ADEGA elencou 10 curiosidades sobre cada um desses cinco Premier Cru Classés de Bordeaux para que você conheça um pouco mais sobre eles
por Arnaldo Grizzo
Desde 1855, quando Napoleão III solicitou uma classificação dos melhores vinhos de Bordeaux, esta região possui uma hierarquia que vem resistindo ao tempo, mesmo que tenham ocorrido algumas mudanças e diversas contendas. Hoje, quando alguém fala de Bordeaux, não pode deixar de citar os cinco grandes, sim, os cinco Premier Cru Classés: os châteaux Haut-Brion, Lafite, Latour, Margaux e Mouton.
Esse grupo é onipresente em qualquer lista de vinhos de colecionadores ao redor do globo e não é à toa, pois, além obviamente de estarem no topo da histórica classificação bordalesa, até hoje representam a essência do que deve ser um grande vinho de Bordeaux – o suprassumo do conhecimento do terroir e da técnica do blend para determinar os parâmetros que todos os outros perseguem. Tudo isso, com certeza, só se consegue com excelência e muita experiência.
Essas propriedades estão entre as mais antigas da região e, mesmo em períodos nebulosos, foram capazes de manter seu status. Hoje, elas continuam liderando a maioria dos movimentos na região (e também no mundo), quase sempre sendo precursores em novas técnicas e tecnologias, antevendo tendências, mesmo que seja para manter a boa tradição do que já fazem com maestria.
ADEGA elencou 10 curiosidades sobre cada um desses cinco grandes nomes de Bordeaux para que você conheça um pouco mais sobre eles.
1 - Não é do Médoc
Haut-Brion fica em Péssac, fora da região do Médoc, mas seu prestígio sempre foi tão grande que, quando a classificação de 1855 foi formalizada para estipular os melhores vinhos do Médoc, o château foi acrescido à lista, mesmo não pertencendo à área.
4 - Na filosofia liberal
Há registros de uma visita do filósofo John Locke, tido como o pai do liberalismo, à propriedade de Haut-Brion em 1677. Depois disso, ele escreveu sobre o vinho de Pontac – a família que geria Haut-Brion –, em uma de suas obras.
5 - Hospital
Durante a II Guerra Mundial, Clarence Dillon converteu o Château Haut-Brion em um hospital para receber feridos. Ele também foi um elo de ligação entre os governos britânico e americano na época do conflito.
6 - Irmãs?
Em frente a Haut-Brion fica o Château La Mission Haut-Brion, cujas terras já fizeram parte de uma mesma propriedade, mas foram posteriormente doadas à comunidade dos lazaristas. Em 1983, Clarence comprou La Mission, que então voltou a pertencer a um mesmo grupo familiar depois de séculos.
7 - Branco
Entre os cinco Premier Cru, Haut-Brion é o único que possui um vinho branco ao qual dá o mesmo nome do tinto. Sua primeira safra é de 1916. E curiosamente, assim como o tinto, ele também tem um segundo rótulo, o La Clarté de Haut-Brion
8 - Garrafa única
Haut-Brion começou a usar um formato de garrafa bastante distinto (emulando designs de modelos antigos de decantadores) a partir da safra de 1958, que foi lançada em 1960.
9 - Jefferson
Em 25 de maio de 1787, Thomas Jefferson visitou o Château e prontamente ficou encantando, solicitando que seis dúzias de garrafas fossem embarcadas para os Estados Unidos – uma das primeiras exportações dos Premier Cru para a América.
10 - Guilhotina
Joseph de Fumel foi dono de Haut-Brion em um período dramático. Ele se tornou prefeito de Bordeaux em 1789, mas acabou sendo guilhotinado por revolucionários, que invadiram o castelo em 1794.
1 - Nome
O nome Lafite vem do termo gascão “la hite”, que significa “colina”.
2 - Lafite e Latour
Em 1695, o herdeiro de Jacques de Ségur, Alexandre, casou-se com a herdeira do Château Latour, e dessa união nasceu Nicolas-Alexandre de Ségur (que viria a ser chamado de príncipe das vinhas). As histórias dos dois châteaux ficaram assim unidas por longo tempo.
3 - Fonte da juventude
Em 1755, o Marechal de Richelieu foi nomeado governador da região da Guyenne e consultou um médico de Bordeaux, que o aconselhou a tomar Château Lafite, “o melhor e mais agradável de todos os tônicos”. Anos mais tarde ele teria dito ao rei Luís XV que havia encontrado a fonte da juventude.
