Terroirs do Brasil

Em um país de proporções continentais, a produção de vinho no Brasil vai descobrindo os melhores lugares e delimitando seus terroirs. E ADEGA ajuda você a desvendá-los

por Silvia Mascella Rosa

João Ramos / Bahiatursa
O clima úmido e subúmido do Brasil favorece o cultivo de castas que resultam em vinhos mais frescos e aromáticos

Um cheiro morno de palha fresca está no ar quando o visitante decide conhecer a área de vinicultura mais radical do Brasil, o semiárido do Nordeste, entre os estados de Pernambuco e Bahia. Empurrado pelas massas que sopram da Amazônia, o ar atravessa estados e muda de temperatura e aroma quando atinge os picos gelados de São Joaquim, em Santa Catarina, chegando frio ao pulmão, com o distante odor de maçãs. Nessa longa viagem rumo ao sul, ele se encontra com a umidade dos vales da Serra Gaúcha, perfumados pelas videiras antigas, e chega ao pouso final na Campanha, aberta, imensa, onde todos os cheiros dessa longa jornada se dispersam num horizonte de plantações.

O conjunto desses aromas e contornos se combina para formar o mapa da vitivinicultura brasileira, uma jovem e bela silhueta de uma indústria que finalmente atinge um nível de profissionalização que lhe permite reconhecer e estudar seus territórios e terroirs.

Na época das capitanias hereditárias, no século XVI, as uvas portuguesas que chegaram ao Brasil nas caravelas foram plantadas no litoral do atual estado de São Paulo e não vingaram. Subiram a Serra do Mar para a cidade e ali, com o frio mais intenso e menor umidade, começaram lentamente a produzir.

Mas a história das zonas de vitinivicultura no Brasil, com uma breve e pouco conhecida saga na região das Missões, no extremo oeste gaúcho no século XVII, só veio ganhar contornos nítidos no século XIX, com a imigração italiana. Ainda assim muito longe do que reconhecemos como terroir hoje.

Aliás, o conceito de terroir para a vitivinicultura foi recentemente revisto pela OIV (Organização Internacional da Uva e do Vinho, com sede na França) e, segundo o pesquisador e especialista em Zoneamento e Indicações Geográficas da Embrapa, Dr. Jorge Tonietto, atualmente significa uma área na qual o conhecimento coletivo das interações de clima e solo, com o desenvolvimento das práticas de produção, resulta em um produto diferenciado e característico dessa área. "Desse novo ponto de vista o Brasil ainda está descobrindo e construindo seus terroirs", afirma Tonietto.

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O conceito de terroir foi revisto pela OIV e atualmente significa uma área na qual o conhecimento coletivo das interações de clima e solo, junto com o desenvolvimento das práticas de produção, resulta em um produto diferenciado e característico dessa área

De cima para baixo
O fato de ainda estarmos engatinhando em nossa história vitivinícola, em relação aos países do Velho Mundo, não quer dizer que o Brasil não saiba quem é e o que faz. Longe disso: a nossa recente história já se desenrola em um mundo onde a comunicação é rápida, a pressão do mercado é enorme e a tecnologia está ao alcance de todos, fazendo com que os passos sejam mais largos do que os de outros países produtores.

Nossas zonas de produção são diferentes de todo o restante do mundo. O pesquisador Jorge Tonietto estudou o clima de todas as regiões que produzem uvas para vinhos (para dar suporte às pesquisas das novas Indicações Geográficas Brasileiras) e explica que temos condições climáticas únicas no mundo, não apenas no diferenciado Nordeste, mas também nas áreas mais antigas e bem estudadas, como as do Rio Grande do Sul: "O Brasil não tem o clima mediterrâneo do qual desfruta boa parte da Europa, nem a aridez quase desértica da Argentina e de algumas áreas do Chile. Por aqui temos o clima úmido e subúmido que, se por um lado prejudica algumas variedades de uva - que podem perder concentração e teor alcoólico -, por outro lado favorece castas e vinhos mais frescos, aromáticos e delicados, que poderão ser a nova cara do país no futuro", explica.

fotos: João Ramos / Bahiatursa
Represa de Sobradinho, no rio São Francisco, que garante água para a produção de uvas no sertão nordestino

Nordeste
Começando do Nordeste, a mais impressionante região produtora de uvas para vinhos finos do país, centrada no paralelo 8o, que seria - em simples termos estatísticos - um local impossível para a produção de vinhos (o mapa do globo mostra as mais importantes regiões de produção concentradas entre os paralelos 30o e 50o), a nossa vitivinicultura pode ser tropical, em uma área onde o sol brilha por mais de 3 mil horas por ano e o inverno praticamente não existe.

É nesse terroir radical que crescem (bem) as uvas Shiraz, Chenin Blanc, Moscatel e Touriga Nacional, entre outras que vêm se adaptando a condições jamais imaginadas por vinicultores há apenas 40 anos.

