A harmonização regional está presente nas celebrações tradicionais de Páscoa
por Silvia Mascella
A celebração da Páscoa foi, por muitos séculos, mais complexa do que o blend de um vinho de Bordeaux. A história aponta que desde o século 2 há uma celebração da ressureição de Cristo, mas oficialmente ela só foi fixada no século 8, mesclando datas do calendário Judaico, do Gregoriano e, para os cristãos ortodoxos, do calendário Juliano.
Uma coisa, no entanto, há em comum independente das datas: os cristãos reconhecem a quaresma (o tempo que antecede a morte e ressureição de Cristo) como um tempo de frugalidade, de moderação, de jejum até. Os alimentos são simples, muitos não comem carne de nenhum tipo, e doces e bebidas que alteram a consciência são consumidos com parcimônia.
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Mas na quinta-feira da Semana Santa os cristãos se lembram da Santa Ceia, a última refeição de Jesus com seus apóstolos, onde o vinho é protagonista, e segue sendo em todos os dias seguintes. Como a Semana Santa é celebrada em diversas regiões do globo, as comidas típicas de Páscoa variam e a harmonização tem caráter muito regional.
Os franceses, por exemplo, comem carne de cordeiro na Páscoa (muitos italianos também), em geral um pernil. É um costume que veio diretamente da origem judaico-cristã. Pode ser acompanhado com feijão branco, legumes de primavera ou com batatas ao alecrim. Pinot Noir é a harmonização mais fácil e deliciosa para esse prato, um Borgonha bem equilibrado é a escolha certa.
Os espanhóis comem (muitas vezes na segunda-feira depois da Páscoa, que é feriado na Europa) o Hornazo de Salamanca, uma torta que existe desde o século 16 e é feita com massa (quase como um pão) recheada com ovos, bacon e linguiça - o recheio pode ter variações. Rica em sabores e bem temperada, ela combina perfeitamente tanto com um tinto leve da região de Toro ou um dos famosos brancos de Rueda, como um Verdejo ou Sauvignon Blanc.
Os portugueses costumam comer cabrito assado, ovelha e muitos pães doces, em variadas versões de norte a sul do país. Para o cabrito, carne de sabor intenso, a harmonização é com um bom vinho de corte do Douro, amadurecido e também intenso. Com os pães doces, cada região vai colocar o vinho fortificado de sua preferência, mas Madeira e Porto não irão faltar.
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Para os doces, seja a colomba Pascal italiana, o Folar português, o Osterzopf alemão ou o Hot Cross Bun inglês, os vinhos precisam acompanhar o dulçor do prato. Os italianos irão tomar um Moscato se o dia estiver mais quente ou um Vin Santo se estiver mais frio. Alemães vão abrir os vinhos Beerenauslese, com seus aromas de mel e flores e os vinhos do Porto ou Jerez doce também serão grandes escolhas.
Aqui no Brasil, como o caldeirão de culturas que formaram o nosso povo mistura um pouco de tudo o que está aí acima, mais os alimentos da tradição dos índios originais de nosso território e dos africanos, a mesa da Páscoa é uma uma combinação culinária intensa, o que nos permite (sorte nossa!) harmonizar os pratos com variados vinhos, inclusive brasileiros. Veja abaixo uma boa seleção de ADEGA para os dias de celebração.