4 - O segredo
Em 1818, a proprietária de Lafite foi Madame Barbe-Rosalie Lemaire, cujo marido era Ignace-Joseph Vanlerberghe, um importante comerciante de grãos e fornecedor dos exércitos de Napoleão. Um mistério surgiu com a morte de Ignace-Joseph Vanlerberghe, quando sua esposa vendeu a propriedade ao britânico Samuel Scott em 1821. Scott e seu filho administrariam a propriedade até 1867. Mas na realidade, eles eram apenas representantes de Aimé-Eugène Vandelberghe, filho de Barbe-Rosalie e Ignace-Joseph, que só relevou a propriedade em sua herança. Assim, após meio século de sigilo, o nome Vanlerberghe apareceu na história dos proprietários da Lafite.
5 - O primeiro da lista
Na lista dos Premier Cru Classés de 1855, Lafite é o primeiro nome. Mas antes disso, diversos mercadores e “críticos” já consideravam o château seu preferido.
6 - Rothschild
Em 8 de agosto de 1868, o Barão James de Rothschild comprou o Château Lafite, que havia sido colocado à venda por herança de Ignace-Joseph Vanlerberghe. O barão James, chefe do braço francês da família Rothschild, faleceu apenas três meses depois de comprar Lafite. A propriedade ficou para seus três filhos: Alphonse, Gustave e Edmond.
7 - O mais caro
A safra de 1868 marcou um recorde na história de Lafite. Foi o vinho mais caro (6.250 dos francos da época, ou 4.700 dos euros de hoje o “tonneau” de 900 litros) já registrado naquele século.
8 - Escolas agrícolas
Durante a ocupação alemã na II Guerra Mundial, a propriedade foi transformada para servir como escola vocacional agrícola.
9 - Barricas próprias
As barricas usadas no Chateau Lafite Rothschild são feitas em sua própria tanoaria. Todo o carvalho é francês e a tanoaria está em operação desde 1878.
10 - Garrafa de Th. J.
Em 1985, garrafas com a marca Lafitte datadas de 1787 e com gravações apontando Th. J., ou seja, que supostamente pertenceram a Thomas Jefferson, foram leiloadas por valores astronômicos e posteriormente viraram alvo de uma controvérsia que alegava fraude.
1 - Fora do sistema
Em 2012, Latour anunciou que estava deixando o tradicional sistema en primeur (de vendas antecipadas) e passaria vender apenas as safras que considerasse prontas.
2 - Na moda
Desde 1993, o château faz parte das empresas do magnata François Pinault, que possui marcas como Gucci e Yves Saint-Laurent em seu portfólio.
3 - A torre
O documento mais antigo que menciona Latour data de 1331 e é uma autorização concedida a Gaucelme de Castillon por Lord Pons para construir uma torre fortificada na paróquia de Saint Maubert.
4 - Malbec?
Uma família de enólogos de sobrenome Malbec marcou os vinhos de Latour durante boa parte do século XX.
5 - Contra fraudes
Latour foi um dos primeiros produtores de renome mundial a implementar sistemas contra fraudes e falsificações de garrafas. Desde 2007, toda garrafa possui um sistema de rastreamento e selo holográfico.
6 - Enclos
Um dos vinhedos mais antigo e mais célebres de Latour chama-se Enclos, o mais próximo do château, com vinhas com mais de 60 anos em média.
7 - Orgânico
Desde agosto de 2015, todos os vinhedos de Latour são gerenciados de acordo com os princípios da agricultura orgânica. Paralelamente, preparações biodinâmicas também estão sendo aplicadas à maioria das vinhas de Enclos.
8 - Cabernet
Os vinhos de Latour, juntamente com os de Margaux, costumam ser os com maior concentração de Cabernet Sauvignon no blend, ultrapassando 90% da mistura. De todos os Premier Cru, Latour é a propriedade com mais vinhas de Cabernet.
9 - Seda
Cada garrafa que sai da Latour é embalada individualmente à mão em papel de seda.
10 - Aposta alta
No século XVIII, Nicolas-Alexandre de Ségur recusou uma oferta de 1.800 libras de prata por tonneau (quatro barricas) por sua safra de Latour de 1736. O valor era o dobro da média dos melhores vinhos da época. Alguns anos depois, ele teve que despejar essa mesma safra no mercado por 260 libras, pois os compradores haviam minguado.
1 - Separado!
Diz-se que um antigo enólogo de Margaux, chamado Berlon, foi o primeiro a vinificar separadamente as uvas tintas e as brancas na região. Naquela época, as videiras eram plantadas indistintamente no vinhedo.
2 - Em leilão
Em 1705, a London Gazette anunciou o primeiro leilão de grandes propriedades de Bordeaux com 230 barris de “Margose”. A safra de 1771 foi o primeiro “clarete” a aparecer em um catálogo da Christie’s.
