É Halloween!

🎃 Halloween! Conheça os fantasmas e lendas do mundo do vinho! 👻

Vinho Ghost Horse e lenda do século 18 sobre o fantasma que colhe uvas ao luar são algumas das pitadas vitivinícolas para o Halloween

No mundo do vinho algumas histórias nasceram também para assustar, mas também para degustarmos - City Of Winooski
No mundo do vinho algumas histórias nasceram também para assustar, mas também para degustarmos - City Of Winooski

por Redação

O Halloween, ou Dia das Bruxas, é comemorado no dia 31 de outubro, véspera do Dia de Todos os Santos e antevéspera do Dia dos Finados. Seu nome derivou de All Hallows' Eve, ou “Véspera do Dia de Todos os Santos” e teve sua origem provável em antigas festas celtas que celebravam a passagem para o inverno.

No mundo do vinho algumas histórias nasceram também para assustar, mas também para degustarmos, claro!

O fantasma que colhe uvas ao luar

Era uma vez, um povoado da época medieval ao sul da Espanha, conhecido por Requena. Esse é o palco para a história do fantasma que colhe uvas ao luar.

As casas da cidade possuíam vinhedos e hortas. Dentro delas existiam portas que se abriam para escadas que levavam a uma construção subterrânea, onde os moradores armazenavam alimentos e faziam vinho.

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A lenda circula livre, assim como o fantasma, até hoje na cidade de Requena

O jovem Nicolás era filho de um proprietário de grandes vinhedos, conhecido como Marquês Andrés. Nicolás havia estudado enologia e passado um tempo na França. Tentava, sem sucesso, convencer seu pai a fazer seu próprio vinho e não a vender as uvas. O pai não cedia.

Nesses tempos, no século 18, o rapaz se apaixonou pela filha do prefeito da cidade, inimigo político de seu pai. Diante do amor impossível, Nicolás decidiu sair, nas noites sem lua, com uma capa negra para visitar sua amada. E decidiu, também, colher as melhores uvas de seu pai nas noites enluaradas e fazer seu próprio vinho.

Mas em pequenas cidades, quem pouco vê diz que muito sabe. E passou a correr uma história de que havia um fantasma que saia nas noites sem lua para caçar almas rebeldes e nas noites enluaradas para roubar uvas dos vinhedos. Deram a ele primeiro o nome de Ladrão de Uvas e depois de Ladrão de Luas.

O pai de Nicolás, sem saber das atividades do filho, montou uma emboscada com homens de confiança, pois achava que eram funcionários de seu adversário (o prefeito e pai da amada de Nicolás) que roubavam as uvas para prejudicá-lo. Numa noite de lua cheia, num mês de setembro, Nicolás estava feliz, pois havia provado do vinho novo e estava satisfeito com o resultado.

Decidido a ir ver sua amada, aproveitou-se que a lua estava encoberta para ir até a casa dela. Mas era um eclipse. Quando a lua reapareceu, os homens de seu pai viram o vulto na rua e atiraram sem fazer perguntas.

Depois do enterro de Nicolás, seu pai, tomado de profunda tristeza, não saiu mais de casa. Até que foi informado sobre o descobrimento de uma cave subterrânea, sob a casa de seu filho.

Lá chegando, descobriu que no local existiam doze tinas de barro de dois metros de altura cada. Dentro delas, o melhor vinho que ele já havia provado em sua vida. Nesse momento, o Marquês decidiu que faria seus próprios vinhos em homenagem à memória de seu filho.

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Bodega subterrânea e suas tinas que continham o vinho do fantasma

A lenda circula livre, como Nicolás, até hoje na cidade de Requena, mas a verdade é que a bodega subterrânea existe e está aberta para visitação. Chama-se Bodega Honda e fica no centro histórico da cidade.

Quem a administra é a Vinícola Ladrón de Lunas, fundada no começo do século 20, localizada na Denominação de Origem de Utiel-Requena, perto de Valência. Vale a viagem tanto pela lenda quanto pelo passeio histórico e degustação.

O mito do cavalo fantasma, a sensação cult dos Estados Unidos

A Conn Valley Vineyards, em Santa Helena, Estados Unidos, é uma propriedade em que quatro gerações da família Anderson já trabalharam. Desde 1983, porém, os Anderson adquiriram a vinícola e passaram a produzir vinhos com seus nomes. Gus e Todd Anderson, pai e filho, lançaram sua primeira safra comercial em 1987. Mas 20 anos depois Todd lançou rótulos que se tornaram cults instantaneamente, os Ghost Horse. 

Todd é formado em geologia pela University of Pacific em Stockton. Seu conhecimento da terra é algo notório e sempre lhe ajudou na parte enológica, assim como ter amigos como Robert Mondavi, Louie P. Martini, Joe Heitz e Justin Meyer, alguns dos mais celebrados enólogos do Napa.

Até o ano 2000, ele se dedicou aos vinhos da Anderson Conn Valley, que sempre tiveram algum sucesso, mas nada extraordinário. Naquele ano, no entanto, Todd passou a investir em outros rótulos, um projeto de vinhos artesanais, de produção limitada.  

Para isso, selecionou um minúsculo vinhedo localizado em Coombsville (parte sul do Napa) com pouco menos de 2 hectares plantados de Cabernet Sauvignon. O primeiro lançamento levou o nome apenas de Ghost Horse, mas novos rótulos foram sendo adicionados, todos varietais de Cabernet, colhidos separadamente de pequenas parcelas. 

