Foram meses preocupantes, cheios de incertezas e algumas boas surpresas. Mas a colheita 2010 no Brasil mostra que alguns vinhateiros já estão prontos para enfrentar os revezes da natureza
por Redação
Uma manhã radiante se espalha na janela do Spa do Vinho, no coração do Vale dos Vinhedos. A beleza e a calma do lugar pedem um longo café-da-manhã. Impossível. É "Wine Day" de vinhos brancos e espumantes na Miolo e, bem cedo, o grupo de jornalistas e turistas se reúne ao enólogo Adriano Miolo na sala de degustações. A programação será corrida, começando com as explicações de Adriano e seguindo para o vinhedo de São Gabriel, dentro do vale.
A intensidade do calor assusta a todos ao subirem o ligeiro aclive para o vinhedo de Chardonnay, onde nos espera o agrônomo Ciro Pavan. Munidos de tesouras de poda, vamos separando os delicados cachos dos braços que os sustentaram durante uma primavera chuvosa e um verão intenso. São belas uvas, doces, delicadas, cultivadas para se transformarem no vinho base do espumante mais importante da empresa. São os primeiros lotes de uvas brancas que estão sendo colhidos, obviamente que não somente pelo esforço esbaforido destes colhedores improvisados. A colheita no vale começou para valer.
A safra de 2010 não foi fácil para os vinhateiros, principalmente no Rio Grande do Sul, onde concentra-se mais de 80% da produção de vinhos finos do país. As chuvas fortes e prolongadas começaram no final de outubro do ano passado, provocando destruição por todo o estado e a perda de muitos brotos de uvas. Somente por conta desse evento os vinhateiros já calculavam perdas de 20% da produção.
Na época do primeiro Wine Day da Miolo, tudo já havia se acalmado e começava- se a colher as uvas brancas que, felizmente, tiveram um verão quente para se desenvolverem. "Nossos espumantes terão a qualidade de sempre e isso é um alívio neste momento", disse Adriano Miolo ao final do Wine Day.
Assim como a Miolo, a Vinícola Salton, no distrito vizinho de Tuiuty, começou a receber suas uvas no final de janeiro e tinha a previsão de processar 18 milhões de quilos (entre uvas finas e de mesa), principalmente para incrementar sua produção de espumantes. O agrônomo da empresa, Agliberto Bianchi, explicou: "As uvas para espumantes não necessitam de uma madurez acentuada. O que importa é sua sanidade. Por isso, estamos acompanhando os produtores e orientando para a colheita em duas etapas, garantindo a qualidade dessa matériaprima tão importante para nós".
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Em meados de fevereiro, as uvas tintas começaram a chegar nas cantinas gaúchas, bem lentamente e com qualidade acima do que esperavam os produtores. Mas os cachos que normalmente geram os melhores vinhos do país ainda estavam nas parreiras e com muito tempo de maturação pela frente |
Quarta-feira de cinzas, 17 de fevereiro
Casa Valduga
O calor continua opressivo, mas sob o abrigo da varanda de pedra do varejo da Valduga, degustamos um espumante assistindo ao pôr-do-sol. Pergunto onde estão os enólogos e recebo a resposta de que trabalharão quase a noite toda. Sigo até a unidade de vinificação para vê-los e encontro João Valduga e Daniel dalla Valle de luvas, na esteira de recebimento, separando manualmente os cachos de uvas brancas Trebianno que serão vinificados em algumas horas, resultando em vinhos encomendados por clientes da Valduga. A unidade está movimentada, com caminhões entrando e saindo dia e noite.
Em meados de fevereiro, as uvas tintas começaram a chegar nas cantinas gaúchas, bem lentamente e com qualidade acima do que esperavam os produtores. Mas os cachos que normalmente geram os melhores vinhos do país ainda estavam nas parreiras e com muito tempo de maturação pela frente. "Esperamos que o verão siga seco, para que as uvas tintas mais tardias ganhem mais dias no parreiral", afirmou o enólogo João Valduga durante uma visita a um de seus parreirais.
