Onde Baco veste quimono

O japonês Nakombi é um bom exemplo de como a globalização é bem-vinda na gastronomia

por Marcelo Copello

Adega climatizada com 300 garrafas e 155 rótulos

A palavra "globalização" pode dar calafrios em alguns economistas. No mundo da cultura e dos sabores, contudo, imprime uma faceta muito positiva. Odores e sabores, por natureza, viajam o mundo como nunca. O vinho adere a esta tendência por seu inigualável poder de globalizar cheiros e gostos. Através de uma garrafa de vinho pode-se provar a expressão gustativa de um solo e de um tempo. Ao degustar um Solaia 1990, por exemplo, estaremos nos deliciando com o gosto que só existiu na Toscana, naquele ótimo ano.

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Esta globalização gustativa transformou encontros, outrora excêntricos, em combinações harmoniosas, como o da culinária oriental com o vinho, bebida de raízes européias. Combinar comida japonesa com o fermentado de Baco é hoje uma prazerosa realidade, possível em muitos restaurantes, como o Nakombi, recém-inaugurado no Rio de Janeiro.

Os 700 metros da casa, lindamente decorada, abrigam não apenas tatames, saletas e esteiras de sushis, como se espera em um endereço do gênero, mas também uma adega climatizada com 300 garrafas e uma carta de vinhos super profissional, com 155 rótulos. Quem pilota o saca-rolhas é o sommelier Nando Rodrigues, formado pela ABS-RJ e freqüentador do circuito carioca de degustações e eventos. Seu aconselhamento de vinhos é bom e, embora sem muita experiência em harmonizações, demonstra conhecer bem o cardápio e a carta, trazendo boas sugestões na manga.

A carta foi muito bem elaborada pelo enófilo Paulo Nicolai e está bem focada em seu objetivo de apoio à cozinha da chef Lucien Taira e do sushiman Carlos Ohata. Chama a atenção os 20 espumantes disponíveis, sendo seis champagnes, muito bem-vindos quando o assunto é sushi-sashimi. Tente o Champagne Pierre Moncuit (R$ 270), uma boa novidade da World Wine, com um combinado. Quem preferir um prato quente, o campeão é o "Rosbife de Atum com Tâmaras" (R$ 29), que funcionará bem com a sugestão do sommelier, o Alghero Rosé 2005 (R$ 70). Outra pedida excelente é o "Peixe Prego com Molho Teriyaki" (R$ 42), imperdível, que pode ser escoltado por um dos vários bons brancos da carta, como o Quara Torrontes 2005 (R$ 43). Evite apenas o Sauvignon Blanc Sonoma 1999, da californiana Jackson Family, que já estava já no fim da vida e, na minha opinião, deveria ser retirado da carta. Para encerrar a sugestão: "Cheesecake de Tofu" (R$ 10) com o excepcional branco doce siciliano Ben Ryé 2004 (R$ 31 a taça).

A casa ainda carece de acertos no serviço, o que é normal no início de uma operação. Seria interessante, por exemplo, se tivessem uma geladeira separada para brancos e espumantes, pois o champagne pedido estava fora da adega e foi preciso esperar, com o prato já servido, para que fosse gelado. A taxa de rolha é honesta, R$ 30, e as taças são boas.

Fiquem tranqüilos enófilos cariocas, o vinho aqui é bem tratado. Baco está presente na casa, só que aqui veste quimono.

Nakombi - Rua Maria Angélica, 183, Jardim Botânico, Rio de Janeiro Tel: (21) 2246-1518

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