Prova cega

A primeira safra do Ghost Horse foi de 2000, mas o lançamento só ocorreu em 2009. E, depois de tanto tempo envelhecendo e maturando, Todd não esperou para colocar seu vinho à prova. Ele realizou degustações às cegas – diz-se que até uma dupla-cega chamada “Cult Wines against Ghost Horse” em Nova York. Foi aí que os vinhos Ghost Horse espantaram os críticos e começou-se o burburinho.

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Todd Anderson, o criador da linha Ghost Horse

Fóruns de enófilos passaram a questionar o que era e o que havia de tão especial nesse rótulo que partia de preços mais elevados que outros tantos ícones consagrados, não só dos Estados Unidos, como do mundo todo. Contudo, quando menos se esperava, a pouquíssima produção já havia se esgotado e os preços aumentaram ainda mais. Um fenômeno. 

O vinhedo dá apenas cerca de 1,5 tonelada de uvas por ano e a produção total varia de 300 a 400 caixas. São cinco Cabernets distintos que provêm de parcelas diferentes dentro do mesmo vinhedo e são vinificados com técnicas únicas para cada rótulo. Um Chardonnay foi adicionado ao portfólio em 2012 com produção de 50 caixas. 

Espantoso!

Desde o começo, o Ghost Horse Cabernet Sauvignon (o rótulo “de entrada”) está entre os vinhos mais caros do Napa Valley, partindo de impressionantes US$ 3.000 a garrafa. Mas seus outros rótulos como Fantome, Apparition e Spectre são ainda mais cultuados e com preços muito mais altos – chegando a US$ 10.000. 

O rótulo mais recente, Premonition, foi introduzido em 2010 e são feitas apenas seis garrafas de 6 litros por safra. O Chardonnay Ghost Horse também parte de patamares altos, cerca de US$ 500 a garrafa. 

Durante muito tempo, só era possível comprar os “cavalos fantasmas” de Todd visitando sua vinícola ou sendo seu amigo. Mas, mais recentemente, ele criou um sistema de “alocações” para sócios de um clube exclusivo que, além dos vinhos, pode ter acesso a experiências enogastronômicas ou ainda compartilhar alguma das “aventuras” de Todd, como corrida de carros ou esqui alpino, por exemplo. Há dois níveis de adesão a este clube do vinho, um começa em US$ 500 mil e outro com um milhão de dólares.

Entrega em casa

Com seus quase 2 metros de altura e indefectível chapéu de cowboy preto, Todd é uma figura carismática. Diz-se que, para quem adquire vinhos de suas linhas mais básicas, ele mesmo vai entregar pessoalmente as garrafas se for nos Estados Unidos, não importa o lugar. Se o comprador for estrangeiro, mas adquirir um de seus produtos ainda mais seletos, ele também viaja para encontrá-lo e “trocar uma ideia”. Um grande aventureiro, ele curte pescar marlins, esquiar, jogar golfe, beber Bourbon, fumar charutos, apreciar a vida, enfim, gosta de compartilhar um pouco de suas paixões com alguns de seus consumidores-amigos. 

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Os rótulos Ghost Horse

Todd aprendeu a apreciar Bordeaux e Borgonha com os vinhos da adega de seu pai. Após sair da faculdade, trabalhou na exploração de petróleo e gás. Ele decidiu se dedicar à viticultura após ser promovido para um cargo executivo que não necessitava trabalho de campo. Assim, pegou um empréstimo, plantou vinhas e começou a cultivar uvas na propriedade de Conn Valley Vineyards. Conforme o vinhedo amadureceu, decidiu produzir vinho e, felizmente, seu primeiro Cabernet Sauvignon foi um sucesso. 

Todd procurou muitos dos primeiros vinicultores de Napa para obter conselhos e diz que Robert Mondavi teve um papel importante em seu desenvolvimento. Ele sentiu que os vinhos produzidos no Napa naquela época eram austeros, com baixo teor de álcool e a fruta era colhida “pouco madura”, tentando imitar os bordaleses. Ele então resolveu ignorar isso e acredita que foi um dos primeiros a começar extrair mais a fruta, criando um estilo com alto teor alcoólico, que se tornou típico da Califórnia. 

Estilo

Como geólogo, a primeira abordagem de Todd foi avaliar o solo e determinar seu efeito nas vinhas ao nível da raiz. Assim, ele descobriu que, em sua área cultivada, havia cerca de cinco tipos de solo diferentes e isso levou ao planejamento de cinco parcelas de vinhedos separadas. Mas ele atribui o sucesso de seus vinhos a dois pontos: estar sempre provando, da colheita ao envelhecimento em barricas – para trabalhar com cada safra tomando as decisões certas em cada etapa – e focar na sensação de boca. 

Todd tem uma filosofia pessoal sobre a vida que ele chama de regra 50-40-10: 50% das pessoas estão felizes patinando pela vida, 40% estão satisfeitas sem motivação pessoal e são os 10% finais que são levados ao sucesso. Segundo ele, seu compromisso de competir com esses 10% é o que gera sucesso. 

Em uma entrevista para um site do Napa, Jim Silver, que trabalha com Todd afirmou: “Terroir é um conceito difícil para as pessoas entenderem. Além do solo e do clima, Todd é nosso terroir. Ele é a identidade deste lugar”. Apesar de ser visto muitas vezes como uma “ovelha negra”, Todd faz questão de dizer: “Não somos melhores do que ninguém, e sempre estivemos abertos para compartilhar ideias, tanto para dar como para receber”. E sobre os rótulos que seus “cavalos” desbancaram no páreo – especialmente de preços –, ele garante: “Esses outros vinhos estão na minha adega também”.

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