A indústria de vinhos no Brasil ganhou, nos últimos anos, uma parte do glamour associado aos vinhos de outros países, tradicionalmente produtores. Mas o glamour não protege ninguém dos revezes da natureza. A tecnologia sim, faz isso. O enólogo Dirceu Scottá, responsável para vinícola Dal Pizzol, se alinha a outros na ideia de que, em safras mais delicadas, o cuidado com o parreiral deve ser redobrado: "O capricho e dedicação ao vinhedo se tornam diferenciais determinantes para a garantia da qualidade da matéria-prima. Estes aspectos confirmam, inclusive, que a escolha do local de implantação do vinhedo em um terreno bem drenado, com bastante insolação e ventilação, resultam em maior uniformidade da produção e, consequentemente, em uma boa safra", explica Dirceu. A Dal Pizzol conseguiu ter uma safra de boa qualidade, mesmo sofrendo algumas perdas de volume, e espera crescer 18% nas vendas em 2010.
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Sexta-feira, 19 de fevereiro
Restaurante Sbornea's
Encontro com o casal Gabriela e Christian para um jantar de amigos no popular restaurante Sbornea's. Mas é impossível não falarmos de trabalho, uma vez que além de presidente da Associação Brasileira de Enologia, Christian Bernardi também é enólogo da WinePark e da Tecnovin. Sua aparência é abatida e seu cansaço explica-se pelo imenso volume de uvas recebidas para suco. As uvas para vinho ele nem começou a colher ainda, à exceção de algumas brancas para os espumantes.
Viver e trabalhar nesse mundo de uvas e vinhos nesta época do ano é estar em alerta constante. Gabriela, também enóloga, é uma executiva de carreira do Ibravin e me conta que não existem finais de semana e nem feriados durante a colheita.
O suco de uva brasileiro encontra, finalmente, o reconhecimento nacional e internacional que sua qualidade garante. O ano de 2009 terminou com um acréscimo de 39,4% na venda de suco de uva natural (com 100% da fruta) no Brasil. A comercialização total de suco (natural, adoçado, concentrado e reprocessado) teve alta de 27,5% de janeiro a novembro, segundo dados do Ibravin. E os produtores se preparam para ganhar ainda mais espaço, participando de feiras internacionais, como a Gulfood, maior feira de alimentos e bebidas do Oriente Médio que ocorreu em Dubai entre 21 e 24 de fevereiro deste ano, reunindo cinco empresas brasileiras.
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"Temos que rever nossos conceitos enológicos e fazer um vinho de acordo com essas uvas. Este ano será bom para produzir belos vinhos macios, menos alcoólicos e mais elegantes", diz Marcos Vian |
Sábado, 20 de fevereiro
Casa Valduga
Pouco antes das 9h da manhã o grupo de turistas começa a se reunir sob os parreirais históricos da Casa Valduga. O sol anuncia mais um dia quente, e as pessoas protegem-se dos insetos típicos dos parreirais com grandes doses de repelente, enquanto tomam suco e comem ovos mexidos com queijo, a tradicional "fortaia" dos colonos italianos.
Juarez Valduga aparece sorridente, tentando esquecer uma forte dor na coluna, que o impediu de descer até as terras da empresa em Encruzilhada do Sul para ir buscar suas preciosas uvas Chardonnay, que fazem o mais importante e bem conceituado vinho branco da empresa. Finalmente elas chegaram ao ponto da colheita. Seu irmão, o enólogo João Valduga, é quem vai até Encruzilhada buscar as uvas em um caminhão refrigerado.
Juarez acompanhará o animado grupo por um dia inteiro de celebração, a Festa da Colheita, que culmina com pisa das uvas ao som de cançonetas italianas e um jantar sob o parreiral iluminado.
Ao circular pelos caminhos do Vale dos Vinhedos e dos distritos vizinhos, mesmo nos finais de semana, percebe-se a intensa movimentação nas plantações e nas cantinas. Poeticamente, João Valduga afirma que é preciso "ler" a parreira para ter uma boa colheita, procurar sinais de stress, fungos e quaisquer problemas que possam prejudicar o fruto e tratá-los com rapidez e sem excessos. "Temos que controlar a ansiedade e deixar que a natureza faça a parte dela. É preciso apostar na planta, mesmo que isso signifique sair da zona de conforto", explica.
