Azeite

A arte do azeite catalão

Apesar de não possuir uma produção tão vasta, a Catalunha é reconhecida pela qualidade de seu óleo

por João Calderón

Terra de Gaudí (que projetou a famosa igreja da Sagrada Família, em Barcelona), Catalunha produz cerca de 165 mil toneladas de azeite por ano

Localizada no nordeste da península Ibérica, a comunidade autônoma da Catalunha é muito conhecida por suas belas praias, seu estilo de vida e, principalmente, pela exuberância de sua capital, Barcelona. A terra de Dalí, Miró e Gaudí é muito lembrada quando falamos de arte e arquitetura, mas também pelo seu óleo.

O cultivo de olivas na região possui uma longa história, representada hoje com uma produção que chega a 165 mil toneladas por ano, o que é muito pouco quando comparada à grande produtora mundial Andaluzia. Porém, não é por isso que a Catalunha deixa de ter importância já que, para muitos, é justamente desta região que vem o melhor óleo espanhol.

Barcelona (onde nasceu Miró) e Girona são as províncias de menor importância em termos de óleo de oliva

Arbequina
Falar da Catalunha e não do cultivar Arbequina é simplesmente como falar de Barcelona e deixar de lado Gaudí, uma vez que, na terra do famoso artista, esta pequena variedade reina absoluta, sendo praticamente o único cultivar tanto da região de Lérida quanto de Tarragona, além de um dos principais em toda a Espanha.

A Arbequina é uma variedade que se adapta muito facilmente. São olivas pequenas que vão se tornando negras, gradualmente, conforme maturam e não todas de uma só vez. Seu óleo é de um amarelo esverdeado, marcado por sua fluidez e fragrância frutada. Quando jovem, é sempre muito frutado com notas de grama e amêndoas, uma leve picância e nunca amargor. Devido a seu baixo teor de ácido oléico, deteriora-se rapidamente, perdendo assim suas principais características.

A região catalã é formada por quatro províncias: Barcelona, Girona, Lérida e Tarragona. Esta última é onde está localizado o principal centro de cultivo.


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Barcelona e Girona
Estas são as duas províncias catalãs de menor importância, quando falamos em óleo de oliva, já que grande parte de suas plantações foram destruídas pelo rigoroso inverno de 1956 e nunca mais foram replantadas. Alguns olivais ainda sobrevivem e continuam produzindo óleo de boa qualidade de cultivares locais, e mais recentemente alguns lagares modernos vêm se especializando na produção de azeites de Arbequina de alta qualidade, voltados principalmente para o mercado de luxo.

Lérida
A Denominação de Origem Protegida catalã mais ao norte está localizada na província de Lérida e é conhecida como Les Garrigues. O cultivo de oliveiras nesta área começou por volta do século XIII; porém, hoje, suas principais plantações datam do início do século XIX, quando árvores de Arbequina foram utilizadas para transformar os arbustos, conhecidos como garrigue, em uma fazenda produtora.

Les Garrigues é a DOP espanhola mais antiga, datada de 1973, e representa hoje cerca de um terço de toda a produção da Catalunha. Seu óleo de oliva extravirgem deve ser elaborado por, pelo menos, 90% do cultivar Arbequina e o restante de Verdeal. A DOP se estende por 45 vilarejos, dos quais a maioria possui uma cooperativa onde as olivas são levadas para serem processadas. O óleo de Arbequina produzido nesta região tem potencial para competir com os melhores do mundo e costumam ser um excelente custo benefício.

Tarragona
A região de Tarragona possui aproximadamente 72 mil hectares de oliveiras, divididos em três DOPs: Siurana, Terra Alta e Baix Ebre-Montsià.

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Em Lérida há a Denominação de Origem Protegida mais antiga da Espanha, conhecida como Les Guarrigues, que representa cerca de um terço da produção da região catalã

Siurana
Esta é de longe a mais conhecida e extensa DOP catalã, que produz um óleo de altíssima qualidade. O azeite de Siurana, assim como o de Les Garrigues, deve também possuir ao menos 90% da variedade Arbequina. A diferença está no restante da proporção, podendo ser formada pelos cultivares Rojal ou Morrut, antigas variedades muito comuns na região antes da grande proliferação da Arbequina.

Quando elaborado por azeitonas verdes, colhidas precocemente, seu óleo se caracteriza por uma coloração esverdeada com um retrogosto amendoado. Entretanto, tipicamente o óleo de Arbequina se caracteriza por ser um azeite suave, elaborado por olivas já maduras, originando um óleo dourado e extremamente fluido, por vezes com notas de maçãs, amêndoas, tomate, alcachofra ou ainda frutas exóticas. E é este frutado e delicadeza que tornam o óleo de Siurana tão apreciado.


A Arbequina é praticamente o único cultivar em Lérida e Tarragona, as duas regiões mais importantes para o azeite catalão. Seu óleo é amarelo esverdeado e com fragrância frutada

Baix Ebre-Montsià
Localizada no extremo sul da Catalunha, tem Tortosa como capital, cidade muito ligada ao azeite, já que representa um centro de comércio do óleo de oliva desde os tempos romanos. É também em Tortosa que ocorre uma celebração anual do azeite, a "Fira de l'Oli de les Terres de l'Ebre". Suas oliveiras são cultivadas ao redor do rio Ebro, principalmente os cultivares Morrut, Sevillenca e Farga.

Terra Alta
O cultivo de olivas possui grande tradição nessa região. É lá que encontramos a oliveira mais antiga da Catalunha, a Lo Parot, localizada no vilarejo Hort de Sant Joan, onde viveu Picasso quando jovem. Apesar dessa tradição, Terra Alta é muito mais conhecida por seus vinhos do que por seu óleo de oliva.

Seu principal cultivar é Empeltre, e é justamente ele que deve ser predominante no óleo da DOP, e como variedades secundárias estão a Arbequina, Morrut e Farga. Como a legislação não estipula uma proporção exata, os óleos costumam se diferenciar consideravelmente.

O azeite de Terra Alta costuma ser dourado e suave, amendoado e com um paladar quase doce, podendo ainda ter notas de castanha verde e alcachofra. E é esta suavidade que caracteriza o óleo desta DOP, que pode harmonizar bem com peixes e carnes brancas.

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