Giuliano Elias Pereira, enólogo e pesquisador da Embrapa em Petrolina, conta que os vinhos produzidos no Nordeste são muito diferentes de produtos das mesmas variedades vindos de plantas cultivadas na França, no Chile ou nos Estados Unidos: "O grande diferencial da região é o desenvolvimento contínuo das plantas, devido às altas temperaturas (média anual de 26,5oC), à radiação solar, à alta disponibilidade de água para irrigação e às características do solo e seu manejo, que fazem deste um terroir sem comparação", explica.

O Nordeste vem chamando a atenção das empresas, pois, na região, é possível cultivar variedades diferentes das do sul do país, que entram na cantina para serem transformadas em vinho obedecendo a um calendário que não lota a vinícola em nenhum momento (a colheita pode esperar uma semana ou um mês) e, obtêm vinhos com maior teor de açúcar, mais fáceis de beber e com preços muito competitivos. Essas são algumas das características que atraíram para a região nomes como Miolo e Dão Sul (a vinícola portuguesa), que transformaram alguns produtores de vinagre e vinhos de mesa em produtores de vinhos finos. As duas cidades que concentram ao seu redor as vinícolas e as plantações são as vizinhas Casa Branca (na Bahia) e Lagoa Grande (em Pernambuco).

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Sudeste e Centro Oeste - Em meio a incertezas
A vitivinicultura dos estados de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso e Paraná está em mutação. São Paulo, principalmente na cidade de São Roque, já teve mais de 100 vinícolas, que hoje não passam de uma dúzia, com a enorme maioria focada em vinhos de mesa (o que também acontece na cidade de Jundiaí), preparados com uvas americanas, as únicas que resistem ao clima úmido e ao tipo de solo que ocupa boa parte do estado. Existem, é claro, exceções, como a Vinícola Góes que, numa parceria com a gaúcha Venturini, vem fazendo um esforço para ter em São Paulo um bom parreiral de uvas finas, especialmente Cabernet Sauvignon, favorecida pelo verão quente e pelo inverno frio dessa área do estado.

Minas Gerais e Mato Grosso têm algumas pequenas propriedades com uvas finas, em geral Syrah e Merlot, que vêm sendo vinificadas no Rio Grande do Sul e ainda não se consolidaram como regiões produtoras.

Já no Paraná, especialmente na cidade de Toledo, no oeste do estado, parece que os ventos quentes fazem uma curva e lá já chegam mais refrescados, possibilitando um cultivo mais ordenado, em uma região fértil e importante pela produção de grãos. É lá que se estabeleceu a vinícola Dezem, pioneira nos vinhos finos do estado, que conta com um relevo plano característico dessa região e o clima temperado, com invernos frios e com geadas. As uvas mais importantes de lá são das castas francesas, como Cabernet Franc e Sauvignon, Merlot e Chardonnay.

Do outro lado do estado, avizinhando-se da capital Curitiba, no município de Colombo (o que mais imigrantes italianos recebeu em todo o estado) uma vinícola tradicional de vinhos de mesa decidiu iniciar um projeto de vinhos finos e, em alguns poucos hectares no planalto paranaense, vem cultivando Chardonnay e Cabernet Sauvignon. A vinícola chama-se Franco-Italiana e também possui parreirais no Rio Grande do Sul.

- Nordeste, sudoeste do estado de Pernambuco e centro-norte do estado da Bahia, grandes planícies. Chuvas concentradas entre janeiro e março/abril, altas temperaturas e insolação. Principais uvas: Syrah, Touriga Nacional e Petit Verdot (tintas), Moscatel e Chenin Blanc (brancas)

- Paraná, oeste do estado e região próxima de Curitiba, altitudes médias em planalto, chuvas de verão e inverno rigoroso. As uvas principais são as castas francesas tradicionais

- Santa Catarina, centro do estado (Caçador e Campos Novos) com altitude média para alta (acima de mil metros), invernos rigorosos e primavera mais seca, no sul do estado a região de São Joaquim é ainda mais fria, sujeita a geadas tardias, a colheita ocorre em abril. As castas são as francesas tradicionais

- Rio Grande do Sul: Campos de Cima da Serra, no norte do estado, frio e alto, com uvas como Pinot Noir, Sauvignon Blanc e Viognier. Serra Gaúcha, no centro norte do estado, com grande diversidade de altitudes nas subregiões e alguma variedade de temperatura, clima tendendo para úmido. Muitas castas francesas tradicionais e algumas italianas. Serra do Sudeste, descendo em direção da Campanha, formada por planícies de invernos longos e boa amplitude térmica, com primavera mais seca, ali se cultivam castas diferenciadas como Marselan, Arinarnoa, Teroldego, Nebbiolo entre outras clássicas francesas. Campanha Gaúcha, divisa com Uruguai e Argentina, vastas planícies com estações bem marcadas e verões mais secos. As uvas são Cabernet Sauvignon, Tannat, Tempranillo, Gewürztraminer, Viognier entre outras.

