35ª

Enrique Tirado apresenta safra 2021 de Don Melchor

Ótimas condições originaram blend de Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot

O enólogo Enrique Tirado assumiu o ícone Don Melchor, da Concha y Toro, em 1997 - Divulgação | Acervo pessoal
O enólogo Enrique Tirado assumiu o ícone Don Melchor, da Concha y Toro, em 1997 - Divulgação | Acervo pessoal

por Christian Burgos

A primeira safra de Don Melchor, o ícone da Concha y Toro, ocorreu em 1987. Dez anos depois, Enrique Tirado passou a ser o enólogo desse que se tornou uma referência para os grandes vinhos chilenos.

Quem acompanha a história desse clássico sabe que a evolução foi notável ao longo dos anos, e muito disso se deve ao trabalho discreto e ponderado de Tirado, que, em visita ao Brasil para apresentar a 35ª safra de Don Melchor, relativa ao espetacular ano de 2021, aproveitou para explicar como esse trabalho evoluiu.

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“No final de 1996, numa ocasião especial, fui ao vinhedo, observei e percebi que ele nos mostrava caminhos, expressões e tempos de maturação diferentes. Gosto de velejar, e quando você está navegando, olha a água do mar e escolhe qual caminho seguir. Quando olhei para as vinhas, era a mesma sensação, era como olhar para o oceano, ver cores, ver caminhos diferentes. O vinhedo nos mostrou que caminho seguir. Você pode escolher caminhos diferentes, e foi isso que a vinha mostrou. Finalmente, é como você chega ao seu destino, como chega ao seu objetivo final”, conta Tirado.

“Então, naquele momento, pensei: temos que dividir isso. E começamos a estudar os solos, as vinhas e, o mais importante, a expressão de cada vinho, de cada parcela. Estudamos isso durante quatro ou cinco anos, fizemos uma tese de doutorado na Universidade de Paris sobre o terroir de Don Melchor; e, conhecendo o solo, as vinhas, os vinhos... finalmente dividimos este vinhedo, que tem 127 hectares, em 151 pequenas parcelas”, aponta.

“Cada uma das parcelas é uma expressão do Cabernet Sauvignon. Todas têm a personalidade, o caráter de Don Melchor, mas há diferenças. Uma expressará mais fruta vermelha, outra expressará mais concentração, mais taninos, vinhos mais encorpados, outra expressará mais notas florais. Depois, por fim, é uma mescla de Cabernet Sauvignon. E o mais interessante é como chegamos na mescla final a partir dessas parcelas, desse quebra-cabeça, pois é só um vinhedo, mas como o incrementamos para chegar à expressão final do vinho? Desde o início, pensei que, para conseguir esse incremento na expressão do vinho, cada peça, cada elemento desse vinhedo de Puente Alto tinha que ser trabalhado”, pondera.

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Enrique compara a produção de Don Melchor à Fórmula 1, na qual se compete no mais alto nível de qualidade com os melhores do mundo. Ele enfatiza a importância de manter a personalidade do vinho enquanto se busca a perfeição em cada safra. E a colheita de 2021 no Chile parece que trouxe condições ideais para elevar o patamar do vinho mais uma vez. Segundo Tirado, a safra de 2021 é composta por 93% de Cabernet Sauvignon, 4% de Cabernet Franc e 3% de Merlot. O Petit Verdot não foi utilizado.

“A safra 2021 foi climaticamente perfeita, poderíamos dizer que saiu de um livro. Quando precisávamos do tempo mais frio, estava frio; quando precisávamos de mais calor, estava mais quente; quando precisávamos das chuvas, choveu; tudo no seu momento perfeito, com uma maturidade que nos permitiu economizar energia e trouxe a delicadeza; 2021 é uma safra que mostra muito claramente aquela dualidade de Puente Alto, aquela mistura de energia, finesse, expressão, intensidade, pureza. Há uma vibração, uma certa tensão, mas em harmonia, do começo ao fim, com texturas delicadas. Don Melchor é um vinho que tem bom corpo, mas sempre controlado, com uma intensidade moderada, refinado.”

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Ele compara 2021 com 2018, pois ambas as safras foram semelhantes em termos climáticos gerais. No entanto, a safra de 2018 teve uma precipitação maior, enquanto a safra de 2021 teve uma chuva significativa no final de janeiro, que influenciou o período de maturação.

Tirado comenta que, na safra de 2018, "quando fizemos a mistura, juntamos os melhores lotes e estava pronto". Já na safra de 2021, "foi necessário trabalhar em detalhes, porque algumas parcelas tinham muito caráter, muita intensidade, o que podia dominar o equilíbrio”. Ele descreve a safra de 2018 como "um vinho mais transparente, que mostra imediatamente tudo", enquanto a safra de 2021 "vai mostrando camadas”.

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