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O enólogo Marcos Vian, que atende vinícolas em quatro estados brasileiros, acredita que 2010 foi um desafio para os proprietários. Alguns tiveram que tomar a decisão de não fazer alguns dos vinhos de sua linha e, às vezes, até vender uvas para terceiros. Além disso, tiveram que bancar os altos gastos que os tratamentos necessários à boa sanidade dos vinhedos necessitaram: "Em um de meus clientes, em Guaporé, temos uma área de vinhedos com uma equipe suficiente para realizar o trabalho, mas num ano atípico como este precisávamos do dobro de funcionários (e não é fácil formar mão-de-obra de uma hora para outra), porque tínhamos mais atividades para realizar em menos tempo", disse Marcos.
Por outro lado, ele contou que as influências climáticas foram pouco perceptíveis no Paraná e a safra por lá está muito boa, até mesmo em uma nova região próxima da cidade de Curitiba. E mesmo no Rio Grande do Sul, ele vê uma produção diferenciada: "As uvas estão amadurecendo bem as películas e as sementes, porém o teor de açúcar está um pouco mais baixo do que nos anos anteriores - resultando em menos álcool. Temos que rever nossos conceitos enológicos e fazer um vinho de acordo com essas uvas. Este ano será bom para produzir belos vinhos macios, menos alcoólicos e mais elegantes".
Enquanto isso, dentro das cantinas, os estudantes dos cursos técnicos e superior de enologia de Bento Gonçalves estão todos envolvidos no processamento das uvas. Vestidos com botas de borracha, toucas e camisetas, eles carregam caixas, pesam uvas e as escolhem, manejam as prensas pneumáticas que produzem o primeiro mosto das uvas frescas e medem a quantidade de açúcar presente nesse mosto, que vai sinalizar para os enólogos de cada vinícola o que esperar desse vinho e como prepará-lo para conseguir os melhores resultados.
É uma época crítica para todos, pois um erro agora não poderá ser corrigido mais tarde. E errar parece fácil, quando passam diante dos olhos, na esteira, um mar de grãos que chegam facilmente a 20 mil quilos de uvas por dia.
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Para muitos produtores gaúchos a primeira quinzena de março marcou o final da colheita. Já é possível saber quais foram as áreas mais prejudicadas, embora os números finais de quebra da safra ainda não estejam disponíveis |
Sábado, 13 de março
Pizzato Vinhas e Vinhos
A antiga casa e cantina da Pizzato está passando por uma bem merecida reforma e ampliação, portanto suas instalações estão adaptadas hoje para receber o último grupo de turistas para a Festa da Vindima. Devidamente vestidos com aventais, chapéus e bolsas de pano, seguimos pela estradinha de terra, que separa a propriedade, escutando Plínio Pizzato, homem das videiras, de grande sabedoria e energia. Ele lidera o grupo até um de seus vinhedos, mostrando que a colheita das uvas finas praticamente se encerrou nesta semana. Algumas crianças presentes no grupo se divertem colhendo uvas de mesa no parreiral deixado com o propósito turístico, em meio às videiras da uva Egiodola, com mais de 15 anos.
De volta à sede, tenho a alegria de pisar uvas na companhia de Jane Pizzato, que me confessa não fazer isso desde a infância. É um momento precioso, daqueles para ficarem na lembrança. Contemplamos o parreiral, tomamos um espumante aberto por "seu" Plínio enquanto escutamos ao longe o enólogo Flávio Pizzato explicando aos turistas todos os processos das uvas dentro das cantinas e que a empresa irá vinificar este ano 50 mil litros, um volume praticamente igual ao do ano passado.
Para muitos produtores gaúchos, a primeira quinzena de março marcou o final da colheita. Já é possível saber quais foram as áreas mais prejudicadas, embora os números finais de quebra da safra ainda não estejam disponíveis.
No município vizinho ao Vale dos Vinhedos, Monte Belo do Sul, a colheita também se encerrou na segunda semana de março, mas os produtores por lá estão otimistas, uma vez que a imensa maioria das uvas são para base de espumantes. "Alguns de nós trabalhamos em sistema de cooperativa, então podemos selecionar muito bem as uvas que enviamos para processamento", explica o enólogo Roque Faé, proprietário da Vinhos Faé.