Em Santa Catarina, o cultivo de castas finas é favorecido pelo clima frio e alto relevo do estado

Santa Catarina - Vinhos de guarda do frio
No estado de Santa Catarina, de relevo e clima de enorme diversidade, as uvas para consumo in natura e para vinhos de mesa sempre prevaleceram até que alguns produtores, apoiados por pesquisadores da área de enologia, começaram a ter indícios de que as áreas altas e frias do estado poderiam favorecer o cultivo de castas finas, como as francesas Cabernet Sauvignon e Chardonnay.

Não apenas eles estavam certos, como o estado trouxe para a vitivinicultura brasileira uma diversidade e um potencial para fazer vinhos longevos até então desconhecido no país.

O pesquisador e doutor em enologia Jean Pierre Rosier trabalha no estado há 26 anos e explica que a vitivinicultura está, atualmente, concentrada em três áreas: São Joaquim, Caçador e Campos Novos, todas elas em altitudes que vão dos mil até 1.400 metros acima do nível do mar.

Em um estado onde são registradas as temperaturas mais baixas do país e neve (geralmente na cidade de Urubici, vizinha de São Joaquim), o clima é ao mesmo tempo mãe e madrasta: "O frio desloca o ciclo vegetativo da planta, permitindo que ela amadureça fora das chuvas de verão e dando uma enorme diferenciação de aromas e de estrutura, inclusive aumentando a quantidade de resveratrol. Mas, da mesma maneira, uma boa parte do estado está sujeita às geadas tardias de novembro, que podem acabar com os brotos e diminuir drasticamente a produção, que já é cara devido ao tipo de solo, bom, mas muito pedregoso", conta o enólogo, que é consultor de diversas empresas do estado.

Sívlia M. Rosa
Vinhedos da Vinícola Pericó (na página ao lado) e Quinta de Santa Maria

Mas como o potencial de fazer vinhos diferenciados é enorme, muitos empresários de outras áreas resolveram investir na região e lentamente os resultados começam a aparecer, mesmo com as dificuldades impostas pelo terroir inclemente e pouco explorado. É de lá que vem os vinhos da Santa Augusta, da Quinta da Neve e da Suzin por exemplo, sem contar o primeiro e mais raro vinho brasileiro, o Icewine da vinícola Pericó. Lançado no ano passado, suas uvas precisam ser colhidas congeladas, em temperatura negativa de menos de -6oC. O feito, até então único no Brasil, se repetiu neste ano, com as uvas sendo colhidas a -9oC, no mês de junho.

fotos: Sílvia M. Rosa
"Em Flores da Cunha temos colinas mais suaves, boa drenagem e mais horas de frio",
Edegar Scotergagna, enólogo da Luiz Argenta

Rio Grande de Sul
A mais conhecida e explorada região brasileira é a do estado do Rio Grande do Sul. As tradições nasceram ali e muitas das inovações também, favorecidas pela imigração italiana do final do século XIX, que trouxe consigo as uvas europeias e os métodos de produção

Infelizmente, no entanto, o clima e o solo do estado não favoreceram, naquela época, a produção das uvas finas, logo substituídas pelas uvas americanas ou híbridas. Ainda assim, alguns produtores teimaram e resistiram e novas terras foram sendo exploradas, até que lentamente e por uma série de fatores as uvas viníferas começaram a ganhar qualidade e espaço nas plantações.

Atualmente o Rio Grande do Sul é uma macroregião que pode ser dividida em quatro regiões:
1- Campos de Cima da Serra, perto da cidade de Vacaria no norte do estado, com altitudes e clima frio mais parecido com Santa Catarina do que com o restante do Rio Grande do Sul. Essa região vem sendo explorada recentemente e seu clima auxilia a produção de uvas que apreciam o frio, como a Sauvignon Blanc e a Pinot Noir;
2- A grande região da Serra Gaúcha, que engloba importantes subregiões, entre elas a mais famosa do país, o Vale do Vinhedos, as cidades de Garibaldi, Farroupilha, Bento Gonçalves e seus muitos distritos, e Flores da Cunha;
3- Serra do Sudeste que tem no município de Encruzilhada da Serra o ponto de encontro de muitas áreas de produção de uvas, pertencentes a empresas importantes como a Chandon, a Casa Valduga e a Vinícola Angheben, entre outras;
4- Campanha Gaúcha, uma enorme área de divisas, cuja produção de uvas e vinhos está hoje concentrada nas cidades de Bagé, no leste do estado, e em Dom Pedrito e Santana do Livramento, no oeste, com um clima que favorece as uvas que necessitam de longa maturação e aquelas que apreciam verões mais secos, como a Tannat, por exemplo.

