Confira a riqueza do Vale do Loire, que produz 400 milhões de litros por ano e está dividido em 63 apelações de origem
por Marcelo Copello
Famosa por seus castelos, a região do Loire produz vinhos de qualidade de diversos estilos |
Em nosso mundo pós-moderno, quanto mais o passado morre institucionalmente, mais ele ressurge sob a forma de nostalgia contemplativa. O Vale do Loire, no noroeste da Franca, é o cenário perfeito de um conto de fadas para adultos.
Rica em história e arquitetura, famosa por seus castelos à beira do rio, a região é conhecido como o “jardim da França”. Localizado entre as cidades de Nantes e Orléans, o Vale do Loire produz nada menos que 400 milhões de litros de vinho anualmente, sendo 52% brancos, 26% tintos, 16% rosés e 6% espumantes. A região é líder nacional em produção de vinhos brancos e ocupa a 2ª posição (perde apenas para a Champagne) em produção de espumantes AOC (Appellation d’Origine Controlée), de origem controlada. Os vinhos do Loire são ainda mais apreciados localmente, apenas 70 milhões de garrafas são exportadas ao ano, a maioria para Reino Unido e Bélgica.
Nas uvas brancas, a mais comum é a Chenin Blanc que, de fácil adaptação a vários terroirs, gera brancos secos, espumantes e doces. A Sauvignon Blanc é, contudo, a cepa dos vinhos de maior prestígio da região, os Pouilly-Fumés e os Sancerres. A Muscatdet, conhecida como Melon de Bourgogne, também merece destaque, e gera os brancos leves do oeste da região. Nas tintas, a Cabernet Franc, chamada localmente de Breton, está em todo o vale, desde o século XI. No geral dá origem a tintos leves e rosés. A Gamay, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Côt (Malbec) e a autóctone Le Grolleau também adaptaram-se bem à região e aparecem misturadas, ou sozinhos, em tintos e rosados.
Detalhe do castelo |
É impossível generalizar uma descrição do solo e clima da região, dada sua grande extensão e diversidade de terrenos. A maioria das propriedades é pequena (uma das razões para a pequena exportação), chove pouco e o clima é ameno. Podemos citar a boa acidez, a elegância dos brancos e espumantes e a presença do fungo botrytis em alguns vinhos doces. Nos tintos nota-se a acidez, a pouca extração, taninos presentes e certa rusticidade. O carvalho novo é pouco usado e a chaptalização é comum, permitida em até 2,5 graus. Vamos agora dar um passeio por algumas das mais importantes dentre as 63 AOCs da região, testando alguns rótulos presentes do Brasil.
#Q#POULLY-FUMÉ
Situados próximos a cidade de Bourges, no centro do país, os 1.245 hectares ficam na margem direita do rio Loire. Os terrenos, dominados por calcário, com machas de silício (sílex), conferem um toque francamente mineral aos melhores exemplares, com aromas típicos de pedra de isqueiro ou pólvora. A uva é a Sauvignon Blanc, que alcança aqui uma de suas máximas expressões mundiais. As AOCs são Pouilly-Fumé e Blanc-Fumé de Pouilly (um Cru dentro da região). A AOC Pouilly-Sur-Loire utiliza a uva Chasselas, que gera vinhos mais leves e frutados.
SANCERRE
Saindo dos vinhedos de Pouilly- Fumé, basta atravessar o rio para chegar nos Sancerre. Esta AOC também engloba tintos e rosados, mas os brancos dominam 80% da produção. O Sancerre branco, elaborado a partir da Sauvignon Blanc, é um dos vinhos mais populares da França, consumido nos cafés de Paris. Seu casamento com ostras frescas é um clássico, e com frutos do mar grelhados, é garantido.
TOURAINE
Descendo o rio, chegamos a cidade de Tours, no centro do vale, que engloba várias AOCs. A AOC genérica Touraine pode ser encontrada em rótulos brancos, tintos e rosés, que que costumam ser leves, de Cabernet Franc ou Gamay, e os brancos frescos, de Chenin ou Sauvignon. A AOC mais famosa, no entanto, é Vouvray, que gera os melhores brancos de Touraine, além de espumantes elegantes e doces de boa acidez. Outra AOC representada no Brasil que deve ser lembrada é Cheverny, pois seus tintos são frutados, com boa acidez, e os brancos, cítricos, florais e elegantes, à base de Sauvignon Blanc e Chardonnay.
Castelo do Loire |
ANJOU
Na direção leste, passamos pela região de Anjou. Hoje, com a decadência dos rosados da região, novos produtores estão apostando em tintos e brancos modernos, como os ótimos biodinâmicos da Domaine Moss, presentes no Brasil. Anjou engloba várias AOCs regionais incluindo excelentes vinhos doces, como o “Quarts de Chaume” (extremamente doce) e o “Bonnezeaux”, ambos à base de Chenin Blanc.
