"Sentimos muito, não temos mais nada para vender", frase mais dita por produtores da região francesa
Silvia Mascella Rosa Publicado em 02/05/2022, às 03h20
Pergunte para um sommelier ou enófilo qual vinho da uva Chardonnay você tem obrigação de conhecer se está se aproximando seriamente do mundo do vinho. A resposta será unânime: Chablis. Mas se há alguns anos o entrave para conhecer esse branco da Borgonha era o preço, hoje é outro: quase não há vinho disponível. Na feira Les Grands Jours de Bourgogne, que aconteceu no final de março na França, a frase do título deste texto foi uma das mais faladas.
Entre as mais antigas e importantes regiões francesas, a Borgonha está localizada no centro leste da França, sendo que Chablis é a parte mais ao norte, em direção a Paris. Dessa grande zona de produção (a Borgonha) vem alguns dos mais prestigiados e icônicos vinhos franceses, como o Romanée-Conti, por exemplo.
Caso você nunca tenha visto a região de Chablis em imagens, te convidamos a assistir o vídeo que está no final deste texto (em inglês).
A crise que atinge a região também já é assunto recorrente, mas agora chega o mercado consumidor de frente: safras menores por conta das geadas e de qualidade que não atinge as normas das DOCs regionais, estoques baixos e demanda muito grande tanto dos próprios franceses quanto do mercado internacional. "Falta vinho, talvez no ano que vem", respondem os produtores para os compradores profissionais.
"Tudo isso sem contar o aumento de preços, que já observamos que está entre 10 e 15% nas vinícolas, e deve aumentar ainda mais com o problema dos insumos deste ano", diz Adrien Michaut, enólogo presidente do ODG de Chablis, e completa: "Precisamos saber se o consumidor vai aceitar isso".
Para a mesa de discussão entre os proprietários da região e os órgãos reguladores, volta uma velha proposta (já recusada no passado) de aumentar o limite de produtividade das denominações de Chablis - que hoje é de 70 hectolitros por hectare - para algo entre 75 e 80. "Esse aumento de produtividade nos permitiria termos uma reserva interprofissional. Por isso levamos a ideia para debate novamente", contou Paul Espitalié, presidente da Comissão de Chablis na BIVB (Bureau Interprofissional dos Vinhos da Borgonha).
A dica de ADEGA para o enófilo? Se encontrar um bom Chablis, compre e beba. Pois está ficando cada vez mais raro.