Aos pés dos Andes

Uma degustação vertical no Viñedo Chadwick

ADEGA participa de uma prova vertical do ícone Viñedo Chadwick ao lado do enólogo Francisco Baettig

Christian Burgos
Christian Burgos

por Christian Burgos

Alfonso Chadwick Errázuriz era um dos melhores jogadores de polo de sua época. Ele começou sua carreira no esporte nos anos 1930. Por muitos anos, ele foi o capitão da seleção chilena, levando-a a vencer 19 campeonatos abertos, apenas um abaixo do recorde do Guinness. Sua paixão era tamanha que decidiu construir seu próprio campo de polo em meio aos vinhedos da Viña San José de Tocornal, no Maipo, quando a adquiriu nos anos 1940.

Don Alfonso assumiu o controle da Viña Errázuriz em 1983. Nove anos depois, seu filho, Eduardo Chadwick conseguiu convencê-lo a abrir mão do campo de polo e transformá-lo em um vinhedo. Alfonso, infelizmente, faleceu no ano seguinte, sem poder apreciar os grandes vinhos que surgiriam desse terroir monumental.

Recentemente fomos recebidos em Viñedo Chadwick por seu enólogo chefe, Francisco Baettig, para uma vertical e uma conversa sobre o vinho e sobre o terroir deste campo de polo de onde nascem três dos maiores ícones chilenos. Esta degustação não só revela o potencial de guarda deste grande vinho, como a jornada da visão de vinho de Eduardo Chadwick e Francisco Baettig nestas mais de duas décadas.

Solo clássico

Francisco Baettig

Em uma volta pelo vinhedo, Baettig fez questão de explicar a essência do terroir. Segundo ele, Viñedo Chadwick “representa o solo aluvional clássico para Cabernet”.

“Acho que o Cabernet Sauvignon vai muito bem em cascalho também, como em Bordeaux. Mas aqui temos esse solo que é profundo e, em uma primeira camada, que não é tão grande, com um pouco mais de argila. Ou seja, não é um solo tão rico em toda a sua profundidade, pois um pouco mais abaixo tem esse monte de pedras – em alguns setores com 50% ou mais. Há uma drenagem muito boa, mas há um pouco de retenção de umidade, porque tem cerca de 15% de argila, mais ou menos, contudo todo o excesso de água escoa e, como é muito profundo com pedras, o desenvolvimento da raiz é maravilhoso. Acho que este é o lugar do Cabernet”, diz.

Segundo ele, “Cabernets em áreas com solos coluviais com mais argila, sempre têm taninos pouco mais duros”. Sobre o clima, Baettig aponta que “estamos relativamente perto das Cordilheiras, como no Piemonte, então temos uma influência da brisa matinal da Cordilheira que refresca um pouco. Ou seja, é um lugar onde conseguemos amadurecer o Cabernet muito bem, mas é uma maturação longa, suave, onde os aromas, a cor, a acidez ficam bem preservados e os vinhos têm toda aquela intensidade de frutas vermelhas frescas. Para mim, a combinação de solo e clima para Cabernet é muito boa”, garante.

Viñedo Chadowick
Vinhedos recebem a influência da brisa matinal da Cordilheira que refresca um pouco

Ele conta ainda que o vinhedo já teve também Carménère. “Havia quando o vinhedo tinha acabado de ser plantado, em 1992, mas não amadureceu bem aqui. O ano de 1999 foi a primeira safra de Viñedo Chadowick e, como foi um ano ultraquente, funcionou relativamente bem. No ano seguinte, não foi muito bem, então foi retirado. Hoje, os 15 hectares são de Cabernet e tem um hectare de Petit Verdot que foi plantado em 2005”, finaliza. Confira a vertical de Viñedo Chadwick a seguir.

VIÑEDO CHADWICK 2000
AD 95 pontos

Viñedo Chadwick, Maipo, Chile (Diversos importadores – Não disponível). Sempre um privilégio voltar a degustar a colheita histórica do Berlim Tasting. Uma colheita fria, com inverno chuvoso, temperatura fresca até o início do verão, que recuperou o calor e o ciclo. Textura e fruta que misturam Bordeaux e Toscana, pelo uso de madeira e o perfil terroso. Frutas e especiarias vivíssimas e com décadas pela frente. Folhas secas do bosque, ervas, cedro e tabaco. Em boca, é superlativo em sua suculência e persistência. 100% Cabernet Sauvignon, com 18 meses de passagem por barricas novas de carvalho francês. Álcool 14%. CB

VIÑEDO CHADWICK 2010
AD 94 pontos

Viñedo Chadwick, Maipo, Chile (Diversos importadores – Não disponível). Uma safra com clima moderado. Um belíssimo vinho nesse momento, mas as especiarias começam a falar mais que a fruta. Belo balsâmico, que anda junto com a madeira e o cedro. Mais quente, com seus 14,5% de álcool, com taninos de boa estrutura. O fim de boca tem lácteo, chá e amora. 100% Cabernet Sauvignon com 22 meses de passagem por barricas de carvalho francês, sendo 95% novas. CB

VIÑEDO CHADWICK 2015
AD 96 pontos

Viñedo Chadwick, Maipo, Chile (Diversos importadores – Não disponível). Uma safra excelente, moderadamente quente com boas condições de madurez. Uma mudança de paradigma com uso de foudres e uma das primeiras versões com mudanças na colheita e no manejo dos vinhedos evitando o stress hídrico. O resultado é um vinho com 13,5% de álcool, elegante no nariz e na boca. Flor, fruta, ervas. No palato, mostra cerejas e ameixas frescas, acidez bem marcada e taninos potentes. Frutas azuis se apresentam à medida que vai abrindo em taça e ganhando temperatura. Belíssimo! Ainda muito jovem e com no mínimo mais duas décadas em ascensão. 100% Cabernet Sauvignon, 85% passou 22 meses por barricas de carvalho francês (sendo 73% novas) e 15% passaram por foudres. CB

VIÑEDO CHADWICK 2020
AD 95 pontos

Viñedo Chadwick, Maipo, Chile (Diversos importadores – Não disponível). Um ano quente e seco, onde lograram um grande vinho graças ao manejo de vinhedos, agora regam mesmo no inverno quando esse se apresenta seco. Fruta vermelha muito boa, lembrando ameixas. Taninos de muito boa qualidade com textura granulosa e toques secos de café, envoltos por um toque cítrico que refresca. Em taça, vai revelando frutas azuis maduras. O nariz é maravilhoso e a boca foi a parte desafiadora para o enólogo. Muitos bons anos pela frente. 100% Cabernet Sauvignon, 22 meses de passagem por madeira, sendo 75% por barricas de carvalho francês novas e 25% em foudres. Álcool 13%. CB

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