Vinícola de D. Alfonso Iglesias é fundamentada na arquitetura andaluz e une tradição, vinho e arte
por Lidiane Ferreira
![]() |
![]() |
Detalhes da fachada da Viña Extremeña são inspirados no palácio Alhambra, símbolo da cultura árabe na Espanha, em oposição à modernidade dos tanques de armazenagem |
A sudoeste da península ibérica,banhada pelo oceano atlântico, está a comunidade autônoma espanhola de Extremadura, composta pelas províncias de Badajoz e Cárceres. É neste clima, muito semelhante ao mediterrâneo, que se localiza a vinícola Bodegas Viña Extremeña, propriedade de D. Alfonso Schlegel Iglesias, na cidade de Almendralejo - conhecida como "Cidade da Cordialidade" e também como "Cidade Internacional do Vinho" -, interior de Badajoz.
O atual proprietário é da quarta geração da família de D. Alfonso Iglesias Infante, que há mais de cem anos se dedica à produção de vinhos e que fundou, no início do século XX, o Grupo Familiar Alcoholes Iglesias e a vinícola Bodegas Iglesias. Setenta anos mais tarde, sob a gerência de Schlegel, a centenária propriedade da família passou por significantes reformas em suas instalações, entre os anos de 1996 e 2002.
Nascia assim, a holding familiar Bodegas Viña Extremeña, que passou a concentrar todos os negócios do antigo grupo. Em treze anos de existência, a nova vinícola já recebeu muitas condecorações na Espanha e, em 1997, foi uma das mais premiadas do mundo.
![]() |
Salas de envelhecimento têm capacidade para até 10 mil barricas |
Inspiração moura
O projeto da grande reforma é do arquiteto espanhol Francisco Hipólito Ojalvo, especialista em construção moderna e religiosa, além de professor da Universidade de Extremadura. Dando forma às idéias de Schlegel, ele projetou uma vinícola imponente e funcional. Toda em branco e ocre, a sensação é de que se está em uma propriedade da região de Andaluzia, já que a construção da vinícola foi toda inspirada nos prédios árabes típicos da região mais meridional da Espanha, uma exigência do proprietário.
A província de Badajoz, onde está a cidade de Almendralejo, faz divisa, ao sul, com a Andaluzia, da qual fazem parte os territórios de Sevilla, Córdoba, Cádiz, Málaga, Granada, Almería, Huelva e Jaén. Todas estas regiões, durante oito séculos, foram ocupadas pelos mouros (até a reconquista de Granada em 1492 e a total expulsão dos árabes por volta de 1600), que deixaram profundas marcas na cultura de sua população.
O palácio de Alhambra, em Granada, construído no século XIII - durante a ocupação na Península Ibérica - foi a principal fonte de inspiração arquitetônica da Extremeña, pois, com muitos arcos, arabescos, jardins e tijolos de argila, esta construção é um marco da cultura moura na Espanha.
Natureza
Um enorme jardim com um espelho d'água compõe a fachada da vinícola. Nele, são cultivadas mais de 1400 plantas, de cerca de 400 espécies do mundo, e todas adaptadas ao clima da região. Introduzida por este jardim, está a chamada Sala de Producto de Acabado, local de armazenamento do vinho em condições de entrega. Para se manter uma temperatura homogênea, evitando que o vinho sofra alterações, esta sala é revestida com materiais isolantes especiais.
São mais de 1.100 hectares de vinhedos na propriedade, onde as cepas Tempranillo, Cabernet Sauvignon, Merlot, Shiraz y Garnacha são cultivadas em solos pouco profundos e pouco férteis, gerando assim uma produção menor, mas em favor da qualidade. Certificada com o ISO 9002 (Certificado de Qualidade),Viña Extremeña possui três salas de envelhecimento de vinho com capacidade total para dez mil barricas, cuja maioria é nova. Uma delas é subterrânea e se subdivide em pequenos compartimentos. Já as outras duas salas, não subterrâneas - construídas na última reforma de 2002 -, contam com humificadores automáticos que, através de sensores, detectam e corrigem a porcentagem de umidade do ambiente.
Para fermentar a bebida, Extremeña conta com uma capacidade de armazenar em diferentes depósitos 8 milhões de litros de vinho. Todos esses depósitos possuem refrigeradores para controlar a temperatura da fermentação. Além disso, a vinícola também conta com 33 tanques de 44 mil litros de capacidade cada. E é na própria vinícola que ocorre o engarrafamento do fermentado.
Arte
Mas, não só aos vinhos Extremeña se dedica. A vinícola possui três museus: um de arte contemporânea, que abriga originais de Dalí, Miró e Picasso; um museu de arte sacra - com mais de 200 peças desde o século XV -; e outro, dedicado exclusivamente ao vinho, com acervo de mais de 700 decanters de inúmeras partes do mundo. Além de abrir exposições itinerantes. E esta união entre arte e vinho faz com que, não por acaso, todos os anos, mais de vinte mil pessoas visitem as instalações da Bodegas Viña Extremeña.
+lidas
Sour Grapes: história do falsificador famoso que foi parar no Netflix chega ao seu capítulo final
Uma das mais poderosas damas do vinho, Philippine de Rothschild morre aos 80 anos
Armand de Brignac lança maior garrafa de champanhe rosé do mundo
Qual é a temperatura de serviço ideal para cada tipo de vinho?
Maria Antonieta ou Madame Pompadour: de quem é o seio que moldou a taça para champagne?