Bordeaux 2012

Steven Spurrier analisa as últimas safras de Bordeaux e recomenda os melhores vinhos de 2012

por Por Steven Spurrier


Spurrier degustou a safra 2012 en primeur e, agora, com os vinhos já prontos, suas apostas foram confirmadas

Bordeaux 2012 – muita coisa para gostar, mas no preço certo.

Assim era o título das 26 páginas do panorama sobre Bordeaux 2012 na edição de junho de 2013 da revista Decanter, baseada na visita dos Master of Wine Jeannie Cho Lee e James Lawther, além de mim, no começo de abril para as degustações “en primeur”.

Dezoito meses depois, com os vinhos engarrafados em segurança, a Union des Grands Crus (UGC) começou seu tour pelas maiores cidade da Europa com uma prova no Royal Opera House no Convent Garden de Londres. Este é um dos eventos de degustação do calendário que “é preciso ir”, pois não somente a maioria dos 133 membros estão presentes – apesar de poucos Sauternes desta vez, devido à safra diminuta –, mas também seu proprietários.


Para Spurrier, há muito para gostar nos 2012 e o mercado terá preços razoáveis para os bolsos da maioria de nós

Os vinhos irão mostrar se encaixam-se no potencial que antecipavam quando ainda tinham apenas seis meses de idade, os donos dos Châteaux podem ser questionados sobre a corrente safra de 2014 (de boa a muito boa tanto em qualidade quanto em quantidade), sobre a safra 2013 que ainda está nas caves (pequena em quantidade e apenas de qualidade razoável) e o estado geral do mercado. Quando fui questionado no dia seguinte para fazer um comentário para o site da Decanter, ele foi “muita coisa para gostar, mas no preço certo”.

Com mais de 110 mil hectares no departamento de Gironde que se beneficiam de um clima marítimo, Bordeaux é o maior, mais tradicional e, portanto, referência como produtor de tintos de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot e Petit Verdot e também o referencial para brancos secos de Sauvignon Blanc (e um pouco de Gris), além de brancos doces de Sémillon, Sauvignon e um pouco de Muscadelle. A qualidade desses vinhos tem definido o padrão para esses varietais ao redor do globo, mas, na última década, a qualidade foi menos falada do que o preço. Os 5% top Châteaux – sempre ditos como um bom investimento pelos negociantes para seus clientes – recentemente têm sido objeto de especulação frenética, que atingiu seu auge com as consecutivas “safras do século” 2009 e 2010.


Os Châteaux Canon, Figeac, La Conseillante, Kirwan e Clinet são algumas das apostas “certeiras” de Spurrier

O sistema empregado pelos negociantes de Bordeaux – chamado de La Place, graças ao seu papel central ao longo dos séculos em determinar os preços de mercado – é oferecer os vinhos da safra mais recente “en primeur” depois de degustações no fim de março ou começo de abril. Em um passado distante, os Châteaux tinham poucos recursos e eram forçados a oferecer a última safra com um desconto em relação ao que seria o preço real apenas para cobrir as despesas de gerenciar a propriedade. Os negociantes estiveram no comando até a que excelente safra de 1982 fez surgir o interesse mundial e os Châteaux começaram a se afirmar com as grandes safras de 1989 e 1990, apenas para recuarem feridos com a geada de 1991 em seguida, a chuvosa 1992 e as monótonas 1993 e 1994, sendo salvos pela safra 1995 (Hubert de Bouard, do Château Angelus de Saint-Émilion – recentemente enobrecido juntamente com Château Pavie ao se associar a Ausone e Cheval Blanc como Premier Grand Cru Classé “A” – disse: “Se não fosse por 1995, a maioria das propriedades vizinhas teriam estado à venda”) e apenas foram capazes de se reposicionarem com a safra da “virada do milênio” em 2000. Com a soberba 2005, os produtores tomaram controle dos preços e os negociantes voluntariamente aceitaram suas funções como intermediários essenciais para os mercados nacionais e internacionais.


