Como escolher o vinho ideal de acordo com a receita e o preparo
por Carlos Cordeiro - Cwp

Poucos ingredientes geram tantas dúvidas na hora da harmonização quanto o bacalhau. Apesar de ser um peixe, seu sabor intenso, sua textura firme e o teor de sal o colocam em uma posição intermediária na escala de corpo dos alimentos — situação semelhante à do frango. Por isso, tanto vinhos brancos quanto tintos podem funcionar, desde que escolhidos com critério.
Clique aqui e assista aos vídeos da Revista ADEGA no YouTube
Ao longo do tempo, já se testou de tudo: do Vinho Verde aos tintos encorpados do Douro. O que a experiência mostra é que não existe uma resposta única. O sucesso da harmonização depende menos da proteína em si e muito mais da receita, dos ingredientes e, sobretudo, da técnica de cocção utilizada.
Vinhos brancos muito leves e delicados tendem a ser dominados pela intensidade do bacalhau. Já tintos muito estruturados, com taninos marcantes, costumam entrar em conflito com o sal do peixe. É nesse ponto intermediário que ocorre a sobreposição entre brancos mais encorpados e tintos de corpo médio, ambos com potencial para boas harmonizações.
Além do estilo do vinho, fatores como clima de origem, teor alcoólico, uso de carvalho e fermentação malolática influenciam diretamente o resultado na taça. Do lado do prato, dois elementos são decisivos: os ingredientes adicionados e o método de preparo.
LEIA TAMBÉM: Vinhos para acompanhar 10 receitas de bacalhau
Não faz sentido estabelecer uma regra fixa para harmonizar bacalhau. Cada técnica de cocção altera o corpo, a textura e a complexidade do prato — e isso muda completamente o vinho ideal.
De forma simplificada, as técnicas podem ser agrupadas em calor úmido e calor seco. Preparos no vapor, fervidos ou pochês preservam o sabor original do peixe e praticamente não adicionam gordura. Nesses casos, funcionam melhor vinhos leves e delicados, como brancos frescos e de boa acidez.
À medida que entram gordura, caramelização e intensidade — frituras, salteados e grelhados —, o prato ganha corpo. Aqui, vinhos brancos com passagem por carvalho ou tintos leves e pouco tânicos começam a fazer mais sentido.
LEIA TAMBÉM: Enólogos explicam como e por que os vinhos frescos ganharam mercado
Nos assados, a gordura não é eliminada, mas incorporada ao prato, aumentando riqueza e profundidade de sabor. A caramelização intensa e o leve amargor criam espaço para vinhos com mais estrutura, inclusive tintos de corpo médio e taninos bem integrados.
Nos ensopados, o preparo costuma combinar grelhagem ou salteamento prévio com longos cozimentos em caldos, molhos e azeite. O resultado é um prato complexo, untuoso e persistente, capaz de sustentar vinhos igualmente complexos, sejam brancos estruturados ou tintos equilibrados, sem excesso de tanino.
A pergunta “bacalhau combina com vinho tinto ou branco?” só pode ser respondida com outra: como o bacalhau foi preparado? A técnica de cocção e os ingredientes definem o corpo do prato e, consequentemente, o estilo de vinho que melhor se adapta.
Mais do que seguir regras rígidas, a melhor harmonização nasce da observação, da experimentação e do equilíbrio entre prato e vinho — sempre respeitando o gosto de quem está à mesa.
Confira abaixo os melhores vinhos degustados recentemente por ADEGA ⬇