Os compostos presentes no café e seus efeitos no nosso organismo
por Juliano Ribeiro*
Dentre as diversas classes de compostos químicos presentes no café, a maioria delas apresenta uma ou mais substâncias importantes para o bom funcionamento do organismo e, consequentemente, a manutenção da saúde.
Observando a classe dos alcaloides encontrados no café, podemos citar a cafeína, que é, sem dúvida alguma, seu composto mais conhecido e controverso. Durante anos, ela foi taxada por muitos de vilã ou de aliada da saúde devido aos estímulos divergentes que pode causar ao sistema nervoso central.
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Assim, quando consumida moderadamente, ela é geralmente associada ao aumento da atenção, da capacidade de aprendizado e da performance física. Porém, sua ingestão excessiva pode provocar, em algumas pessoas, efeitos negativos como arritmia cardíaca, irritabilidade, ansiedade, agitação, dor de cabeça e insônia. Contudo, não é só relacionado à cafeína que o café deve ser citado, pois outros compostos presentes na semente também possuem papel importante.
Outro alcaloide encontrado na bebida – até mais importante para o funcionamento do corpo se comparado à cafeína – é a trigonelina. Mas não é propriamente esta substância que é benéfica ao corpo, mas, sim, o produto gerado por ela durante a torra dos grãos, a niacina. A niacina, também conhecida como vitamina B3, é uma substância importante para o metabolismo humano, mais especificamente no metabolismo energético celular e na reparação do DNA.
Essa vitamina ainda é responsável pela remoção de certas substâncias químicas tóxicas do corpo, na produção de hormônios sexuais e relacionados ao estresse. A presença de compostos como a niacina faz do café um dos únicos produtos que, mesmo depois de um processo térmico tão drástico como a torra, produz compostos importantes que aumentam seu valor nutricional.
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Na classe dos ácidos clorogênicos, alguns de seus representantes apresentam atividades antioxidantes, tais como os polifenóis, responsáveis pela diminuição ou retardamento do envelhecimento celular. Outros compostos pertencentes a esta classe apresentam ainda atividades farmacológicas importantes, tais como propriedades hipoglicêmicas, antivirais e protetoras hepáticas. Atualmente, são várias as pesquisas científicas envolvidas no estudo desta classe de compostos.
Dentre os minerais encontrados no café, vários possuem papéis primordiais na manutenção da saúde. O cálcio e o magnésio, que estão em maiores quantidades, por exemplo, são fundamentais para o fortalecimento de ossos e dentes, além do funcionamento adequado do sistema nervoso e imunológico, contração muscular, coagulação sanguínea e pressão arterial.
Já o ferro é um componente da proteína hemoglobina, responsável pelo transporte de oxigênio pelo corpo. O zinco, por sua vez, é conhecido por intervir no metabolismo de proteínas e ácidos nucleicos (DNA), colaborando no bom funcionamento do sistema imunológico e na cicatrização de ferimentos. Por fim, potássio e sódio são eletrólitos importantes para a transmissão nervosa, contração muscular e equilíbrio de fluidos no organismo.
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Devido ao processo de torra, ocorre quase que total degradação dos açúcares encontrados no grão, tais como a sacarose e a glicose. Assim, o café torrado apresenta baixíssimas calorias, sendo considerado por muitos uma bebida naturalmente dietética.
O café ainda é fonte de diversos lipídios insaturados, como os ácidos linoleico e oleico, que são mais saudáveis e funcionam como isolantes térmicos do corpo, protegendo os órgãos internos e também fornecendo energia. Além disso, auxiliam na absorção de vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), fornecem saciedade ao organismo e produzem hormônios.
Por fim, o café pode ainda ser considerado uma fonte de aminoácidos essenciais, tendo no triptofano seu principal representante.
*Juliano Ribeiro é doutor em química pela UNICAMP, pesquisador do IAC – Instituto Agronômico de Campinas – e especialista em café.
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