MUSCADET
Terminamos nosso passeio na região do Muscadet, que corresponde a quatro AOCs: Muscadet, Muscadet de Sèvre et Maine, Muscadet Coteaux de la Loire e Muscadet Côtes de Grandlieu. A uva obrigatória é a Muscadet ou Melon de Bourgogne. Os Muscadets são em geral brancos leves, florais, frutados (alguns são frisantes), que dispensam acompanhamento de comida. Alguns Muscadets trazem em seus rótulos os dizeres sur lie, o que significa que o vinho permaneceu sob as borras resultantes da fermentação até o engarrafamento, conferindo-lhe mais complexidade.
VINHOS TESTADOS, POR REGIÃO POUILLY-FUMÉ
Poully-Fumé Domaine du Petit Soumard 2004, Marcel Langoux (Grand Vin, R$ 115). Da AOC Blanc Fumé de Pouilly, elaborado 100% com Sauvignon Blanc. Palha claro e brilhante, reflexos esverdeados. Perfil mineral. Paladar de excelente acidez, 12,5% de álcool, longo com fundo mineral. Um excelente Pouilly, esbanjando elegância e tipicidade.
SANCERRE
Sancerre “La Chaudouillonne” 2002, Fournier, (Premium, R$ 134). Amarelo palha com reflexos dourados. Aromas aonde as frutas vem na frente, pêra, melão, maracujá, abacaxi fresco, jasmim, acácia, minerais vem depois e dão elegância ao conjunto. Paladar de médio corpo, a acidez é boa mas o equilíbrio pende a maciez dos 12,5 % de álcool e um toque de doçura no fim de boca.
TOURAINE
Cheverny Le Vieux Clos 2005, Domaine du Salvard (Decanter, R$ 63,70). Elaborado com Sauvignon Blanc e Chardonnay, amadurecido com suas borras (sur lie). Amarelo-palha com reflexos esverdeados. Nos aromas a Sauvignon fala mais alto, com bom frescor e complexidade, mostrando lima, groselha espinhosa (gooseberry), maçã, frescor de ervas, toque mineral. Paladar leve, 12,5% de álcool, onde a Chardonnay aparece no toque de gordura, mantendo um equilíbrio delicioso entre maciez e a acidez da Sauvignon. Ótimo custo-beneficio e boa tipicidade.
Nectar des Anges 1997, CVOT (Impexco, R$ 125, garrafa de 500ml). AOC Touraine. Vinho doce elaborado com Sauvignon Blanc e Chenin Blanc, de vinhas com mais de 40 anos de idade. Amarelo dourado, com reflexos ouro velho. Aromas onde o mel vem na frente, junto com frutas maduras e geléias (pêssego, damasco, abacaxi), flores maceradas e fundo mineral. Paladar doce, quente (12% de álcool), bem equilibrado com boa acidez, sem ser enjoativo, longo. Seu nome se aplica bem. 3,5 Estrelas, garrafa inclinada.
ANJOU
Anjou Le Gros Rouge 2001, Domaine Mosse, Anjou (Enoteca Fasano, R$ 119). Tinto elaborado com a casta local, Grolleau Noir, fermentado em tonéis de carvalho por 15 dias e depois amadurecido em barricas por 12 meses. Vermelho rubi muito escuro. Aromas com frutas maduras e boa mineralidade, madeira aparece me segundo plano. Paladar de bom corpo, com 12,5% de álcool, onde a acidez se destaca com elegância, taninos finos presentes. Vinho de personalidade onde a boa acidez e o acento mineral ditam seu perfil.
BONNEZEAUX
Bonnezeaux Cuvée Zénith 1998, René Renou (World Wine, R$ 300). Cor dourada e brilhante. Uma festa para o olfato, mostrando frutas cristalizadas, geléias (pêssego, damasco), flores (rosas), minerais, mel, noz moscada e outras especiarias, amêndoas torradas. Paladar doce, de bom corpo, quente com 13% de álcool.A fama deste vinho é de grande longevidade. Melhor doce da prova.
MUSCADET
Louis Métaireau Petit Mouton 2005, Sur Lie, Domaine du Grand Mouton (Expand, R$ 65). AOC Muscadet Sévre et Maine. Amarelo claro, com reflexos esverdeados. Aromas de boa cimplexidade com lima, grama cortada e ervas como tomilho e hortelã, musgo e fundo mineral ligeiramente salgado. Paladar leve, com 12% de álcool, fresco, acidez bem presente. Ótimo representante do estilo.
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