Saiba como a diversidade de terroirs do Brasil produz estilos variados de vinhos e por que nosso País pode consolidar-se como potência vitivinícola internacional
por Celito Crivellaro Guerra*
Os mais renomados países vitivinícolas têm em comum pelo menos três fatores: diversidade de zonas de produção, diversidade de produtos e grande número de produtores que dominam as variáveis responsáveis por influenciar a qualidade da uva e do vinho. Esses fatores, entre outros, são essenciais para que uma parcela significativa dos vinhos produzidos tenha alta qualidade.
A vitivinicultura brasileira esteve historicamente concentrada na região da Serra Gaúcha. A região, no seu segmento de vinhos finos, tem experimentado importantes transformações, com progresso em vários aspectos da produção, sejam eles agronômicos, enológicos ou de organização setorial. Como conseqüência, o reconhecimento da qualidade de seus vinhos tem crescido, notadamente os espumantes.
#R#A concentração da atividade vitivinícola em uma única região confere ao Brasil um perfil diferente dos principais países produtores. Nos últimos anos, todavia, o segmento de vinhos finos da vitivinicultura brasileira tem experimentado uma importante transformação, com destaque para a implantação de vinhedos em novas regiões, a maioria delas sem histórico de produção vitivinícola. As principais, mas não as únicas, são: Campos de Cima da Serra, Serra do Sudeste, Campanha Meridional e Campanha Oriental (RS), Planalto Catarinense (SC) e Vale do Sub-médio São Francisco (PE/BA).
As novas regiões vitivinícolas brasileiras apresentam características naturais distintas entre si. Os vinhedos nelas instalados são constituídos de variedades nobres, clones qualitativos, sistemas de condução, espaçamento, arquitetura da copa e controle do vigor das plantas e da produtividade, de modo a obter-se um máximo de qualidade da uva para a vinificação.
O surgimento das novas regiões vitivinícolas brasileiras contribuiu para o aparecimento de novos conceitos de produtos, entre os quais destacam-se:
● Vinhos de altitude: produzidos a partir de uvas cultivadas entre 800m e 1.400m de altitude, os principais vinhedos desse estilo são encontrados em São Joaquim, Campos Novos e Caçador (SC) e em Vacaria e Monte Alegre dos Campos (RS). Esses vinhos começam a ganhar reconhecimento e notoriedade entre os consumidores de vinhos finos. Apresentam, em geral, estrutura química complexa, riqueza e qualidade aromática, estabilidade da cor e acidez evidenciada por teores importantes dos ácidos málico e láctico. Este perfil traduz-se na harmonia e persistência das sensações olfativas e gustativas. Ao mesmo tempo que são encorpados, os vinhos - em especial os tintos - não são excessivamente tânicos, amargos ou adstringentes, o que os torna aptos ao consumo ainda jovens.
● Vinhos dos pampas: são aqueles produzidos a partir de uvas cultivadas nas regiões do Estado do Rio Grande do Sul, próximas à fronteira com o Uruguai ou a Argentina. São regiões de relevo levemente ondulado, de campos naturais. Os principais vinhedos localizamse nos municípios de Candiota, Bagé, Pinheiro Machado, Encruzilhada do Sul, Santana do Livramento e Itaqui. Trata-se de uma região vasta, com considerável variabilidade das condições edáficas e climáticas, refletida nas características sensoriais dos vinhos. De modo geral, eles apresentam estrutura química complexa, alto potencial alcoólico, tipicidade aromática bem definida e acidez moderada. O potencial de longevidade nos tintos depende das variedades e dos locais de produção da uva, mas, em geral, eles são encorpados, potentes e harmônicos, sendo ainda relativamente longevos.
● Vinhos tropicais: atualmente são produzidos basicamente no Vale do Sub-médio São Francisco, região localizada entre os paralelos 8º e 9º de latitude sul e em altitude não superior a 400 metros acima do nível médio do mar. A região caracteriza-se por apresentar temperaturas elevadas durante todo o ano. Nessas condições, a maturação da uva é muito rápida, assim como todo o ciclo produtivo da videira. Desse modo, as variedades que melhor se adaptam são as de ciclo médio a tardio, responsáveis por uvas com altos teores de acidez, aroma delicado e, no caso das tintas, com alto potencial para produção de antocianinas e taninos. Os principais atributos dos vinhos brancos e espumantes produzidos na região são o frescor aromático e gustativo e a tipicidade aromática varietal. Os tintos estão ainda em fase de desenvolvimento, mas algumas variedades já mostram bom potencial para a elaboração de vinhos relativamente encorpados, mas ao mesmo tempo arredondados e elegantes.
Vinícola em Bagé: produção de vinhos encorpados e longevos |
Nessas regiões de histórico tão recente, quase todos os segredos e características estão ainda sendo descobertos. A caracterização dos vinhos acima descrita é genérica e precisa ser detalhada ao longo do tempo. Os três tipos descritos referem-se a denominações genéricas. Entretanto, é certo que as novas regiões produtoras, juntamente com a Serra Gaúcha, comecem a formar um conjunto mais rico em diversidade e qualidade, devendo contribuir em muito para a evolução do status do Brasil como país vitivinícola. Nesse contexto, os modernos vinhos finos brasileiros melhoram sensivelmente sua capacidade de destacar- se e consolidar-se em um cenário de alta competitividade internacional, com produtos de qualidade e preços acessíveis.
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