Pesquisa apontou que música interferiu determinantemente em uma prova de vinhos
por André De Fraia
Já é conhecido dos enófilos o fato de algumas vinícolas utilizarem música ambiente específica em suas salas de barricas para “embalar” o envelhecimento de seus vinhos.
Talvez um dos mais conhecidos seja o caso dos cantos gregorianos que ressoam 24 horas por dia e sete dias por semana na sala de barricas da vinícola argentina Kaiken que pertence à chilena Montes em um fenômeno conhecido como “Envelhecimento sônico”. A ideia é que o vinho evolua de uma melhor forma diante de certo acordes.
A Master of Wine Susan Lin diz que pode “melhorar” o vinho já na sua taça apenas com música. Além de recém-formada como Master of Wine, ela ainda é mestre em piano clássico e musicologia e fez o teste de colocar uma plateia escolhida a dedo em uma degustação acompanhadas de “cinco peças musicais” como ela chamou, afinal, a quinta não era bem uma música, mas sim o silêncio.
Entre os degustadores havia bebedores sociais, estudantes de Master of Wine, sommeliers e profissionais da indústria do vinho que receberam as mesmas cinco taças de Veuve Clicquot às cegas e a pesquisadora tocou cada peça musical aleatoriamente acompanhando cada uma das taças.
Em cada degustação – do mesmo vinho – os participantes foram solicitados a classificar cada taça por sua complexidade, qualidade da fruta presente, perlage e frescor, mas também deveriam dizer o quanto eles gostaram, ou não, do vinho e da música, permitindo assim que Susan quantificasse como cada parâmetro musical impactava na percepção sensorial do degustador.
“O que escutamos ou não quando comemos e bebemos tem implicações na percepção. Uma folha de alface americano crocante está fresca, é a nossa intuição auditiva que nos dá a dica”, diz Susan. O nome oficial desse campo de estudo é “percepção crossmodal” ou “percepção cruzada” e o objetivo é apontar como as pessoas fazem conexões entre estímulos aparentemente não relacionados como paladar e olfato com audição.
O resultado, segundo a pesquisadora, foi muito claro, a música melhorou muito a experiência para os participantes se comparado ao momento de silêncio: “Quando degustado em silêncio, o Champagne foi menos apreciado, anotado como menos fresco, menos frutado e menos complexo entre todos os outros”, contou Susan.
Dos 71 participantes apenas um percebeu que se tratava do mesmo vinho em todas as degustações. Os outros 70 afirmaram que estavam bebendo Champagnes diferentes e mesmo a única pessoa que afirmou que todas as taças eram do mesmo produto, admitiu que as suas percepções foram alteradas com cada música tocada.
A teoria da Master of Wine é de que os parâmetros de cada composição musical (timbre, tom etc.) podem ser extraídos de quase qualquer gênero musical para causar efeitos semelhantes, e não necessariamente com a música clássica – que alguns dos participantes do estudo dela afirmaram nem apreciar. Isso pode ter ramificações interessantes, que vão além do prazer proporcionado por uma taça de vinho, pois pode ser utilizado na promoção e venda de rótulos, em degustações e festas e até mesmo para criar uma “assinatura” musical para um determinado vinho, que o identifique imediatamente, como fazem tantas empresas na publicidade. “A música é um fenômeno que nos dá tanto prazer, dor e tudo mais. Se a música pode nos fazer sentir tanto, pode tornar o que comemos e bebemos mais interessantes”, diz a pesquisadora.