O rótulo muitas vezes pode "enganar" o enófilo
por Redação
As regras possuem algumas permissões para que os produtores possam produzir bons vinhos sempre
Um varietal com mais de uma uva? Pode soar estranho, mas é mais comum do que se imagina.
Ficou espantado? E se falarmos que um vinho “safrado” pode ter recebido uvas de anos diferentes da data estampada no rótulo? Como assim? Calma, tudo é uma questão de lei de rotulagem dos vinhos.
No Brasil, por exemplo, a Instrução Normativa 14, de 2018 – que determina os parâmetros de produção de vinho no país –, estipula em seu artigo 27: “É permitido citar na rotulagem do vinho [...] o nome de apenas uma variedade de uva desde que esta represente, no mínimo, 75 % das uvas utilizadas em sua elaboração”. Ou seja, um vinho feito majoritariamente de Cabernet Sauvignon, que tenha recebido até 25% de outras uvas, não precisa colocar o nome das outras no rótulo.
E a safra? No artigo seguinte, o 28, a instrução diz: “Na rotulagem do vinho envasilhado é permitida a indicação da safra, desde que, pelo menos 85%, do produto seja obtido de uvas da safra indicada”. Ou seja, pode-se estampar 2020 no rótulo, mesmo que 15% das uvas tenham sido colhidasem outros anos.
Só lembrando que essa regra brasileira é consoante com outras normas mundo afora. Na Argentina, por exemplo, para ser “varietal” um vinho precisa ter 85% daquela cepa. O mesmo vale na França. Na Itália, um vinho safrado precisa ter 85% de uvas do mesmo ano, assim como no Brasil. Ou seja, não é algo inventado aqui e tampouco uma espécie de “falsidade ideológica” do vinho caso ele estampe uma variedade e uma safra no rótulo, mas, no fundo, contenha mais do que isso.
Lembrando também que essa normas são “gerais” e em algumas denominações de origem mundo afora as regras podem determinar que um varietal tenha obrigatoriamente que ser um vinho “puro” de certa uva, por exemplo, para poder estampar o nome da DOC.
Mas por que alguém misturaria uvas em vinhos “varietais” e safras em vinhos “vintage”?
Historicamente, fazer blends é anterior à tentativa de elaborar varietais. Antigamente, o homem sequer distinguia as variedades, fermentando tudo junto. Com o tempo, passou a selecionar as castas que achava melhores e mais adequadas.
Ainda assim, percebeu que, em alguns casos, quando uma cepa majoritária se misturava com um pouco de outra (ou outras), o vinho ficava mais interessante.
Esse “tempero” muitas vezes pode ajudar a equilibrar, dando talvez mais cor ou taninos, ou suavizando algum aspecto de acidez, enfim, servindo como um “calibrador”. E quanto à “falsidade ideológica”, fique tranquilo, na maioria das vezes, esse “tempero” vem em porcentagens tão pequenas que raramente modificam de forma substancial o caráter da variedade predominante.
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