Os surpreendentes nomes dos diferentes formatos das garrafas de vinho com referências bíblicas
por Por Arnaldo Grizzo
Sete dias antes do Dilúvio Universal, morreu o homem mais velho da Terra. Segundo a Bíblia, Matusalém, oitavo patriarca antediluviano, viveu impressionantes 969 anos. As lendas sobre esse personagem, contudo, vão além da tradição cristã, aparecendo em livros sumérios. Teria sido Noé, seu neto, o primeiro vitivinicultor do mundo. No entanto, o nome de Matusalém é citado quando os produtores de Champagne engarrafam 6 litros.
São várias as referências bíblicas usadas para batizar garrafas de vinho de diferentes tamanhos, mas ninguém sabe dizer exatamente como essa tradição surgiu. A sequência dos nomes tampouco é de fácil entendimento, apesar de, teoricamente, indicarem reis do mundo antigo em ordem crescente de importância – o que não se comprova.
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Mas, antes de chegar aos antigos reis, o primeiro nome interessante a aparecer em uma garrafa é Magnum. Com capacidade para 1,5 litro, ou seja, o equivalente a duas garrafas convencionais, ela recebe esse título por ser “grande”, ou “magnum” em latim. Outro formato cujo nome não vem das civilizações antes de Cristo é o Sovereign, com 26,25 litros, criado pela Taittinger na década de 1980 exclusivamente para o MS Sovereign, o maior navio de cruzeiro do mundo na época.
Outro nome curioso, mas pouco usado, é Piccolo (que significa pequeno, em italiano), para se referir a um vasilhame com 187 ml de conteúdo, o suficiente para pouco mais de uma taça de vinho. No entanto, a maior parte dos nomes refere-se a reis do Antigo Testamento.
Para entender as denominações dos diferentes formatos de garrafa, além de enófilo, talvez seja preciso ser um exegeta, pois boa parte dos termos refere-se aos primeiros livros da Bíblia, em especial aos reis de Israel. O primeiro nome, Jeroboão (usado para a garrafa de 3 litros, também conhecida como Double Magnum), é considerado o primeiro rei de Israel após a divisão do reino em dois – em decorrência da morte de Salomão. Jeroboão teria lutado contra Salomão e depois fugido para o Egito, onde se tornou faraó.
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Após a morte do rei, grande parte dos súditos (10 das 12 tribos originais de Israel) decidiu não seguir o reinado de Reoboão (ou Roboão), filho de Salomão, preferindo Sisaque (título de Jeroboão no Egito) e criando o reino da Samaria. Reoboão (que dá nome à garrafa de 4,5 litros) ainda reinou sobre duas tribos, Judá e Benjamin, no que ficou conhecido como reino de Judá, que mais tarde seria invadido por Sisaque.
Salomão também mereceu receber o nome de uma garrafa, mas, por sua fama, talvez tenham preferido algo ainda mais grandioso – uma vasilha capaz de suportar 18 litros, ou seja, o equivalente a 24 garrafas convencionais.
Filho de Davi, Salomão é um dos mais famosos personagens bíblicos, e seu reinado monumental também possui referências em outras culturas, como a islâmica, em que é tido como o profeta Suleiman. Salomão teria acumulado riquezas imensas, assim como uma enorme sabedoria para legislar. Acredita-se que Salomão tenha escrito o livro Cântico dos Cânticos, da Bíblia.
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Curiosamente, Davi, o grande rei de Israel, que uniu as 12 tribos, não mereceu menção nos nomes de uma garrafa, mas seu famoso “adversário” sim. O gigante filisteu Golias, morto por Davi no famoso episódio bíblico com uma funda, dá nome à garrafa de 27 litros. Segundo relatos, Golias teria 2,92 metros, sendo o homem mais alto da Terra, de acordo com as Escrituras Sagradas.
Depois de homenagear os reis israelitas, a “evolução” das garrafas segue outra linha, a do fim do reino de Israel. Salmanaser (que dá nome à garrafa de 9 litros) teria sido um rei assírio que conquistou a Samaria, expulsando os israelitas do reino. Já Nabucodonosor (15 litros) foi o mais famoso rei da Babilônia. Ele destruiu o Templo de Jerusalém, construído por Salomão, e manteve os judeus cativos por cerca de 60 anos.
Há ainda quem acredite que Baltazar seja uma referência a um dos três reis magos que visitaram Jesus após o nascimento. Baltazar, Melquior (que também dá nome à garrafa de 18 litros, ao lado de Salomão) e Gaspar presentearam Cristo com ouro, incenso e mirra.
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Por fim, o maior formato de garrafa atualmente é chamado de Midas ou Melquisedeque, com 30 litros. Além disso, com 30 litros (40 garrafas convencionais), dá para compartilhar tranquilamente.
1 - 187 ml – ¼ de garrafa, também conhecida como Piccolo
2 - 375 ml – Meia garrafa
3 - 750 ml – Garrafa padrão
4 - 1,5 litro – Magnum
5 - 3 litros – Double Magnum ou Jeroboão (espumantes)
6 - 4,5 litros – Reoboão (espumantes) ou Jeroboão (vinhos tranquilos – Borgonha)
7 - 5 litros – Jeroboão (Bordeaux)
8 - 6 litros – Imperial ou Matusalém (espumantes)
9 - 9 litros – Salmanaser
10 - 12 litros – Baltazar
11 - 15 litros – Nabucodonosor
12 - 18 litros – Salomão ou Melquior
13 - 26,25 litros – Sovereign
14 - 27 litros – Golias ou Primat
15 - 30 litros – Melquisedeque ou Midas