Excelentes opções para quem pretende apreciar os vinhos de Bordeaux, sem desequilibrar as finanças.
por Marcelo Copello
As últimas décadas viram uma grande mudança no mundo do vinho. Muitos novos rótulos surgiram, de regiões antes pouco ou nada conhecidas. Engana-se quem acha que isso enfraqueceu a imagem dos vinhos clássicos. Bordeaux, por exemplo, continua a ser o arquétipo de vinho. Em boa parte dos Cabernets e Merlots envasados, está implícita uma reverência à Bordeaux. Das uvas ao formato da garrafa, essa região francesa continua sendo a maior referência mundial em tintos.
#R#É bom lembrar que Bordeaux é imensa. São 13 mil viticultores e 9 mil Châteaux engarrafadores de vinho. Esse universo comporta não apenas os grandes ícones, que fazem a fama da região, mas também muitos vinhos ruins, com uma gama de preços que vai do chão à Lua.
Os vinhos da região já sofreram diversas classificações. A primeira e mais famosa é a de 1855, quando os melhores caldos das sub-regiões do Médoc, Graves e Sauternes receberam o título de Grand Cru Classés (em cinco níveis, de 1º a 5º). No topo dessa pirâmide estão os famosos Premier Cru Classés, os Châteaux Margaux, Latour, Mouton-Rothschild, Lafite Rothschild, Haut- Brion e d´Yquem.
Infelizmente, todos os Cru Classés são caros. Uma boa opção para provar Bordeaux de qualidade sem dar em troca um braço ou um rim é escolher dentre os Cru Bourgeois. Essa classificação elegeu pela primeira vez, em 1932, os melhores vinhos do Médoc (dentre os que ficaram de fora do certame de 1855), agrupando-os em três níveis: Cru Bourgeois Exceptionnel (CBE), Cru Bourgeois Supérieur (CBS) e Cru Bourgeois (CB). Os Cru Bourgeois sofrem periodicamente uma reclassificação - a mais recente aconteceu em 2003 e gerou muita polêmica, levando o assunto aos tribunais.
Dos 490 Châteaux que se inscreveram na seleção, apenas 247 receberam o título, gerando insatisfação e acusações. Nove rótulos foram escolhidos como CBE, 87 como CBS e 151 como CB. A polêmica está nos critérios subjetivos adotados, como reputação e terroir, além da degustação, que foi apenas das safras de 1994 a 1999, antigas para uma classificação de 2003.
Brigas à parte, o que importa é saber que os Cru Bourgeois geralmente representam boas compras. Seu estilo geral é de vinhos de médio corpo, frutados, elaborados com predominância de Cabernet Sauvignon, seguida de Merlot, com menos madeira, e para serem consumidos mais jovens que os Cru Classés, entre 5 a 10 anos.
Confira a avaliação de dez Cru Bourgeois feitos por ADEGA, todos bons representantes da categoria:
#Q#
Château Bellegrave 1999 (Impexco, R$ 112). Cru Bourgeois (CB).
Granada escuro. Bom ataque olfativo, já com aromas de evolução, frutas
maduras, cacau, especiarias doces, tabaco, musgo, leves toques animais,
como pelica. Médio corpo, taninos prontos, média acidez, falta estrutura
e elegância.
Château de Malleret 2001 (Zahil, R$ 134), CBS em 2003. Rubi violáceo
escuro, aromas com muitos tostados (café, chocolate, amêndoa torrada)
e frutas maduras (ameixas e cassis) e toques vegetais de musgo e tabaco.
Paladar de médio corpo, boa acidez e equilíbrio.
Château Coutelin-Merville 1998 (Expand, R$ 116,61), CB em 2003.
Rubi escuro. Bom ataque aromático, lembrando ameixas maduras e cassis,
baunilha e alcaçuz, com bom frescor, boa persistência. Entra bem na boca,
com boa acidez, elegante, médio corpo, taninos macios. Falta complexidade
nos aromas e profundidade no paladar.
Château Maucaillou 1997 (Decanter, US$ 53) CBS em 2003. Granada
com reflexos alaranjados. Intenso, etéreo, defumados, couro, tostados,
café, chocolate, cravo. Entra muito bem no paladar, macio, elegante, complexo,
a persistência cai um pouco no final, sinal que já está no limite para
ser consumido.
Château d'Agassac 2001 (La Vigne, R$ 170). CBS. Rubi escuro com
reflexos violáceos, bom ataque aromático com muitas frutas maduras (cassis,
amoras, ameixas), tostados (café), vegetais (tabaco), paladar de médio-bom
corpo, elegante e equilibrado, com taninos finos e macios.
Château du Taillan 2001 (Mr. Man, R$ 120). CBS. Rubi escuro brilhante,
as frutas vermelhas do bosque dominam, demonstrando supremacia da Merlot
no corte, madeira também aparece. Médio corpo, boa acidez, elegante, taninos
macios, pronto.
Château Potensac 2002 (Terroir, 150), CBE em 2003, pertence ao
Château Léoville Las Cases. Vermelho rubi violáceo, muita fruta nos aromas,
com toques de baunilha e tostados, para uma safra difícil como 2002 bom
corpo e persistência.
Château Bernadotte 2001 (Expand, R$ 118), CB. Este Château pertence
a May- Eliane de Lencquesaing, um das figures mais importantes de Bordeaux,
proprietária do Château Pichon Longueville Comtesse de Lalande. Rubi violáceo
escuro, aromas de frutas maduras (cassis), madeira aparece com baunilha,
tostados e especiarias. Paladar de médio corpo, taninos finos e macios,
muito equilibrado e elegante.
Château Larose Perganson 2000 (Grand Vin, R$ 189), CB em 2003.
Rubi violáceo, reflete a safra 2000, mais concentrada, com frutas muito
maduras (ameixas em destaque), madeira aparece bem integrada, frescor
de menta, boa estrutura de taninos, finos e bem presentes.
Château Castera 1996 (Terroir, 140) CBS em 2003. Excelente safra,
em um ótimo momento com quase10 anos de idade. Granada escuro com reflexos
alaranjados, boa complexidade de aromas, dominados por especiarias (canela,
cravo) e toque animais (defumados, couro), além de muitas frutas. Taninos
prontos, bom corpo e muita elegância no palato.
Os Grands Crus | ||
Os nove agraciados com o título Cru Bourgeois Exceptionnel, que poderá ser utilizado a partir da safra de 2003, são: Château Chasse-Spleen (Moulis) A lista completa dos Cru Bourgeois de 2003 está disponível no site
de ADEGA: www.RevistaAdega.com.br. |
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