Pirataria

Famosa bebida dos piratas, Rum é uma instituição de Barbados, onipresente na vida de seus habitantes

por Cesar Adames

De todas bebidas destiladas, talvez o rum seja a que mais histórias e lendas possua. Muitas verda­deiras e outras tantas falsas, que só contribuem para aumentar o folclore e a fama de bebida dos piratas.

O surgimento do rum pode ter uma ligação muito forte com o Brasil e com a cachaça de Per­nambuco, que já era produzida no começo do século XVI. Os holandeses ocuparam o estado pernambucano de 1630 a 1654 e, quando foram expulsos, levaram para o Caribe as técnicas de destilação da cachaça. Na época, os engenhos do Nordeste utilizavam o melaço de cana, e não seu suco, para a produção da bebida.

Outros relatos, no entanto, dizem que o rum foi criado em Barbados mesmo antes de a ilha receber esse nome. Uma receita de 1640, conhecida como “Kill Devil”, fazia referência às propriedades medici­nais da bebida e também ao mau humor provocado por uma ressaca quando ingerida em grande quan­tidade. A receita foi publicada pelo inglês Richard Ligon, que visitou a ilha em 1647 e morou lá por três anos. Em 1657, ele escreveu a receita no livro “True & Exact History of the Island of Barbados”.

Barbados é uma das muitas ilhas que ficam no Caribe, com um clima temperado o ano todo, o que facilita o plantio da cana-de-açúcar, ma­téria-prima do rum. A ilha foi colonizada pelos ingleses em 1627 e foi colônia britânica até que obteve sua independência, em 1966. Seu nome vem de algumas árvores com cipós longos pen­durados em sua copa, e foi dado por navegadores portugueses que estiveram por lá entre 1500 e 1600, quando faziam a rota para o Brasil.

A primeira receita de rum de Barbados foi publicada em 1657 por um inglês que morou na ilha


O que é rum?

Rum é uma bebida alcoólica obtida a partir do caldo de cana-de-açúcar fermentado, que é trans­formado em melaço e, posteriormente, destilado. Ele é primo da cachaça, que destila somente o fermentado de cana.

Alguns especialistas defendem a tese de que a palavra rum deriva de “Rumbullion” ou “Rumbus­tion”, expressões usadas pelos ingleses para descre­ver os excessos provocados pelos bêbados. Outra possibilidade é a palavra vir do latim “saccharum”, que significa açúcar.

O mais interessante é que, durante o século XVII, a bebida era indicada para curar doenças e expulsar os demônios do corpo. Em 1775, ela era a bebida mais vendida na América, substituindo o uísque como símbolo de resistência aos ingleses. Seu con­sumo per capita era de aproximadamente 18 litros.



#Q#

O mais antigo do mundo
Produzido em todo o Caribe, o rum tem várias marcas que merecem ser provadas. No entanto, a mais antiga do mundo ainda em funcionamento fica em Bridgetown, Barbados. Produzido pela Mount Gay Distilleries Ltd, que pertence ao gru­po francês Remy Cointreau, o rum Mount Gay tem quase 310 anos de história. Fundado em 1703, tem em seu nome uma homenagem a Sir John Gay Alleyne, primeiro barão de Four Hill, um aristocrata inglês amigo de John Sober, primeiro proprietário da destilaria. A ideia de Sober era dar um toque aristocrático à bebida e conseguir uma melhor aceitação nos países da Europa. Em pou­co tempo, o rum caiu no gosto dos marinheiros ingleses que, segundo a lenda, ofereciam barris como presente ao chegar à Inglaterra como prova de que eles realmente haviam cruzado o Atlânti­co. Tempos depois, a marca profissionalizou sua produção e fez a bebida ganhar mares e gargan­tas mundo afora. Atualmente, a destilaria produz cinco tipos de rum. Os mais interessantes são o Extra Old (extremamente suave e redondo, com graduação alcoólica de 45%) e o novíssimo Mount Gay Eclipse Black (tem 50% de álcool, toque de banana-passa e persistência em boca muito boa).

Durante o século XVII, a bebida era indicada para curar doenças e expulsar os demônios do corpo


Outra marca muito famosa na ilha é a Cockspur, criada por Valdemar Hanschell em 1884. Descen­dente de dinamarqueses, ele chegou a Barbados depois de ter passado pelas Ilhas Virgens, onde tra­balhou por diversos anos com serviços de navegação. Quando na ilha, montou uma empresa que fornecia suprimentos para os navios que paravam no porto, um dos mais movimentados naquela época. De to­dos os suprimentos oferecidos, o rum era o que mais fazia sucesso e por conta disso decidiu se dedicar to­talmente à sua produção.

Além dessas duas, que são as principais marcas produzidas em Barbados, é possível encontrar mar­cas elaboradas pela Richard Seale’s & Co. Ltd. Distillery, como o Doorly’s, St. Nicholas Abbey, Old Brigand e Foursquare – um rum com gradu­ação alcoólica de 37,5% e um toque de especia­rias como pimenta, canela e cravo, o que o torna extremamente aromático.


Uma das cerca de 12 mil rum shops da ilha


A marca de rum mais antiga do mundo, Mount Gay, data de 1703



Rum Shop
Com o tempo, o rum virou uma instituição na­cional em Barbados, presente em todas as mesas, fazendo parte da culinária local. O que mais se vê na ilha são os chamados “rum shops”, casinhas co­loridas de madeira. Na verdade, qualquer botequim se autodenomina rum shop, que nada mais é do que um bar que vende cerveja, rum e, quase sempre, ser­ve comida caseira.

São cerca de 12 mil rum shops em Barbados, uma média impressionante para uma ilha com cerca de 300 mil habitantes. As bebidas ali servi­das são geralmente apreciadas puras ou “on-the­-rocks”, mas ainda é possível encontrar o drinque mais famoso de lá, o “Rum Punch”. A bebida faz sucesso entre os turistas e pode ser perigosa, pois esse coquetel de frutas esconde o teor alcoólico do rum. Assim, você vai bebendo sem sentir e, quando vê, já era: o punch lhe derrubou. O pior é que, em muitos locais, eles servem um Rum Pun­ch genérico totalmente artificial, com corantes e conservantes, o que é uma pena, pois, com tanto rum de boa qualidade, é besteira perder tempo com essa mistura industrial.

IMERSÃO TOTAL
Para quem gosta de gastronomia, vinhos e rum, uma boa pedida é o Barbados Food & Wine and Rum Festival, que acontece todos os anos em novembro em Bridgetown, capital de Barbados. Durante o festival, que dura três dias, cerca de 3 mil pessoas têm a oportunidade de provar pratos elaborados por chefs estrelados de diversos países, experimentar grandes vinhos e visitar destilarias de rum, provando diferentes marcas e estilos.

palavras chave

Notícias relacionadas