Primeiro destilado feito na América do Norte, a tequila conquistou o mundo com seu sabor forte e original
por Sílvia Mascella Rosa
Um aroma, um prato ou uma bebida podem ser tão indicativos de um país quanto uma paisagem de cartão postal. Assim é a tequila para o México. Nascida no coração do território, a bebida tem origem pré-hispânica e cidade com seu nome, na província de Jalisco. Assim como o Champagne, só pode se chamar tequila a bebida produzida nessa exata região do México, além de alguns vilarejos em quatro regiões pré-aprovadas pelo governo. Boa parte do prestígio que a tequila conquistou ao redor do mundo é devido aos americanos. Pela fronteira, a bebida foi ocupando os bares, assim como a comida mexicana.
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O sabor original intenso, herbáceo e ligeiramente apimentado, como é a alma do povo mexicano, é resultado de um longo processo de fabricação. O mais interessante é que, nesse caso, a lenda do aparecimento da tequila é realmente parecida com o processo pelo qual ela é preparada. Contam os místicos mexicanos que, na época da civilização asteca, um deus lançou um raio que atingiu um campo de agave (o enorme e espinhoso arbusto do qual a tequila é feita). O poder do raio foi tão grande que partiu a planta ao meio e cozinhou sua polpa, causando também uma ligeira fermentação. Os nativos Nahuatl perceberam um líquido aromático saindo da planta e decidiram proválo. Deram a ele o nome de vino mezcal, um presente dos deuses.
A destilação só chegaria ao México anos mais tarde, pelas mãos dos conquistadores espanhóis, transformando o suave vinho pulque na bebida intensa de hoje. O processo base da tequila é o cozimento do coração da planta agave em fornos de barro selados ou autoclaves, por até 36 horas. Os pedaços da planta são então resfriados e prensados num moinho para extração do sumo adocicado. Esse suco é transportado para o local de fermentação, onde os açúcares se transformarão, resultando em um produto com aproximadamente 5% de álcool. Na fase final da produção, o mosto fermentado é destilado duas vezes, como manda a lei mexicana. Da mesma forma que a cachaça brasileira, os líquidos do começo e do final da destilação são desprezados.
Tequilas podem ser tão diferentes como Mariachis são parecidos. No entanto, a lei mexicana é severa quanto à sua fabricação. Para se chamar tequila, o produto deve ser feito com um mínimo de 51% do destilado do coração do agave azul (Agave Tequilana Weber) – uma planta com a aparência de um cactus, mas pertencente à família da babosa e do lírio e que leva de oito a doze anos para chegar à completa maturação. Como existem quase 400 variedades de agave, e seus sabores variam, essa regra se tornou necessária para garantir o sabor e a autenticidade da bebida. Daí em diante, as tequilas são divididas em duas categorias: produzidas com 100% do agave azul ou feitas com 51% do agave azul e o restante de outras variedades. Essa informação deve estar no rótulo de cada garrafa. Dentro dessas duas categorias as tequilas ainda são divididas em cinco tipos:
Ágave Azul: Origem da Tequila ▲ |
Blanco (Prata): Transparente e pura, é engarrafada logo após a destilação. É a melhor expressão do agave.
Joven (Ouro): É uma tequila prata em que foram acrescentados corante caramelo, extratos de carvalho, ou até mesmo açúcar. Não é envelhecida, mas é mais suave.
Reposado (Descansada): Tequila que envelheceu de dois meses até 12 meses. Cada produtor escolhe o tipo de barrica que irá usar e isso determinará as características de cada tequila.
Añejo (Envelhecida): Indica tequilas que foram envelhecidas entre um e três anos, em barricas com capacidade máxima de 600 litros. São mais escuras e têm sabores mais complexos e suaves.
Extra Añejo (Extra-envelhecida): Esta nova classificação começou em 2005 e indica tequilas envelhecidas por, no mínimo, três anos em contato direto com carvalho.
A receita original da margarita
Nas mãos dos sempre inventivos bartenders americanos, os coquetéis com tequila ganharam muitas versões, que não só caíram no gosto popular como puseram a tequila nos bares do mundo. Assim é com o Tequila Sunrise (tequila, suco de laranja e grenadine), o Matador (suco de abacaxi, limão e tequila) e a tradicional Margarita.
As histórias sobre a origem do mais famoso coquetel preparado com tequila variam tanto quanto a capacidade de raciocinar claramente após sorver mais de três doses dessa saborosa mistura. Uma das mais propagadas, no entanto, afirma que ele foi criado no final dos anos 30, no bar do hotel Rancho La Gloria, na cidade de Tijuana. O barman teria preparado o drink para a atriz Marjorie King, que não se dava bem com nenhum outro tipo de destilado. Ele então batizou a bebida com a versão mexicana do nome da atriz. A fama da tequila ao redor do mundo pode ser, em parte, atribuída ao sucesso deste coquetel clássico, que ganhou até mesmo uma popularíssima versão ‘frozen’.
Prepare a taça (se possível uma taça específica para Margarita), ou então uma taça para martinis, passando uma rodela de limão em toda a borda do copo e, então, encostando-a em um pires com sal. Assim será formada uma leve crosta.
Na coqueteleira coloque:
1 e 1/2 dose de tequila prata;
3/4 dose de Cointreau;
3/4 dose de suco de limão;
3 cubos de gelo.
Agite fortemente por alguns segundos e coe para a taça, com uma das pedras de gelo. Não encha até a borda. Decore com uma rodela de limão.
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