Conheça opções de vinhos tintos leves para a estação mais quente do ano
Luiz Gastão Bolonhez Publicado em 28/02/2019, às 17h00 - Atualizado em 01/03/2019, às 09h47
Estamos em plena estação ensolarada, quente e iluminada. No Brasil, mesmo quem não pode abandonar o paletó e se entregar às férias de verão consegue vivenciar a magia e a energia desses meses. Praia no fim de semana, almoços à beira da piscina, jantares na varanda ainda com o sol se pondo e happy hours com os amigos.
Para os amantes de vinho, o verão é uma estação bem interessante, com muitos espumantes, brancos e rosés refrescantes. ADEGA já dedicou algumas edições a essas delícias. E como ficam os apaixonados por tintos nessa estação?
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O vinho tinto é hoje uma paixão mundo afora e a preferência de nove entre dez amantes da bebida. Para que esse público não fique confinado em restaurantes com ar condicionado durante o verão, apresentamos os vinhos tintos mais leves que se encaixam bem nessa maravilhosa estação.
Vamos fazer uma engenharia reversa? Imagine um churrasco à beira da piscina e você lá, degustando um Malbec com 15% de álcool, muita madeira, fruta e intensidade. Um pouco exagerado, não?
Os vinhos fortes e encorpados que viraram febre nos últimos anos têm seu espaço, mas não se destacam pelo frescor e muito menos pela leveza. Esses vinhos são mais indicados para um jantar, de preferência com o ar condicionado ligado, caso seja nesses meses quentes. Em um almoço de verão, se os anfitriões e os convidados preferirem um tinto, ele deve ter alegria, leveza e frescor. E é melhor que seja servido a temperaturas mais baixas que os 18ºC, geralmente recomendados para um tinto.
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Para a alegria dos amantes de tintos, há uma gama sem fim de vinhos indicados para temperaturas mais altas e refeições mais leves. São, de maneira geral, vinhos produzidos com uvas de potencial alcoólico mais baixo e sem madeira (ou que permanecem menos tempo em contato com ela). Quase sempre são vinhos que prestigiam mais a fruta e o frescor do que outras qualidades.
Há três grandes grupos de estilos recomendados para essas ocasiões: Estilo Noveau (Noveau Style), Vinhos Jovens com Taninos Não Marcantes (Low Tanin Young), que devem ser consumidos jovens, e os Vinhos de Corpo Médio (Médium Weight Wine).
Esses vinhos são conhecidos no mundo inteiro por serem comercializados logo após a vinificação, ou com pouco tempo de maturação, seja em grandes recipientes, ou "adegados" em garrafas. Os mais famosos desse time são os Beaujolais, produzidos a partir da uva Gamay, no sul da Borgonha.
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Os Beaujolais apresentam muitas variações. Há desde o Beaujolais Noveau, tradição francesa sempre lançada na terceira quinta-feira de Novembro, até os Crus de Beaujolais, como os Morgon ou Fleurie, sendo esses últimos enquadrados no grupo Vinhos Jovens com Taninos Leves.
A Itália também tem a tradição do vinho ultra-jovem, que por lá é chamado de Vinho Novello. Entre os mais famosos desse estilo estão os deliciosos Barberas D'Asti. Esses vinhos novos estão em descrédito com os apreciadores, mas têm seu espaço, principalmente no verão. Muitos franceses mais radicais (lógico!), costumam dizer que o vinho Estilo Noveau não é vinho. Mas isso não é verdade.
Essa categoria é, sem dúvida, a responsável pelo maior volume de vinhos produzidos no mundo. Normalmente são produzidos em altas quantidades e em recipientes de concreto (geralmente revestidos de epóxi), madeira ou aço inoxidável de grande formato. Aqui temos como destaque muitos grupos de vinhos com diversas uvas.
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Entre eles os já mencionados Beaujolais (mas dessa vez sem ser Nouveau), da uva Gamay, os Anjous (base também de Gamay) e os Cabernet Francs do Loire, os Vin du Pays do Sul da França, alguns Pinot Noirs básicos da Borgonha e os Valpolicellas básicos e Bardolinos do Vêneto, na Itália.
Ainda na Itália, a disputa entre Piemonte e Toscana continua. De um lado, representando o Piemonte, os Grignolinos, Barberas e Bracchetos. Do outro, os deliciosos e especiais Chiantis da Toscana. Os destaques da Espanha são os vinhos denominados Tintos Jovens (sem carvalho). A grande região de Rioja encabeça a lista com uma mega produção de vinhos desse estilo.
Do Novo Mundo podemos encontrar muitos Vinhos Jovens, mas, sem dúvida, são mais raros. Os vinhos do Novo Mundo, em sua grande maioria, são mais carregados em álcool, fruta e madeira, tornando-os mais difíceis de se encaixar nesse grupo.
Mesmo assim, pode-se encontrar bons exemplares tanto no Chile quanto na Argentina que não passam por madeira e oferecem frescor e certa leveza.
Esse grupo de vinhos é o mais complexo para ser definido, já que há uma enorme diversidade. Normalmente pode-se ter vinhos de médio corpo produzidos em regiões de clima mais frio, bem como em clima mais quente, às vezes tropical.
