En Primeur 2010

Como será a nova fase dos produtores de Bordeaux com o mercado?

por Douglas Andreghetti


Parece que os deuses sorriram novamente para Bordeaux em 2010. O tempo ajudou e os vinhos responderam com grande equilíbrio e alta acidez, que dá maior longevidade e estrutura nos taninos. Na opinião de muitos, 2010 é uma safra clássica de Bordeaux, enquanto 2009 é uma safra mais redonda, mais fácil de beber.



O clima durante a safra 2010
A safra de 2010 foi marcada por um ano muito seco, com pouca chuva em abril e maio, e algumas pancadas entre junho e setembro, época que os cachos amadurecem (ver tabela). O rendimento médio de 2010 (40 hl/ha) foi menor que 2009 (45 hl/ha).

O ano foi mais ensolarado que 2005 e 2009, mas não fez tanto calor. Mesmo assim, acabou provocando maiores índices de álcool na fruta (Mission Haut-Brion teve 15,1%, por exemplo).

A colheita foi também mais tardia que 2005 e 2009, e sua maior virtude foi o momento certo para sua retirada pelos produtores (ver tabela). Nas palavras de Pierre Lurton, diretor técnico do Château Cheval Blanc, a safra de 2010 foi colhida “à la carte”, ou seja, no momento e na forma desejada pelos produtores.


A influência dos chineses no mercado
Uma nova safra traz sempre expectativas de como o mercado vai recebê-la, e também de qual será o preço pago pelos seus vinhos. Com a entrada forte dos chineses nesse mercado a partir de 2005, a relação entre produtores e consumidores mudou muito. O sistema de classificação de 1855 em Bordeaux é de fácil compreensão para eles, já que conta com uma tabela estável, com apenas 61 vinhos em cinco diferentes níveis.

Diferentemente do mercado norte-americano, que adquiriu Bordeaux - En Primeur em altos volumes de 1995 a 2007 – guiado praticamente pelas notas de Robert Parker –, o mercado asiático não se importa muito com a safra e a pontuação.

Só que fazem tudo muito mais rápido. Eles simplesmente escolhem os melhores rótulos e compram o que estiver mais barato, começando obviamente pelos mais graduados da margem esquerda (Lafite, Latour, Margaux, Mouton e Haut-Brion), mas não com tanto empenho nos top da margem direita (Pétrus, Ausone e Cheval Blanc), pois a classificação lá é mais instável ou inexistente.


2010 foi um ano muito seco em Bordeaux
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Foi assim que vinhos de safras como 1997 e 2007, com fraco desempenho em qualidade e pontuação, foram praticamente adquiridos pelos ávidos chineses. Assim também como os segundos vinhos produzidos pelos grandes Châteaux, como Carruades de Lafite, Forts de Latour, Pavillon Rouge, Petit Mouton e Bahans Haut-Brion (agora chamado Clarence), que subiram muito de preço puxados por seus “irmãos mais velhos”.


Alta de preço
Mas até quanto esta alta de preços pode atingir? Vinhos como Mouton Rothschild agora não saem por menos de 500 euros a garrafa e o Carruades (segundo vinho do Lafite Rothschild) tem preço médio atual de 350 euros. Isso é preço no atacado lá em Bordeaux. Imagine, então, no Brasil com os impostos...

Muitos dos grandes importadores chineses já confessaram que puxaram demais os preços dos Premier Crus e dos seus respectivos segundos vinhos, e, por isso, agora estão à procura dos demais vinhos na classificação.


Margaux está sendo considerado o vinho da safra 2010

Os destaques de cada região (pela ordem de preferência)
É claro que nas grandes safras de Bordeaux, os melhores produtores atingem o auge e ficam mais fáceis de avaliar, mas, mesmo assim, seguem algumas opiniões gerais colhidas durante o En Primeur 2010: - Château Margaux foi o vinho da safra
- Margaux e Péssac-Léognan foram as regiões mais homogêneas
- 2010 foi o ano da Cabernet Sauvignon
- A Merlot parece passada demais (over-riped)
- Os brancos e doces foram os melhores desde 2007

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VINHOS DE DESTAQUE POR REGIÃO

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PROVA EM BARRICA
Degustar um vinho en primeur significa avaliar um fermentado que está há, mais ou menos, seis meses em barrica e ainda demorará mais dois anos para ficar pronto. “Você está olhando para uma criança, que ainda vai ser adulto. Realmente, é um pouquinho complicado de degustar”, diz Matthieu Péluchon, diretor de vendas da importadora World Wine.

Robert Parker é o principal nome quando se fala em prova en primeur. “Ele pode ter muitos defeitos, mas já tive a oportunidade de degustar com ele e é impressionante. É um exercício diferente de degustação, mas é interessante”, conta o executivo da World Wine.

“Não tem ninguém especialista em prova en primeur. Em uma semana, concentramse todos os degustadores, jornalistas, especialistas em Bordeaux. É um encontro em que se vê todo mundo. Posso dizer uma coisa: depois de um dia de degustação de Bordeaux, você fica com os dentes e dedos todos pretos. É um tipo de vinho com tanino, com gosto de madeira, e, de fato, mancha tudo. É um vinho, talvez, um pouco mais fácil de degustar num primeiro momento, mas, depois, muito mais complexo de ter que imaginar como vai evoluir”, avalia Péluchon.

E é exatamente esse exercício de imaginação, de avaliar como um vinho “bebê” estará daqui a dois – ou cinco, ou 10 ou 15 anos –, que vai fazer com que os preços sejam fixados na Place de Bordeaux. Boas avaliações significam que os valores serão maiores, obviamente. Contudo, Parker (assim como outros avaliadores) costuma voltar aos Châteaux todos os anos para reavaliar os vinhos em barrica, assim como reavalia os já engarrafados. E, dependendo de sua interpretação, sua nota pode subir ou descer. E isso significa que o preço pode oscilar.

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