O balneário tem cerca de 1.200 hectares de vinhsa e até Denominação de Origem, conheça o enoturismo na ilha grega de Santorini
por Redação
A Grécia é famosa por seus filósofos, cidades Estados que moldaram a história e por ter sido o berço das Olimpíadas. A ilha grega de Santorini se destaca por seus deslumbrantes pores do sol, mas guarda um tesouro menos conhecido, mas igualmente fascinante: sua próspera vitivinicultura. Em meio a luxuosos hotéis e paisagens de tirar o fôlego, essa ilha grega preserva uma tradição vinícola secular, protegida por leis rigorosas contra a pressão imobiliária.
Descubra como o terroir vulcânico, as técnicas únicas de cultivo e uma rica história fazem dos vinhos de Santorini uma verdadeira joia no Mar Egeu.
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Diz-se que o pôr do sol mais bonito do mundo pode ser observado de Santorini, com suas casas brancas, em forma de cubo que ficam nas encostas acima da caldeira submersa de um vulcão que devastou a ilha no século 16 a.C e moldou a bela paisagem atual.
Mais de 2 milhões de turistas visitam Santorini todos os anos, atrás especialmente das belas praias, da culinária local e selfies "instagramaveis". Porém, esse disputado balneário grego, além dos luxuosos hotéis e mar azul, ostenta uma vitivinicultura pródiga que, devido à pressão imobiliária, esteve bastante ameaçada nos últimos anos, mas manteve-se preservada por leis que vieram para proteger essa tradição secular.
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O nome oficial de Santorini na verdade é Thira. Ela é a ilha mais ao sul das Cíclades, no Egeu. Sua geografia é marcada pela erupção de um vulcão, no que se acredita ser uma das maiores e mais devastadoras erupções vulcânica do planeta, há cerca de 3.600 anos.
Uma grande parte da ilha ficou submersa, criando o arquipélago que existe hoje. Esse solo vulcânico é a marca dos vinhos de Santorini, juntamente com os fortes ventos e neblinas matinais.
A denominação de origem protegida (DOP) de Santorini autoriza vinhedos não somente nesta ilha de cerca de 90 quilômetros quadrados, mas também na Thirassia, uma ilha das proximidades. Ao todo, há cerca de 1.200 hectares de vinhas sob a denominação.
Os vinhedos de Santorini são em pé franco, sem enxerto como na maior parte do mundo. Lá a filoxera, praga que arrasou vinhedos nos séculos 18 e 19, não sobrevive no solo vulcânico da ilha. Os troncos das videiras são podados como uma cesta em forma de coroa (“kouloures” ou “ambelies”) dentro da qual as uvas, protegidas do sol e dos ventos, crescem praticamente sem água, em condições extremas.
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A cultura do vinho é ancestral no Egeu, mas a região tornou-se muito famosa na Idade Média, quando os cruzados conquistaram Santorini.
Um dos cruzados era um nobre veneziano cuja família manteve o controle da ilha até 1336, quando ela se tornou parte do estado marítimo veneziano, o Ducado de Naxos. Assim o vinho local ganhou tamanha notoriedade que, mesmo após a captura pelos otomanos em 1579, eles continuaram permitindo o comércio da bebida.
A DOP Santorini autoriza a produção de vinhos brancos secos e doces apenas. Para o vinho seco, as variedades autorizadas são Assyrtiko (mínimo 75%), Aidani e Athiri. Para o vinho doce, Assyrtiko (mínimo 51%) e Aidani (pequenas quantidades de outras variedades de uvas brancas nativas são permitidas).
Santorini tem muitas variedades nativas, mas a mais importante é a Assyrtiko. É uma casta originada na ilha, mas que se espalhou por toda a Grécia.
É uma dessas raras variedades de cepas brancas que podem crescer em condições climáticas quentes e secas, com alto teor de álcool, mas mantendo sua acidez.
Assim, ela produz principalmente vinhos brancos secos de grande intensidade, mas também tradicionais doces muito longevos.
Nykteri ou Nychteri (termo que remete à noite) são os vinhos brancos secos assim chamados por ter a Assyrtiko muito madura (de alto teor alcoólico – mínimo de 13,5%) colhida à noite e feita em blend com Aidani. Eles devem ser envelhecidos obrigatoriamente em barricas de carvalho por um período mínimo de três meses.
A indicação “Vinsanto” diz respeito aos vinhos doces. Para eles, é necessário que as uvas estejam ultra maduras e que sejam deixadas para secar ao sol, elevando assim a concentração de açúcares para pelo menos 370 gr/l. Os Vinsanto devem ser obrigatoriamente envelhecidos em barricas de carvalho durante, pelo menos, 24 meses.
Se forem envelhecer por mais tempo, devem permanecer nas barricas por pelo menos quatro anos ou por períodos de tempo múltiplos de quatro. Eles podem ser “naturellement doux - vin de raisin passerile” (feitos apenas com uvas passificadas ao sol) ou “vin de liqueur de raisin de passerile” (mosto fortificado de uvas passificadas).
Os Vinsanto podem ser de uma safra específica ou diferentes safras podem ser combinadas, desde que a mais recente seja indicada no rótulo. Inclusive uma hipótese para a origem dos Vin Santo italianos, também doces, é que tenham se inspirado nos vinhos da ilha grega de Santorini.
Durante muitos anos, ela foi dominada por mercadores venezianos que comercializavam seu vinho doce natural na Itália, rotulando-o de forma abreviada somente como “Vin Santo”.
Apesar de não ser regulado, existe uma espécie de Vinsanto menos doce feito na ilha, o Mezzo, que geralmente é feito a partir de uma combinação de uvas passificadas e não passificadas, todavia, ele não faz parte da DOP Santorini.
Apesar da predominância das castas brancas na ilha, há também tintas cultivadas, tais como Mavrotragano, Voudomato e Mandilaria, por exemplo, que dão origem a tintos dos mais variados estilos. Os produtores ainda fazem espumantes e rosés. Porém, nenhum desses estilos está contemplado pela denominação de origem de Santorini.