O Rio Grande do Sul possui enorme variedade de climas e de geografia, que favorecem vários tipos de uvas e a produção de muitos estilos de vinhos. Uma de suas principais vantagens é estar próximo (e a Campanha está praticamente dentro) dos paralelos mais bem estudados para o cultivo das vinhas.

As regiões de Flores da Cunha e Nova Pádua já estão em processo avançado de obtenção de Indicações de Procedência. Na foto desta página, vê-se os vinhedos da Luiz Argenta, de Flores da Cunha. Na página ao lado, o Spa do Vinho no Vale dos Vinhedos

No entanto, mesmo em áreas bem conhecidas, a diversidade é uma constante. Quem explica é o enólogo Daniel dalla Valle, da Casa Valduga, que também é diretor técnico da Associação dos Produtores do Vale dos Vinhedos, a Aprovale: "A parte da Serra do Sudeste é um dos melhores climas do estado, pois é quase uma planície, com pequenas ondulações, bem arejada e com boa drenagem de solo. O único inconveniente da região é que ela é sujeita a longas estiagens, quando é preciso irrigar as plantas que podem entrar em stress hídrico. Já no Vale dos Vinhedos, o clima é de montanha, com alta umidade e insolação menor. No entanto, é uma área explorada há mais de 100 anos, que já se adaptou ao que nós determinamos e nós nos adaptamos às suas características. Sabemos quais os melhores clones e porta-enxertos, sabemos quais as melhores cepas e como tratá-las. No Vale, que está para se tornar a primeira Denominação de Origem brasileira, está o nosso terroir mais conhecido", conta o enólogo.

Produção de uvas e vinhos da Campanha Gaúcha está concentrada nas cidades de Bagé, no leste do estado, e em Dom Pedrito e Santana do Livramento, no oeste. Lá, o clima favorece uvas que necessitam de longa maturação e que apreciam verões mais secos, como a Tannat, por exemplo
A Serra Gaúcha abriga em suas subregiões as vinícolas mais importantes e os terroirs mais estudados

"Terroir é ambiente e produto com características próprias".
Dr. José Fernando Protas, pesquisador da Embrapa

Entre pequenos e grandes
A Serra Gaúcha concentra em suas diversas subregiões as vinícolas mais importantes do país e também os terroirs mais estudados. É por conta disso que dela fazem parte as duas Indicações de Procedência já aceitas pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Esse certificado indica que as duas IPs (do Vale dos Vinhedos e do distrito de Pinto Bandeira) seguem normas que regulamentam a produção dos vinhos e os cuidados com a plantação.

"Estamos em processo avançado de obtenção das IPs da região de Flores da Cunha e Nova Pádua (através da Associação dos Altos Montes) e de Monte Belo do Sul (que congrega três municípios), cujos pedidos devem ser entregues ao INPI ainda neste ano, e estamos trabalhando fortemente com a Associação dos Produtores de Farroupilha para obter uma Indicação para os Moscatéis produzidos por lá, que têm características próprias desse terroir" conta o dr. Jorge Tonietto.

João Ramos / Bahiatursa

Já a Campanha Gaúcha, com suas enormes extensões de terra, deverá iniciar um projeto de inovação tecnológica através da Embrapa, que visa, a longo prazo, a obtenção também de uma IP (assim como no Vale do São Francisco também está começando a fazer), mas, como essas regiões estão se desenvolvendo de forma mais racional, controlada e tecnológica, estima-se que o conhecimento circule de maneira muito mais rápida. "Esse é um desafio também econômico, pois todas as fases de estudo, inovação tecnológica e de campo representam um refinamento da organização da produção, que levará - no futuro - ao conhecimento profundo de cada terroir do país e de suas potencialidades", afirma o Dr. José Fernando da Silva Protas, pesquisador especializado em sócioeconomia, que coordena a rede de Centros de Inovação Tecnológica em Vitivinicultura pela Embrapa, em parceria com o Ministério da Ciência e da Tecnologia.

VINHOS AVALIADOS

Bueno Cuvée Prestige 2008R$ 6089 pontos
Courmayeur MoscatelR$ 2187 pontos
Cuvée Excellence ReserveR$ 3589 pontos
Don Giovanni Brut NatureR$ 6487 pontos
Kranz Brut Rosé 2010R$ 3286 pontos
Pericó Basaltino 2010R$ 4788 pontos
Pizzato Chardonnay 2010R$ 4088 pontos
Viapiana Sauvignon Blanc 201R$ 3386 pontos
Rio Sol Reserva 2008R$ 3587 pontos
Santa Colina Estilo Tannat 2009R$ 1386 pontos
Sozo Reserva Pinot Noir 2009R$ 4086 pontos

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