Vinhateiros franceses estão preocupados que esse fenômeno se torne cada vez mais regular
Silvia Mascella Rosa Publicado em 04/04/2022, às 08h30
As imagens são tristes e, infelizmente, recorrentes.
As pessoas indo ao campo durante a madrugada, acender fogos, velas, aquecedores, canhões de vento quente, para aquecer os vinhedos que, no começo da primavera, ficam muito vulneráveis à geada tardia. "Ainda não tivemos como computar as perdas da agricultura, mas a geada da noite de sábado para domingo atingiu particularmente o sudoeste e o centro norte da França, onde as temperaturas ficaram negativas", disse Jérôme Despey, secretário geral da Federação Nacional do Sindicato de Agricultores, em entrevista à agência France Presse.
No ano passado, as perdas que as geadas causaram na França fizeram os preços de vinhos da Borgonha dispararem e as garrafas disponíveis diminuirem consideravelmente. Esperançosos de recuperar parte das perdas com a safra deste ano, os viticultores franceses perderam o sono na semana que passou, com a previsão do tempo, que indicou a chegada de uma pesada massa de ar frio para toda a Europa.
Voltou a nevar na Itália, na Suiça e Alemanha e até na Inglaterra. E na França, a ameaça (concretizada) de geadas nos vinhedos veio forte, principalmente na região sul, perto do Pirineus. Mais frio e talvez mais geada eram esperados para as noites de domingo para segunda e de segunda para terça-feira, informou Jérôme Despey.
Thomas Ventoura é proprietário de vinhedos em Chablis, no noroeste da França e a temperatura do final de semana trouxe à memória (e o trabalho) do ano passado. Nesta mesma época do ano em 2021 ele e seus funcionários correram para os vinhedos para por fogo nos aquecedores e tentar prevenir a destruição dos brotos já despontados em suas parreiras. "Desde 2016 tivemos três grandes geadas de primavera. Estamos começando a nos perguntar como será o futuro de nosso trabalho", declara Ventoura. Ele teve que ir proteger os vinhedos na madrugada do dia 3 de abril.
A preocupação dele tem motivos claros e que vai além do óbvio da queda de produção de uvas, portanto de vinhos e menores vendas, o seguro que cobre as perdas na agricultura está subindo demais e pressionando produtores. No ano passado, apenas na região de Yonne, em Chablis, dois terços da produção foi perdida. Mathilde Civet, assessora do Câmara de Agricultura de Yonne disse (em entrevista à agência Reuters) que é necessário e urgente fazer mudanças nos processos da viticultura para fazer frente às mudanças climáticas. É preciso inverstir em maquinário, em cabos de aquecimento, em novas tecnologias, até mesmo em poda mais tardia, para ajudar a diminuir os estragos causados pelo clima.
"Os episódios recentes de seca e de geada foram um aviso claro para muitos produtores, mas nos últimos anos muitos deles ainda estavam em negação do fato de que as mudanças climáticas terão um efeito de longo prazo em nosso trabalho e que é preciso dar muita atenção para isso" contou Civet. As próximas noites ainda são de muita apreensão nos vinhedos franceses.
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