No coração de Mendoza, a Melipal integra simplicidade, praticidade e elegância, harmonizando-se com a paisagem local
por Alexandre Saconi
Diversos vales no mundo destacam- se por sua beleza na composição da paisagem, emoldurando montanhas que espreitam ao redor. Isso é uma constante na região de Mendoza, na Argentina. Berço de grandes vinícolas do país, a arquitetura local é sempre destaque internacional na enoarquitetura contemporânea. Um dos exemplos, aliando simplicidade e modernidade, é a vinícola Melipal.
Situada em Luján de Cuyo, no coração deste vale, esta vinícola de 87 hectares está sob a administração da família Aristi, que produz o Melipal e o Ikella. A idade do vinhedo principal, o Finca Las Nazarenas, é de mais de um século. Ali, em seus mais de 25 hectares de uvas Malbec, a irrigação permanece igual há décadas, sendo realizada através do sistema tradicional de sulcos. Seu outro vinhedo, o Finca Melipal, conta com 62 hectares. Seu objetivo é a recuperar terras onde antigamente havia vinhedos de alta qualidade.
O prédio principal é imponente e foi projetado por três jovens arquitetos da região. Uma de duas características mais marcantes é a harmonização com a Cordilheira dos Andes. O edifício se recosta entre vinhedos e vai ao encontro da paisagem que o rodeia. Lá, os visitantes encontram uma vista única de todas as plantações de uva em seu entorno, e pode desfrutar de uma das melhores paisagens do Piedemonte Mendocino. A construção abriga desde a parte administrativa até os tonéis de inox, utilizados na fermentação. O conjunto arquitetônico mantém um caráter contemporâneo. As linhas incorporam- se majestosamente aos materiais mais modernos, como o alumínio e o aço inoxidável. Entretanto, suas bases artesanais e as pedras de seus taludes imprimem certa rusticidade, em um contraste encontrado freqüentemente em construções do mundo do vinho.
Outra característica fundamental da vinícola são seus dois eixos principais: um paralelo ao Cordón del Plata, e o outro, ao sentido da plantação. Não à toa, este também coincide com o acesso ao prédio. Um dos propósitos é facilitar o acesso das uvas colhidas, para que sejam encaminhadas ao processamento, no interior da construção. O transporte também é facilitado pela distância: todos os pés de uva localizam-se a uma distância de até um quilômetro da bodega. Dessa maneira, as uvas chegam sempre com um bom ponto de maturação, além de serem colhidas de madrugada, aproveitando o clima fresco que o horário proporciona.
O pé-direito foi idealizado para não se impor sobre as parreiras. Apesar disso, não está indiferente. Feito de alumínio, ele reflete o sol com majestade e brilho. A fachada é desenhada com tiras de aço inox, que também imprimem um toque de modernidade e projetam a luz do sol sobre os visitantes e os parreirais. No interior, tanques de inox mostram que é possível abrigar tecnologia e tradição sob um mesmo teto. Os corredores, amplos e largos, são interrompidos apenas por uma passarela interligando os topos dos tonéis.
Para estabelecer um espaço funcional, sem perder a elegância, no extremo oeste do edifício encontra-se um espaçoso loft. O telhado é inclinado para cima, quebrando qualquer possível monotonia nas linhas do prédio. No ponto mais alto, pode-se observar as melhores vistas que o entorno natural oferece. E, nesse mirante, beber uma bela taça de vinho contemplando o Piemonte argentino.