Os brancos do Château Malartic-Lagraviere são destaque da safra 2012

O sucesso dos vinhos 2012 vem da atenção aos detalhes, tanto no vinhedo quanto na cantina

Uma safra difícil em 2007 e uma leve, mas elegante, em 2008 viram os preços caírem de uma altura que muitos consideraram exagerada – na minha opinião, 2008 foi a última “barganha” de Bordeaux – apenas para serem selvagemente ultrapassadas pela impressionante 2009 e até mesmo superada pela safra mais clássica de 2010 em uma cínica campanha de “meu vinho vale mais do que o seu” pelos top Châteaux – que se arrastou até a Vinexpo em meados de junho. Até então, tudo bem e os donos dos Châteaux (apenas os 5% top, como sempre) estavam cheios de dinheiro e só reduziram os preços em cerca de 20% para a safra 2011 que foi muito sem graça, apenas um pouco mais para a bastante agradável 2012 que teve poucos compradores, e um toque mais baixo para a safra “curto-prazo” de 2013, que não teve qualquer comprador.

A chave para o sistema “en primeur” é que todos, do Château ao consumidor, podem se beneficiar ao comprar um vinho de seis meses de idade, dois anos ou mais antes de poder ser entregue, e geralmente uma década antes de que possa ser bebido. Tenho uma grande adega em minha casa, em Dorset, e como provo esses vinhos em sua infância todos os anos, tendo a colocar minhas apostas logo no início, geralmente comprando diversos vinhos diferentes diretamente de um negociante de Bordeaux para consumo pessoal. Quando menos comprei, desde 1990, foram apenas dois vinhos em 1994 (Leoville-Barton de Saint-Julien e Pontet-Canet de Pauillac, ambos ainda muito bons) e, quando mais comprei, foram 16 caixas de vinhos de 2012 (e mais algumas depois). Contudo, apesar de comprar diretamente, as únicas safras que se mostraram lucrativas para mim na última década foram a clássica 2005 e as “pechinchas” de 2008.


Em Margaux, uma boa escolha é o Château Rauzan-Gassies e, em Pauillac, experimente o Château Pichon-Longueville Baron de Longueville (ao lado)

As melhores apostas de 2012 são os brancos secos em Graves e Pessac-Leognan, e Saint-Émilion e Pomerol com seus Merlot de maturação antecipada

Um artigo recente no site da Decanter feito pela bordalesa Jane Anson, com o título “A safra 2014 pode salvar o ‘en primeur’?”, comparava os preços atuais oferecidos pela La Place para as safras de 2010, 2011 e 2012 com os oferecidos “en primeur”, mostrando um aumento de 0,3% para os 2010, uma perda de 1,48% para os 2011, e elevação de 1,2% para os melhores e mais baratos 2012. Aqueles que compraram no começo terão que considerar a inflação e, na maioria dos casos (não no meu), manter custos enquanto aguarda. Minha reposta para a pergunta de Jane é NÃO. As únicas razões para a compra “en primeur” são que os vinhos ficarão mais caros e/ou indisponíveis futuramente. Isso é verdade para as principais propriedades da Borgonha, já que a produção é muito pequena, mas não mais para Bordeaux.

Segundo Spurrier, as únicas razões para a compra “en primeur” são que os vinhos ficarão mais caros e/ou indisponíveis futuramente. Isso é verdade para as principais propriedades da Borgonha, já que a produção é muito pequena, mas não mais para Bordeaux

Para a clássica expressão da Cabernet Sauvignon e Merlot, Bordeaux é a referência

De volta para 2012. Durante minha semana em Bordeaux em abril de 2013, duas citações se destacaram: “Uma boa surpresa”, de Emmanuel Cruse, do Château d’Issan em Margaux, e “um ano difícil, que não gostaríamos de ter com frequência”, de Charles Chavallier, do Château Lafite-Rothschild, em Pauillac. Concordei com ambos, já que o sucesso desses vinhos precisa vir da atenção aos detalhes, tanto no vinhedo quanto na cantina. Em junho de 2013, Decanter escreveu: “Quem foram os vencedores e perdedores em 2012? O principal perdedor foi Sauternes, onde os rendimentos foram minúsculos e as quantidades variáveis, fazendo com que os Châteaux d’Yquem, Rieussec e Suduiraut anunciassem que não produziriam qualquer vinho sob o rótulo de Premier Cru (apesar de, ao provar em Londres, os sete Châteaux presentes – Climens, Coutet, La Tour Blanche, Rayne-Vigneau, Doisy-Daene, Doisy-Vedrines e Bastor-Lamontagne – estavam condizentes com seu “terroir” e muito bons). Os vencedores foram os brancos secos especialmente em Graves e Pessac-Leognan, Saint-Émilion e Pomerol com seus Merlot de maturação antecipada, e as propriedades do Médoc com dinheiro suficiente para sacrificar a quantidade pela qualidade. A cor era de boa a muito boa, a fruta era franca, taninos presentes, mas equilibrados e álcool ao redor de 13 e 13,5%”.

