Nosso Editor de Vinhos visitou a Vinexpo e degustou as novidades que aquecem o mercado internacional da bebida
por Luiz Gastão Bolonhez
Entrada do evento |
Em 2005, o faturamento mundial do mercado de Wine & Spirits atingiu o montante de US$ 277 bilhões de dólares e tem previsão para alcançar a casa de US$ 300 bilhões em 2010. Apenas o vinho representou U$ 107 bilhões nesse período. A organização da Vinexpo encomendou um estudo que prevê, até 2010, um crescimento do segmento de vinho de 2,19% ao ano, contra 1,39% dos Spirits.
Ainda em 2005, o consumo mundial de vinhos alcançou 228 milhões de hectolitros, equivalente a 30 bilhões de garrafas! A expectativa é que esse valor alcance 267 milhões de hectoli- Entre goles, tendências e números Nosso Editor de Vinhos visitou a Vinexpo e degustou as novidades que aquecem o mercado internacional da bebida tros nos próximos cinco anos (4,8% de crescimento).
Sala onde foi degustado o brilhante “Cos D’estournel 2005” |
Baseado nesses indicadores bem favoráveis, realizou-se a 14ª Vinexpo, em Bordeaux, entre os dias 17 e 21 de junho. Foram 41 mil metros quadrados de estandes ocupados por 45 países, com um total de 2.400 empresas. O país melhor representado foi a França, seguida por Espanha, Itália e Portugal. Estados Unidos, Chile, Argentina, Uruguai, Austrália e África do Sul também marcaram forte presença, com mais de 190 companhias. Croácia, Eslováquia e Barbados participaram pela primeira vez. A Vinexpo, que tem a fama de ser a maior Feira de Vinhos do planeta, é realizada a cada dois anos na cidade de Bordeaux (França). Nos anos em que a Vinexpo não ocorre em Bordeaux (anos pares), a feira é realizada na Ásia, mas com menos glamour. No próximo ano, por exemplo, ela ocorrerá em Hong Kong, em 27, 28 e 29 de maio.
Mais de 50 mil profissionais e jornalistas do mundo do vinho participaram de degustações, palestras e debates sobre tudo o que envolve a indústria. Desses visitantes, em torno de 45 mil eram compradores e distribuidores de 140 países. A Feira gera negócios importantes para produtores e revela o charme e dinamismo da região de Bordeaux, sem dúvida, o berço do mundo do vinho da era moderna. Quem pensa que o movimento acontece apenas nos metros quadrados da Feira, está enganado. Nesse período ocorrem vários e disputados eventos, lançamentos e festas nos mais glamourosos chateaux, hotéis e restaurantes da região.
Bordeaux sempre é o melhor lugar para se degustar vinhos da região e tive a oportunidade de provar alguns Cru Classés de 2006, além de grandes vinhos da excepcional e caríssima safra de 2005. Destaco o especial “Cós D’Estournel 2005”. Apesar de tão jovem, apresenta taninos redondos, fruta, corpo e finesse. Se em seu segundo ano de vida, em plena juventude, já impressiona tanto, imagine daqui a alguns anos. Ainda da França, apresentei-me no stand da “Casa de Champagne Cattier” para conferir o “Clos du Moulin”. Mais uma vez a qualidade desse champagne me impressionou bastante.
Proprietário da renomada vinícola austríaca Schloss Gobelsbrug |
Do vale do Loire, tive o prazer de degustar muitos vinhos do produtor Claude Fournier. Seus vinhos das safras 2004 e 2005 estavam especiais. Da safra 2004, o destaque foi o “Poully Fumé Grande Cuvée 2004”, e da 2005, “o Sancerre L’Ancienne Vigne”, que estava delicioso. Dois grandes brancos à base da ultra fashion grape Sauvignon Blanc. Mas Claude Fournier preparou um gran finale e nos serviu o “Sancerre Les Vendanges d’Hélène 2000”. Uma raridade produzida a partir de vinhas velhas de Sauvignon Blanc vinificadas em barricas de carvalho da Floresta de Tronçay. Um vinho esplendoroso que mostra a versatilidade dessa uva, que está se consolidando internacionalmente como a grande rival da Chardonnay.
Um vinho único, pois alia força, elegância e vivacidade finalizando com sutis toques minerais e de baunilha.
#Q#Uma obra prima de Claude Fournier. Em visita ao espaço de Portugal, degustei alguns bons alentejanos, como o excelente “Monte da Penha Reserva 2003” e o delicioso “Esporão Touriga Nacional 2004”. Estes dois vinhos provam que o Alentejo está deixando de produzir apenas vinhos muito ‘quentes’ para também buscar vinhos elegantes e com mais finesse.
Do Douro, o “Vallado Reserva 2005” está delicioso e mostra que, a cada ano, essa propriedade produz vinhos de maior qualidade. Uma excelente dica para quem gosta de vinho com muita complexidade aromática, força na boca e um retrogosto longo e intenso. Ainda da região provei a novidade de Cristiano Van Zeller, o Branco “VZ 2006”. Estava reluzente e fresco, com deliciosa acidez e um final intrigante.
Dentre as inúmeras oportunidades que uma feira como a Vinexpo oferece, está a possibilidade de conhecer vinhos de regiões desconhecidas pela maioria de nós, brasileiros.
Os vinhos da Áustria foram os que mais me impressionaram. Esse país, afamado por seus vinhos doces, vem conquistando o mundo com seus brancos secos e, mais recentemente, com seus tintos. Dos doces, o destaque é o produtor Kracher, com sua linha superior: TBA (TrockenBeerenAuslese). São vinhos produzidos a partir de uvas 100% atacadas pelo fungo Botrytis Cinérea (podridão nobre), o mesmo que ataca as uvas dos famosos Sauternes.
Os TBA de Kracher são produzidos nas margens do lindo Lago Neusidler.
O filho de Alois Kracher estava na Vinexpo servindo, entre várias maravilhas, os “TBA 2004 Welschriesling o 2” e “Scheurebe Nº 4”.
Dos vinhos secos, os destaques vão para dois produtores: Franz Hitzberger, da região Wachau, e Schloss Gobelsburg, de Kamptal. Hitzberger é especializado em brancos, principalmente em Rieslings incríveis, elegantes, minerais e profundos. Ele também produz ótimos brancos secos à base da famosa uva local Grüner Veltliner. Michael Moosbrugger, dono da vinícola Schloss Gobelsburg, apresentou quatro excelentes vinhos dessa uva, a Grüner Veltliner. Foram eles: “Steinsetz”, “Renner”, “Lamm” e “Tradition”. Uma experiência espetacular para quem aprecia um vinho branco de terroir com muita personalidade. Mossbrugger apresentou dois maravilhosos tintos. O primeiro, produzido com a uva local St. Laurent (uma das flaghips na produção de tintos da Áustria), e o segundo, com a multinacional Pinot Noir, por lá chamada de Blauburgunder. Ambos da safra 2004.
Os rótulos austríacos são exemplos de como um vinho pode nos surpreender. Há regiões, uvas e blends infindáveis para se conhecer. Quem quer viver o mundo do vinho e se deixar surpreender deve sempre buscar informação, manter a curiosidade aguçada e aventurar por novas experiências.
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