Pode-se afirmar que, nesse grupo de vinhos, o que mais importa é o processo de produção e envelhecimento. Podem entrar nesse grupo vinhos de Bordeaux e muitos da Borgonha, produzidos à base de Pinot Noir. Além de vinhos de todos os outros países vinícolas. É uma classe genérica que pode abarcar uma gama muito grande de uvas, regiões e países. Madeira não pronunciada, médio álcool e frescor são características requeridas nesse grupo. São vinhos que podem ser apreciados no verão.
A Gamay é uma das uvas mais indicadas para a produção de vinhos leves, apesar de estar desvalorizada internacionalmente (somente em seu berço, na França, e na Suíça tem muitos adeptos). Produz vinhos com muita fragrância, leves, pouco alcoólicos e ligeiros.
A partir da uva Pinot Noir é possível produzir os mais elegantes e finos vinhos do planeta, principalmente se falarmos dos Premiers e Grand Crus da Borgonha. Fora desta região, essa uva é muito difícil de se adaptar, mas produz vinhos excepcionais em países como Estados Unidos e Nova Zelândia. Os vinhos à base da Pinot Noir no resto do mundo são geralmente mais leves e com muita alegria. Na maioria dos casos são vinhos menos intensos se comparados com uvas como Cabernet Sauvignon, Merlot e Malbec.
Mas atenção, pois é possível encontrar também alguns Pinot Noirs do Novo Mundo com 14,5% de álcool (principalmente no Chile e na Argentina). Nesse caso, há bons vinhos, mas não são muito indicados para a degustação em temperaturas mais altas.
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A Cabernet Franc, principalmente no Vale do Loire, na França, costuma oferecer vinhos mais brandos e com certo frescor. Essa mesma uva, se utilizada para produzir vinhos mais intensos, também faz um belo papel.
Ainda falando de uvas com raízes francesas, há no Vale do Rhône, seguido de todo o Languedoc Roussillon, um quarteto de uvas muito versáteis que podem produzir vinhos mais leves, com bons resultados.
A Syrah, uva vigorosa, também pode produzir vinhos muito intensos com baixos rendimentos. Com rendimento mais alto, ela também produz vinhos mais leves, principalmente se cortada (blended) com outras uvas, como Grenache, Mourvedre e Carignan.
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Há ainda muitos vinhos leves à base dessas uvas nas regiões de Côtes de Luberon, Ventoux, Rhône e Costieres de Nimes. Duas apelações do Vale do Rhône produzem vinhos deliciosamente frescos e ótimos para o verão: Lirac e Crozes-Hermitage. O primeiro vinho é à base das uvas mencionadas acima; o segundo, um Syrah puro.
A Cabernet Sauvignon e a Merlot, que reinam em Bordeaux, também podem gerar vinhos mais leves e com certo frescor, mas somente se forem utilizadas com essa finalidade, ou seja, a produção de vinhos mais frescos e não muito alcoólicos.
A Cabernet Sauvignon e a Merlot, com presença maciça em todos os países produtores do Novo Mundo, tendem a produzir vinhos de corpo mais intenso e quase sempre com muita madeira, em regiões da Argentina, Chile, Austrália e África do Sul. Esse estilo de vinho, na maioria dos casos, combina mais com um clima fresco do que com as temperaturas que temos no verão brasileiro.
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Na Itália, único país que produz vinhos em todas as regiões, há uvas que, por estratégia de produção, produzem vinhos deliciosamente frescos e ótimos para serem degustados em temperaturas mais altas. O trio de uvas do Vêneto, ao norte da Bota, formado por Corvina, Rondinella e Molinara, são base para os agradáveis Valpolicellas e Bardolinos.
No Piemonte, o trio é formado pelas uvas Barbera, Bracchetto e Grignolino, que oferecem desde vinhos estilo Noveau até de Médio Corpo, passando pelos Jovens. Dessas três uvas, a Barbera pode oferecer, além de vinhos leves, vinhos ultra encorpados, principalmente os que estagiam em barricas de carvalho. Os Barbera Barricatos são vinhos muito intensos e não se encaixam no grupo de vinhos leves para o verão.
Ainda no centro norte da Itália, podese encontrar deliciosos vinhos leves no Friuli, a partir da variedade local Refosco dal Pedúnculo Rosso e da "francesa" Merlot.
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O sul da Itália, devido às suas condições climáticas, produz vinhos com mais intensidade alcoólica e, às vezes, com excesso de frutas maduras. Por isso são mais difíceis de se encaixar no grupo de tintos leves. Lá, pode-se encontrar muitos vinhos locais de médio corpo e com certo frescor, mas não é fácil achálos no Brasil.
Na Espanha, a versátil uva Tempranillo produz excelentes tintos jovens e de médio corpo, principalmente na Rioja, no Pénèdes, em Toro e alguns locais da Ribera del Duero. Nas regiões ao redor de Valência há muitos tintos jovens à base da uva Garnacha.
Em Portugal, a diversidade também é grande e é possível encontrar vinhos mais leves nas regiões do Dão, Estremadura, Ribatejo e Terras do Sado, mas é possível encontrar também vinhos de médio corpo em todo país. Ultimamente o Douro tem se especializado em verdadeiros blockbusters. No Alentejo, os vinhos têm, em sua maioria, mais de 13,5% de álcool.