Já avançando para outubro de 2014, os Master of Wine Sebastian Payne, um comprador de Bordeaux recém aposentado da The Wine Society, disse “serem estes os tipos de clarets que gostaria de abrir em dois ou três anos e beber em suas segundas décadas”. Concordo completamente, pois há muito para gostar nos 2012 e o mercado terá preços razoáveis para os bolsos da maioria de nós, já que os vinhos clássicos de Bordeaux não mais serão encontrados nas mesas dos enófilos.

Prontos para beber agora, mas minimamente abaixo de forma geral que a safra 2012, está a 2008. As safras 2007 e 2011 podem, em minha opinião, ser deixadas de lado e as de 2009 e 2010 são muito caras e, ainda na regra do “compre menos vinhos nas grandes safras e grandes vinhos em safras menores”, deve-se procurar os Crus não classificados nesses anos. Para 2012, dei 19 pontos em 20 para Haut-Brion e apenas uma fração menos para os outros Premier Crus, mas estes têm uma vida e preços próprios. Depois de degustar em Londres, descobri que minhas “apostas certeiras” – o que para mim significa vinhos que representam Bordeaux em seu melhor em uma safra boa, porém não grandiosa, e que portanto trarão grande prazer tanto intelectual quanto emocional em um período de cinco a 15 anos – foram confirmadas. Há tantos Châteaux para recomendar que vou listar apenas os meus vinhos favoritos das propriedades presentes em Londres, muitos dos quais já estão agendados para ingressar na minha adega.

Obviamente que a lista exclui vinhos que não estavam presentes, como Montrose e Calon-Segur de Saint-Estèphe, Ducru-Beaucaillou e Leoville Las-Cases de Saint-Julien, e Palmer de Margaux, todos absolutamente topo de linha. Mas esta lista mostra que a “classe sempre prevalece” e que os melhores Châteaux tendem a produzir os melhores vinhos. Isso é verdade de cima a baixo na pirâmide de Bordeaux e, mesmo que haja poucos vinhos no topo, mais no meio e muitos mais na base, ainda mantenho que, para a clássica expressão da Cabernet Sauvignon e Merlot, Bordeaux é a referência. O preço pode ser um problema hoje, mas o grande Michael Broadbent diz: “Sempre se volta para Bordeaux”.

Apesar de a safra 2012 não ter favorecido a região de Sauternes, pode-se encontrar bons vinhos como o Château La Tour Blanche, por exemplo

Bordeaux 2012 preferidos de Steven Spurrier

Saint-Émilion
Château Figeac
Château Canon
Château Clos Fourtet
Château La Gaffeliere
Château Troplong-Mondot
Château Trottevieille
Château Canon-La-Gaffeliere
Château Beau-Sejour Becot
Château Larcis-Ducasse

Pomerol
Château La Conseillante
Château Gazin
Château Clinet
Château Petit-Village
Château La Pointe

Brancos de Pessac-Leognan
Domaine de Chevalier
Château Pape-Clement
Château Malartic-Lagraviere
Château Smith-Haut-Lafitte
Château La Tour-Martillac
Château Bouscaut

Tintos de Pessac-Leognan
Château Haut-Bailly
Château Pape-Clement
Domaine de Chevalier
Château Smith-Haut-Lafitte
Les Carmes Haut-Brion
Château Malartic-Lagraviere

Haut-Médoc
Château La Lagune
Château Cantemerle
Château Camensac

Margaux
Château Rauzan-Segla
Château Brane-Cantenac
Château Durfort-Vivens
Château Lascombes
Château Kirwan
Château Monbrison
Château Rauzan-Gassies
Château Prieure-Lichine

Saint-Julien
Château Leoville-Barton
Château Leoville-Poyferre
Château Gruaud-Larose
Château Langoa-Barton
Château Branaire-Ducru
Château Saint-Pierre

Pauillac
Château Grand-Puy-Lacoste
Château Pichon-Longueville Comtesse de Lalande
Château Pichon-Longueville Baron de Longueville
Château Lynch-Bages
Château d’Armailhac
Château Batailley

Saint-Estèphe
Château Lafon-Rochet
Château de Pez

Sauternes
Château Coutet
Château Climens
Château La Tour Blanche
Château Rayne-Vigneau
Château Doisy-Daene

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