunto são os “puros” em suas diversas dimensões - mercado, tendências, jantares, coquetéis e personalidades de todo o mundo.
Por já ter estado em um dos festivais há alguns anos, optei por anteceder ao evento a convite de Don Manuel Garcial (vice-presidente da Habanos S.A.) e Enrique Babot (diretor de marketing da Habanos S.A), a fim de poder conversar com mais calma com as personalidades do mundo dos “puros” e conseguir visitar as fábricas sem o tumulto natural do evento.
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A nossa saída do Brasil foi o dia 15 de Fevereiro de 2008 com chegada marcada para o dia 16 às 14h em Habana. Meus acompanhantes eram Roberta, minha esposa e Jorge Damião amigo e frequentador de Cuba, que estava em sua sexta viagem a capital dos “puros”.
Manoel López, um verdadeiro gentleman nos tutelou nas visitas às três grandes fábricas de Cuba: Partagás, H. Upmann e Cohiba (Laguitos) - a tão cobiçada visita para todo e qualquer apreciadora de charutos - a mais bela e famosa fábrica de charutos do mundo.
Logo na primeira noite fomos à “Habana Vieja”, visitar os tradicionais bares La Bodeguita del Medio e La Floridita, bastante conhecidos por seu Morrito e Daiquiri, e imortalizados por seu maior cliente, o escritor Ernest Hemingway.
No dia seguinte, nos dirigimos a Pinar del Rio - cidade a 160 quilômetros de Habana - região onde se encontram as melhores e maiores plantações de tabaco de Cuba, principalmente para capas (Partido, Semi Vuelta e Vuelta Abajo). Nosso destino era um almoço com Don Alejandro Robaina em sua fazenda, que acabou se extendendo para horas e horas de agradável convivência.
Pártagas: a maior fábrica de puros de Cuba |
Don Alejandro, como é chamado, é uma lenda viva dos puros, responsável pelos charutos fumados por Fidel Castro por anos a fio. Como reconhecimento, uma marca de charutos da Habanos S.A leva seu nome - Vegas Robaina.
No dia 18, quando visitamos a maior fábrica de puros da ilha - a Partagás - recebemos a notícia de uma suposta renúncia “del Comandante em Jefe”. Contada quase em sussurro, a notícia foi uma bomba, e as perguntas em minha cabeça eram: Como ficará Cuba sem Fidel? E mais, como ficarão os puros e sua política sem o Comandante?
No dia seguinte, ás 6 horas da manhã aguardávamos ansiosos pelo jornal “O Granma”. Às 8 horas, entre um suco de laranja e um café com leite, tudo se confirmou. Na primeira página, assinada de próprio punho estava sua renúncia, com a indicação de seu irmão Raul, até então ministro das FAR (Forças Armadas Revolucionárias) para sucedê-lo. Para Enrique - gerente da loja de fábrica Partagás - as coisas continuarão as mesmas, e os puros cada vez melhores, na medida do possível. A opinião popular em geral foi a mesma, “nada se cambia”.
Politicamente a ilha não manifestou grande atribulação, as eleições da Assembléia Nacional e o Conselho de Estado estavam marcadas para o dia 24 de Fevereiro, com 614 deputados representando a “vontade soberana de todo o povo”. O esperado ocorreu, e a posse de Raul Castro se confirmou.
Se por um lado politicamente nossos “puros” estão à salvo, comercialmente falando a oferta é infinitamente menor que a procura. Cuba não está conseguindo produzir a quantidade suficiente de charutos que o mundo pede. O crescimento mundial dos apreciadores e o aumento da cultura a respeito de charutos aumentou o consumo em números astronômicos.
Na décima edição do festival dos Habanos, Don Manuel Garcia, divulgou os resultados comerciais de 2007 da Habanos S.A. A cifra global de negócios alcançou US$400 milhões.
Seleção de cores de capa |
A venda de Habanos em todo o mundo cresceu 11% e Habanos S.A manteve sua posição de liderança com 85% do mercado em valores nos charutos Premium.
Os principais mercados em vendas têm sido Espanha, França, Alemanha, Líbano, Suíça e Cuba. A América Latina vem na quarta posição por região, com pouco mais de 10%, e mostrando um potencial enorme aos olhos da companhia.
Por marcas, Cohiba, segue em primeiro lugar com 25% de volume financeiro, enquanto Monte Cristo ostenta a liderança por vendas de unidades. Em novembro e dezembro, Cuba sofreu chuvas torrencias e eram esperados problemas na safra de 2008, com atraso de mais de 20 dias no cronograma e mais de 39.000 canteiros de plantil encharcados. Don Alejandro afirmou na época, que seria uma das melhores colheitas de Cuba. Dito e feito: safra recorde nos últimos 20 anos, e Don Alejandro presenteou Roberta com um jornal de janeiro que dizia: “Don Alejandro acerta mais uma vez!”
Mas mesmo com safra recorde e aumento significativo da tecnologia de agricultura do tabaco, o aumento de consumo do “puros” é uma situção de atenção para Habanos S.A – que graças à demanda vem produzindo edições limitadas, com valores até quatro vezes superiores aos tradicionais.
Os terroirs ideais para o tabaco em Cuba já se encontram muito ocupados. Não podendo basear o crescimento de produção no incremento de área plantada, o foco está sendo o desenvolvimento tecnológico para obter safras maiores e mais rentáveis.
A maior preocupação sobre os “puros”, a princípio, não está na transição política cubana, mas no “crescimento do consumo x produção com qualidade”.
Os apreciadores de puros sabem bem o que querem, e se perguntam: O que é bom e raro deve custar quanto mais? E como podemos nos preparar para os próximos anos?
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