Uma faxina no vinho

Utilizado pelos enólogos, o anidrido sulfuroso é também responsável pela atividade anti-séptica na produção do nobre fermentado

por João Carlos Cainelli

O uso do anidrido sulfuroso, em Enologia, remonta aos primeiros anos de 1800, mas somente depois de 1889, com a publicação do famoso estudo de Muller-Thurgau, a utilização da substância intensificou-se na vinificação. Na Itália, o uso de anidrido sulfuroso nos mostos e nos vinhos teve um impulso maior após 1906. Era utilizado para a desinfecção das tinas de madeira, dos locais e dos ambientes das cantinas de vinho. O anidrido sulfuroso (SO2) é um gás incolor, de odor característico, mais pesado que o ar, e se liquefaz facilmente a 15º C, sob uma pressão de 2 atm.

É necessário, antes de tudo, definir as diversidades existentes entre os conceitos de anti-séptico, antifermentativo, desinfetante e esterilizante. Anti-séptico é um agente capaz de impedir o desenvolvimento e a multiplicação dos microorganismos (do qual o antifermentativo representa um setor limitado específico), enquanto os desinfetantes são agentes capazes de matar, em um tempo relativamente curto, bactérias ou germes patogênicos para o homem ou para os animais; o produto esterilizante é aquele que mata microorganismos patogênicos ou não. O SO2 tem o inconveniente de imprimir um odor e um sabor característico, quando empregado numa dose muito elevada. A principal ação do anidrido sulfuroso em vinificação diz respeito à flora microbiana, a atividade enzimática, a matéria colorante e a propriedade antioxidativa.

A atividade anti-séptica do anidrido sulfuroso sobre a flora microbiana é causada por sua reatividade com as proteínas e os compostos carbonílicos, particularmente a coenzima Acetil Côa, que é inibida. A ação anti-séptica do anidrido sulfuroso depende de fatores relativos aos meios e a fatores relativos aos microorganismos. O efeito antiséptico do anidrido sulfuroso aumenta fortemente com a diminuição do pH.

A presença de álcool favorece a ação anti-séptica, obtendo-se a mesma eficácia com dose menor de anidrido sulfuroso nos vinhos, bem como nos mostos. No que diz respeito à temperatura, há dois efeitos contrastantes. Por um lado, o aumento da temperatura constitui um efeito de sinergismo sobre a atividade anti-séptica, por outro, provoca uma diminuição da solubilidade do SO2 gasoso no mosto ou no vinho, após uma liberação na atmosfera. Cada espécie ou cepa do microorganismo tem uma resistência à ação do anidrido sulfuroso. Em geral, as bactérias são menos resistentes do que as leveduras.

No que diz respeito à ação sobre as é importante notar que as leveduras apiculadas são menos resistentes aos levedos elípticos, responsáveis por uma correta fermentação alcoólica. Porém, alguns levedos indesejáveis têm uma notável resistência ao anidrido sulfuroso. Entre eles, pode-se citar a Sacchromycodes ludwigii, levedo capaz de desenvolverse em mostos concentrados. O anidrido sulfuroso combina-se com a matéria corante da uva amassada e forma um composto incolor pouco estável. Após trasfegas (com aeração), e pelo efeito dos ácidos, a cor recompõe-se novamente.

O dióxido de enxofre ou anidrido sulfuroso encontra-se disponível, principalmente, em três formas. O gás liquefeito é introduzido no mosto ou no vinho como um líquido ou gás. O ácido sulfuroso é preparado fazendo-se borbulhar o dióxido de enxofre através de água. Normalmente utiliza-se uma solução a 6%. A terceira disponibilidade do anidrido sulfuroso é a utilização de sais de dióxido de enxofre. Normalmente eles são o metabissulfito de potássio e o sódio. O sal de potássio é higroscópico e perde atividade com o tempo. Quando adicionado no mosto ou no vinho, libera aproximadamente 50% de seu peso em dióxido de enxofre.

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