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"Temos produtores que trabalham sério para nós e outros que não fizeram tudo o que pedimos. Para esses não restou alternativa a não ser fazer o caminhão dar meia volta", contou o enólogo Alejandro Cardozo |
Na região que fica ao norte do Vale dos Vinhedos, como Guaporé e Campos de Cima da Serra, a colheita das uvas brancas terminou, mas algumas tintas ainda esperam no parreiral, como a Cabernet Sauvignon (tradicionalmente a mais tardia das uvas) dos parreirais das vinícolas Gheller, Zanella e da Irmãos Basso (em Farroupilha). A previsão é de que essas uvas estejam em boas condições para colheita em mais uns 15 dias - felizmente nesta época as chuvas dão uma trégua tanto no volume quanto na intensidade.
Em Caxias do Sul, onde está localizada a antiga vinícola Piagentini, o processamento das uvas segue acelerado. "Não somos produtores de uvas, então, em um ano como este, comprar uvas foi um trabalho exaustivo. Temos produtores que trabalham sério para nós e outros que não fizeram tudo o que pedimos. Para esses não restou alternativa a não ser fazer o caminhão dar meia volta", contou o enólogo uruguaio Alejandro Cardozo, explicando que chegou a observar perdas até mesmo nas uvas para suco.
Ao sul da Serra Gaúcha fica a região conhecida como Encruzilhada do Sul. Por lá, o ano não começou muito bem, por conta das doenças fúngicas que atingiram principalmente as uvas brancas e as uvas comuns, exigindo tratamentos intensos nos parreirais. Mas, conforme o ano avançou, essa região (que costuma ter um índice pluviométrico bem baixo) conseguiu maturação adequada para muitas das variedades, incluindo a Chardonnay mais tardia da família Valduga e algumas tintas de vinícolas como a Angheben e a Lídio Carraro.
No entanto, em uma região normalmente muito seca, na fronteira com o Uruguai, os estragos foram grandes e informações vindas de algumas vinícolas de Bagé indicam perdas que podem alcançar até 70%, por conta de chuvas.
Empresas como a Miolo, que possuem enormes extensões de vinhedos na região da fronteira (principalmente com a aquisição da Almadén, em Santana do Livramento) conseguirão produzir seus vinhos quase sem problemas, pois a quantidade de parreirais permite um manejo adequado das áreas. Infelizmente, o enólogo Adriano Miolo teve que admitir que os vinhos ícones da empresa não serão feitos neste ano, pois as uvas para esses vêm de parreirais únicos e sua maturação não atingiu o alto patamar exigido para vinhos como o Lote 43 ou o Miolo Merlot Terroir. "Esses vinhos só iriam chegar ao mercado em 2013 ou 2014 e esperamos que tanto as safras anteriores que foram feitas quanto as que estão por vir, nos permitam fazer esses vinhos especiais. Mas sabemos que a vinicultura de qualidade está sujeita a esses percalços", explicou Adriano.
Alguns vinicultores, cujos estoques e tamanho de vinhedos permitiam, escolheram deixar algumas de suas melhores uvas no parreiral por mais tempo. Foi o caso do vinhedo da variedade Cabernet Sauvignon da Valduga, normalmente utilizado para compor seus vinhos mais seletos. Em 14 de março, as uvas permaneciam no parreiral e a empresa ainda calculava que seriam colhidos só no final do mês. "Teremos que colher com muito cuidado e separar os grãos com delicadeza, pois esta é uma aposta alta. Mas acreditamos que teremos um produto excelente", crê Eduardo Valduga.
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Santa Catarina, embora ainda responda somente por uma pequena parte da produção nacional de vinhos finos, trabalha com altíssima qualidade e muito controle. As diversas áreas de cultivo foram afetadas de maneira muito distinta pelo clima. Neste ano, quem estava em regiões mais altas se saiu melhor do que quem estava nas mais baixas |
Segunda-feira, 22 de março
São Paulo
O enólogo gaúcho Jean Pierre Rosier recebe feliz os jornalistas em um elegante restaurante de São Paulo, para provar os vinhos lançados pela Quinta Santa Maria de São Joaquim (SC). E apesar das explicações claras sobre as diferenças dos terroirs catarinenses que ele tão bem conhece, percebe-se que seus pensamentos estão em outro lugar. "A colheita começou hoje", revela ele para o grupo incrédulo. E ele sabe que deveria estar lá. Durante toda a semana que se segue, os telefonemas serão constantes para as várias empresas que recebem consultoria dele, dando detalhes da maturação das diversas uvas tintas (e algumas brancas) que vão chegando às cantinas. Na sexta-feira, dia 26 de março, um "mui ansioso" Jean Pierre revela que "tem Chardonnay linda e no ponto me esperando na câmara fria para ser vinificada amanhã".
