Champagne não se resume apenas a Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier
por Beto Duarte
Algumas uvas esquecidas da região fazer parte da produção dos espumantes assim como as castas mais clássicas
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Quando falamos das uvas de Champagne, prontamente surgem os nomes das tintas Pinot Noir e Pinot Meunier, além da branca Chardonnay, que correspondem a quase 100% das cepas plantadas na mais famosa região produtora de espumantes do mundo, que conta com 33.868 hectares. No entanto, meros 0,3% das plantações não são dessas três aclamadas cepas.
Arbane, Petit Meslier, Blanc Vrai (o nome champenois da Pinot Blanc) e Fromenteau (também conhecida como Pinot Gris) são as quatro variedades “esquecidas” autorizadas pelo Comitê de Champagne, mas muito pouco usadas na produção das famosas borbulhas. Cerca de 300 anos atrás, 50% dos vinhedos de Champagne eram plantados com Pinot Gris (Fromenteau). No entanto, quando os produtores começaram a ver a qualidade do vinho de seus vizinhos do sul (da Borgonha), substituíram Pinot Gris por Pinot Noir e Chardonnay.
Com o passar do tempo, essas variedades foram ficando para trás e perderam espaço, mas não deixaram de existir, tampouco foram “desautorizadas”. Há quem diga que essas uvas não podem ser replantadas, pois seriam mais suscetíveis a geadas, míldios, botrytis, além de terem menor rendimento. Mas isso não é verdade, ou seja, para muitos, essas castas não valem a pena pelo risco.
Ainda assim, alguns produtores simplesmente mantiveram suas parcelas com as antigas variedades e até hoje engarrafam um pouco dessa história. São apenas 100 hectares de vinhedos. Desses hectares das chamadas “uvas ancestrais”, 80 são da Blanc Vrai (Pinot Blanc).
Fromenteau (também conhecida como Pinot Gris) pode fazer parte do blend de Champagne
Diante dos milhares de blends “convencionais” com Chardonnay e as duas Pinots, há quem produza raras cuvées com as antigas variedades. A família Laherte, por exemplo, criou a Les 7, com as sete variedades e cultivo biodinâmico. Ela é feito a partir de uma única parcela em Chavot plantada com videiras antigas da família. O vinho ainda é feito usando um método de “reserva perpétua” ou “solera”, ou seja, sete barris de vinho de reserva que repousam em barricas (10 anos de idade), e todos os anos esses barris são misturados com o vinho da nova safra em um tanque. Os sete barris são então reabastecidos e o que sobrou é engarrafado. Todos os anos a mistura é aproximadamente 60% de vinho novo com 40% de reserva.
Já Michel Drappier precisou contrariar a vontade de seu pai para evitar que uma parcela de Arbane fosse arrancada de sua propriedade. André Drappier enfrentou a dificuldade do pós-guerra, reergueu o negócio da família, mas perdeu a queda de braço com o filho, que lançou a cuvée Quattuor Blanc de Blancs com as ancestrais Arbane, Petit Meslier e Blanc Vrai, acompanhadas pela Chardonnay.
François Moutard tem na lembrança o dia em que estava entre os vinhedos, plantados com Arbane em 1952, por seu pai Lucien, e um dos dirigentes do comitê perguntou (sugerindo): “Por que não arranca as ancestrais e planta as mais rentáveis?” Ele simplesmente levantou os ombros e não respondeu. Pelas leis da denominação, as uvas são autorizadas e ponto final. Hoje a Cuvée Moutard 6 Cépages (Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier, Arbane, Petit Meslier e Pinot Blanc) é disputada pelos importadores de todo o planeta e pode ter em breve o reforço da Fromenteau como sétima variedade.
Benoit Tarlant, da Champagne Tarlant, é uma referência em Champagne orgânico, tem prestígio e uma cuvée rara (e cara) chamada BAM!. O nome, além de significar uma expressão de surpresa diante de tamanha acidez, é a sigla das uvas Blanc (Vrai), Arbane e Meslier (Petit). Ela também é produzida com o método de “reserva perpétua”.
Esses produtores se sentem guardiões das tradições de Champagne e não apenas isso. Sentem-se visionários. O aquecimento global empurra algumas gigantes de Champagne para o sul da Inglaterra, que já produz excelentes borbulhas, mas a saída pode estar no quintal de casa. As variedades ancestrais foram abandonadas pela baixa produção, mas também pela acidez mais acentuada.
O clima mais quente prejudica, ano a ano, a acidez típica dos Champagnes, mas a autóctone Petit Meslier, por exemplo, tem uma acidez tão vibrante que nem o calor é capaz de atrapalhar. Os produtores que guardaram a tradição, garantem que o futuro das sete variedades está garantido e será promissor.
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