3 - Versalhes
Bertrand Douat, marquês de la Colonilla, adquiriu a propriedade e julgou que a casa não era digna. Mas foi só em 1810, quando La Colonilla já tinha 70 anos, que começaram as obras do château. Louis Combes, um dos mais importantes arquitetos de Bordeaux, foi responsável por erguer o “Versalhes do Médoc”. La Colonilla, todavia, morreu em 1816 sem nunca ter morado lá.
4 - Ópera
Alexandre Aguado foi o primeiro banqueiro a adquirir um grande château de Bordeaux. Ele rapidamente abandonou suas atividades financeiras para se tornar, entre outras coisas, o patrocinador de Gioachino Rossini, que iria compor uma zarzuela (uma espécie de ópera) intitulada “Château Margaux”.
5 - Nota máxima
Das quatro propriedades apontadas como “Premier Grand Cru Classé” em 1855; apenas Margaux recebeu a nota 20/20.
6 - Segundo vinho
Margaux foi o primeiro dos cinco Premier Cru Classé a produzir um segundo rótulo, o Pavillon Rouge du Château Margaux em 1908.
7 - Grego
Depois de alguns anos ruins, Pierre e Bernard Ginestet decidiram vender Château Margaux para o empresário grego André Mentzelopoulos em 1977. Ele, contudo, morreu apenas três anos após a compra.
8 - Consultor
Margaux foi a primeira vinícola em Bordeaux a ter um consultor externo, em 1978, quando Émile Peynaud foi contratado por André Mentzelopoulos.
9 - Garrafa especial
Em 2015, pela primeira vez em sua história, Margaux usou um design especial para uma garrafa. Para celebrar o bicentenário do château, foi feito um desenho singular adornado com uma serigrafia afixada ao vidro no lugar do rótulo tradicional.
10 - Nova adega
Em 2015, no ano do bicentenário do edifício de Margaux, a propriedade inaugurou sua nova adega, um prédio moderno desenhado pelo renomado arquiteto Norman Foster.
1 - Braço inglês
O Château Mouton Rothschild ganhou seu nome atual depois que foi adquirido pelo Barão Nathaniel de Rothschild, do ramo inglês da famosa dinastia, em 1853. Antes, era conhecido como Château Brane-Mouton.
2 - Mis em bouteille
Em 1924, o Barão Philippe de Rothschild decidiu que todo o vinho deveria ser engarrafado no château, sendo pioneiro nesse processo que levou todas as propriedades bordalesas a assumirem essa responsabilidade. Antes, os vinhos eram vendidos a granel para os negociantes.
3 - Rótulos artísticos
O Barão Philippe também foi pioneiro em vincular seu vinho com a arte ao comissionar pintores para criar seus rótulos. O primeiro foi em 1924, feito por Jean Carlu, mas apenas desde 1945 é que todo ano Mouton apresenta o trabalho de um artista diferente.
4 - Cadet
Em 1933, o Barão Philippe adquiriu uma empresa de comércio de vinhos em Pauillac, que hoje é a Baron Philippe de Rothschild SA. Entre outros vinhos, a empresa produz e comercializa o Mouton Cadet, então criado como um segundo rótulo de Mouton em 1930, e hoje é a marca líder mundial da denominação Bordeaux.
5 - De segundo a primeiro
Na lista de 1855, Mouton foi classificado como Sécond Cru. Mas, por meio dos esforços do barão Philippe, a propriedade foi alçada ao status de Premier Cru em 1973, após um decreto assinado por Jacques Chirac, então Ministro da Agricultura.
6 - Do teatro para o vinho
Atriz de renome, a baronesa Philippine de Rothschild, filha do barão Philippe, manteve uma carreira teatral sob o nome de Philippine Pascal, na Comédie Française e na Compagnie Renaud Barrault.
7 - Museu
Em 1962, Mouton inaugurou o Museu de Arte do Vinho, idealizado pelo barão Philippe e sua segunda esposa, a baronesa Pauline. Ele contém uma coleção de objetos preciosos de todas as idades associados à vinha e ao vinho.
8 - Rótulo especial
Em 1993, o rótulo de Mouton foi assinado por “Balthus”, pseudônimo do Conde Balthazar Klossowski de Rola. Ele desenhou uma adolescente nua, o que causou reações desfavoráveis ao vinho especialmente nos Estados Unidos. Isso fez com que a baronesa, na época, tirasse o desenho dos rótulos enviados para os vendedores norte-americanos.
9 - Grand Chai
Em 1926 foi construída a espetacular Grand Chai (a grande sala de barricas) de Mouton, projetada pelo arquiteto Charles Siclis. Com 100 metros de comprimento e 25 metros de largura, o edifício pode conter até 1.000 barricas de carvalho em um único nível.
10 - Imutável
O lema de Mouton, desde sua ascensão ao status de Premier Cru, é: “Primeiro eu sou, segundo eu fui, Mouton não muda”.