Santa Catarina, embora ainda responda somente por uma pequena parte da produção nacional de vinhos finos, trabalha com altíssima qualidade e muito controle. As diversas áreas de cultivo foram afetadas de maneira muito distinta pelo clima. Neste ano, quem estava em regiões mais altas se saiu melhor do que quem estava nas mais baixas.
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A Vinícola Suzin, em São Joaquim, começou a safra com a Pinot Noir, que se revelou com muito melhor qualidade do que esperava seu enólogo Everson Suzin. A Cabernet Sauvignon, estrela de seu vinhedo, ainda espera o momento da colheita, amadurecendo lentamente.
Foi somente em 18 de março que a Sanjo (cooperativa de produtores de frutas, entre elas as uvas finas) começou a prensar suas uvas Sauvignon Blanc, que fazem o mais bem conceituado varietal da empresa. Mesmo sem atingir o mesmo grau de açúcar da primeira (e premiada) safra, as uvas estavam em perfeito estado e os enólogos da empresa estão seguros de que terão bons vinhos.
Também na região de São Joaquim está a Vinícola Pericó, cujo enólogo gaúcho Jefferson Nunes está muito feliz com o resultado da uvas. "Tivemos muitos cuidados extras neste ano difícil. Até mesmo o de utilizar pequenos fogareiros a carvão em variados pontos do vinhedo, para assegurar que o granizo não estragasse as uvas Pinot Noir em seu ponto mais crítico", revelou Jefferson. Com a qualidade garantida, a empresa vai se preparar para lançar um varietal de Sauvignon Blanc neste ano e talvez um de Pinot Noir.
No começo de abril, a vinícola Santo Emílio, localizada em Urupema (SC), havia começado a processar suas Merlot e estava feliz com os resultados: "Ainda não temos nem idéia de quando vamos colher a Cabernet, que segue maturando muito bem", revelou a enóloga Patrícia Poggere. Ela contou que as chuvas fortes e o granizo tiveram que ser controlados com rigor, mas que a empresa não sofreu grandes perdas.
O vice-presidente da ABE (Associação Brasileira de Enologia) e enólogo da Casa Valduga e da Domno, Daniel dalla Valle, resume o que foi a safra de 2010: "Quem se deu ao trabalho de cuidar de seus vinhedos e supervisionar rigorosamente os produtores associados, conseguiu colher uvas boas, mas, quem deixou tudo nas mãos da natureza, sofreu com certeza. Da maneira profissional, como a vitivinicultura no Brasil tem sido conduzida por alguns produtores, esta safra serviu para separar os engaços amargos dos doces grãos. Quem trabalhou sério, produziu bem, ainda que em menor quantidade".
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Domingo, 4 de abril
São Paulo
Enquanto termino de escrever, penso em alguns dos rótulos em minha adega esperando o momento de serem provados. Algumas garrafas do ótimo ano de 2005 estão ainda por lá, descansando na companhia de safras mais novas. Em vista de tudo o que vi e ouvi durante a colheita deste ano, questiono-me sobre o que estará em minha adega da safra 2010. Espumantes, com certeza, uma vez que nossos produtores já aprenderam a fazê-los de forma exemplar. Alguns brancos interessantes, amadeirados ou não, tanto de Santa Catarina quanto do Rio Grande. Vai ser divertido prová-los. Para a grande maioria dos tintos, especialmente os de Santa Catarina (de onde espero os vinhos mais intensos e encorpados), ainda é cedo para saber. Mas tenho confiança de que não faltarão tintos gaúchos mais delicados, menos alcoólicos, com um estilo capaz de surpreender muita gente. Será um ano de enorme diversidade.