Enoturismo

O que comer e beber na Paris da bistronomia

Cinco dicas para quem quer aproveitar bons restaurantes e bons vinhos em um passeio pela capital francesa

por Por Mauricio Souza Leme

Paris é uma enorme pequena cidade quando o assunto é gastronomia. Enorme por sua diversidade e peculiaridades, e pequena pois a área é bem reduzida se comparada às grandes cidades brasileiras. Para montar um roteiro enogastronômico, podemos passear pelos famosos arrondissements – uma curiosa maneira de chamar os bairros por número, em um enorme caracol.

[Colocar Alt]

Este roteiro será um passeio por diferentes “números” e nos levará a conhecer um pouco do que Paris tem a oferecer – sem dissertar sobre os estrelados restaurantes da cidade, mas sim aqueles que surpreendem por sua simplicidade, os que seguem os preceitos da “bistronomia” (pratos rápidos, porém bem-acabados).

Começaremos por uma área mais simples e, definitivamente, longe dos olhares curiosos dos turistas, o 20ème arrondissement. Nas ladeiras de Belleville, você irá encontrar o Le Baratin (3, Rue Jouye-Rouve – tel.: +33 1 43 49 39 70). Este diminuto restaurante – comandado pela divertida chef Raquel, uma argentina radicada há muitos anos em Paris – destaca-se pela simplicidade e pureza em seus pratos. 

Miolo de vitelo (cozido apenas em água com cebolinha francesa e flor de sal) deixa clara a ideia de ressaltar ingredientes. Carnes de caça aparecem bastante em seu cardápio, e vegetais, sempre apresentados em seu ponto perfeito de cozimento, vão e vêm em seu menu dependendo da melhor época para apreciá-los. 

[Colocar Alt]

Quanto aos vinhos, deixe a escolha a cargo de Philippe, seu marido, que se encarregará de oferecer rótulos que mesmos os mais experts têm chance de nunca terem visto, afinal sua cave é uma caixinha de surpresas repleta de produtores pequenos e com grande destaque para os vinhos naturais. A apenas 1 km dali, no 11ème, temos o Le Chateaubriand (129, Avenue Parmentier – tel.: +33 1 43 57 45 95).

Não se engane pela cara bem informal do lugar, pois aqui se pode esperar uma comida ousada e inventiva saindo das mãos do excêntrico Iñaki Aizpitarte. No início, imaginamos algo clássico, afinal seu couvert começa com deliciosos gougères mornos (leves “pãezinhos” de massa choux com queijo) que nos trazem uma sensação reconfortante, mas, daí em diante, pode se esperar de tudo.

Coração de pato empanado com diferentes grãos, caldinho de osso de jamón, ceviche com framboesa, um exótico vegetal chamado salicorne, enfim, surpreenda-se. Deixe um dos garçons-sommeliers escolher um vinho – fique tranquilo, eles até perguntam seu orçamento sem delongas, mas, se não perguntarem, não haverá nenhum susto na conta.

O foco aqui são vinhos das mais exóticas denominações possíveis na França, ou os mais exóticos das denominações clássicas, muitos deles são naturais e darão a sensação de que ainda há muito no mundo do vinho francês que não conhecemos.

Indo mais alguns quilômetros em direção ao rio Sena chegaremos ao coração de Paris, o 1er. Esse agitado bairro, cheio de restaurantes e bares, é onde se encontra a boêmia Rue Montorgueil. Mas é ao lado, na perpendicular Rue Montmartre, que está o melhor magret de canard da cidade, no restaurante do Comptoir de la Gastronomie (34, Rue Montmartre – tel.: +33 1 42 33 31 32).

Essa épicerie (“mercearia”) é bastante famosa por seus maravilhosos foie gras, mas também se destaca pelas trufas, pelo caviar e por suas terrines; anexo à épicerie está o pequeno restaurante. Como entrada, obviamente sugere-se o foie gras – um dos principais é o poêlée – e, como prato principal, deleite-se com qualquer um deles, mas, se quiser uma sugestão, peça o magret com um delicioso purê de batatas. Para acompanhar, sugerimos seus acessíveis e gostosos bourgogne, mas sua carta tem uma boa seleção de diversas regiões da França e se adapta aos mais diferentes gostos e bolsos.

6ème arrondissement

No descontraído 6ème, encontramos o Ze Kitchen Galerie (4, Rue des Grands Augustins – tel.: +33 1 44 32 00 32), cujo nome é uma ironia ao sotaque clássico do francês ao falar The Kitchen. O clima do restaurante é relax, cheio de obras de arte relacionadas à gastronomia em suas paredes e, ao que parece, também em seus pratos.

Repletos de vida e cor, e com grande atenção às montagens, os pratos sempre mostram um twist mais moderninho, mas sem aquele ar de informação demais – pelo contrário, até mesmo a quantidade reduzida de pratos mostra a simplicidade desse agradável restaurante. Sua carta de vinhos oferece sempre escolhas inusitadas de rótulos da França, foge um pouco dos tradicionais, oferecendo desde um Costières de Nîmes até um delicioso Trousseau da região do Jura. 

Para fecharmos esse passeio pelos diferentes arrondissements de Paris, ficaremos pelo 6ème mesmo, onde o chef Yves Camdeborde mostra no Le Comptoir du Relais (5, Carrefour de l’Odéon – tel. : +33 1 44 27 07 97) a essência da “bistronomia”. Seu menu, no fundo, é uma aula sobre a história da gastronomia francesa, pois ele passeia por pratos muito tradicionais da cozinha antiga, como a incrível Lièvre a la Royale (se der a sorte de estar em Paris no inverno), ou ainda os deliciosos escargots, ou até mesmo um simples carré de cordeiro.

Tudo sempre de maneira impecável e com sabores marcantes, apesar da simples apresentação dos pratos. Aliás, não se esqueça de ver os pratos especiais escritos em um enorme espelho na parede principal do restaurante. 

Aproveite e entre no curioso esquema da fila que se forma para aguardar mesa em frente ao restaurante e, se estiver acompanhado, alterne com seu parceiro indo ao pequeno “bar à vins” na lateral do restaurante, o L’Avant Comptoir, e aproveite para degustar a maior quantidade possível de vinhos servidos em taça acompanhados por um de seus maravilhosos petiscos. Bon Appétit.

palavras chave

Notícias relacionadas