A paisagem que deu nome ao vinho

A região dos Vinhos Verdes, além de lindas paisagens e muita história, produz ótimos vinhos brancos, caracterizados pelo perfil aromático, a leveza e o frescor

por Eduardo Milan

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"No vasto território do noroeste de Portugal, um manto verde e exuberante desce das serras, cobre os vales interiores, prolonga-se pelas planícies e estende-se até o mar (...) No horizonte mais vasto da paisagem, o verde impõe-se como a marca maior da identidade de toda a região",

Manuel Carvalho, autor de "As cores do Vinho Verde"


A região do Minho é uma das mais antigas de Portugal, considerada o ponto de partida para a formação do país como conhecemos hoje. Chegar ao local e se deparar com as belas paisagens, os vales, os contornos dos rios, os pequenos e charmosos vilarejos é fazer uma viagem no tempo, podendo-se contar, entretanto, com todas as facilidades da modernidade europeia. E aí está localizada a Região Demarcada dos Vinhos Verdes (RDVV).
Tradicionalmente conhecida como "Entre-Douro-e-Minho" em função dos rios que definem seus limites geográficos ao sul e ao norte, a região está localizada no noroeste de Portugal, fazendo fronteira com a província espanhola da Galícia ao norte, com as montanhas do Geres e do Marão à leste, com o oceano Atlântico à oeste e com a região de Lafões ao sul. A RDVV tem 7 mil quilômetros quadrados e cerca de 34 mil hectares de vinhas plantadas, o que corresponde aproximadamente a 15% da área vitícola portuguesa.
Hoje, a RDVV, na sua maioria, é uma zona de viticultura moderna e suas uvas atingem o ponto de maturação ideal. Mas a força do nome "Vinho Verde" ficou; a marca foi reconhecida e registrada em 1973, impedindo sua utilização em outros lugares. Vinho Verde só pode ser produzido na RDVV e respeitando os preceitos da Denominação de Origem Vinho Verde. Para os vinhos produzidos lá sem as especifi- cações da DO, é empregada a Indicação Geográfica Minho.

O Vinho Verde
Evidentemente, a cor do Vinho Verde não é verde. Então, por que esse nome? Duas são as versões mais conhecidas. O Vinho Verde leva esse nome porque as uvas da região, mesmo quando maduras, têm elevado teor de acidez, produzindo líquidos cujas características lhes dão a aparência de vir de uvas colhidas antes da correta maturação. A outra explicação diz que "Vinho Verde" significa "vinho de uma região verde", ou seja, a denominação deriva da belíssima paisagem local, onde o verde das terras cultivadas se perde no horizonte.
Na realidade, a mais completa explicação foi bem resumida por Luís Lopes, editor da Revista de Vinhos, de Portugal: "Tudo indica que, efectivamente, o nome Vinho Verde, que já vem do século XIX, se deve precisamente ao fato da conjugação do clima e das antigas técnicas de viticultura locais (vinhas exuberantes, conduzidas em altura e profusamente regadas pela água das hortas) condicionarem a maturação das uvas. Ou seja, esses vinhos chamaram-se Verdes porque eram efetivamente feitos de uvas verdes. Tanto que a legislação vitivinícola portuguesa de 1946 dividia os vinhos nacionais, precisamente, entre 'verdes' e 'maduros'."

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O Vinho Verde é dotado de tipicidade e originalidade, possuindo características próprias e únicas relacionadas diretamente com o microclima, o tipo de solo e também com as peculiaridades das castas regionais e as formas de cultivo da vinha. Geralmente, é leve, aromático, refrescante, com teor alcoólico inferior a 11,5% e tem como nota mais marcante as chamadas "agulhas" - com exceção dos brancos produzidos com a casta Alvarinho, que são mais estruturados e com álcool por volta dos 13%.
Além dos vinhos tranquilos, os produtores da RDVV têm experimentado produzir espumantes com base no Vinho Verde. A acidez natural e o teor alcoólico relativamente baixo foram consideradas qualidades potenciais para se obter bons espumantes - que na região demarcada somente podem ser produzidos pelo método Clássico.
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Clima e relevo
O clima da RDVV é fortemente condicionado pelas características de seu relevo e rede fluvial. O aspecto mais marcante é o regime anual de chuvas, que apresenta médias anuais elevadas - por volta de incríveis 1.200 mm em algumas sub-regiões, concentradas no inverno e na primavera.
As temperaturas acompanham as chuvas: épocas mais quentes são mais secas e épocas mais frias são mais chuvosas. As médias das temperaturas mínimas e máximas variam pouco, caracterizando um clima ameno.
Os solos são, em sua maioria, de origem granítica, caracterizando-se geralmente por baixa profundidade e homogeneidade, o que obriga os produtores locais a escolherem os solos que sejam mais profundos e com boa drenagem, mais aptos à atividade vitícola.

Sub-regiões
Questões de ordem cultural, microclimas, tipos de vinhos, entre outros fatores levaram à divisão da RDVV em nove sub-regiões: Amarante, Ave, Baião, Basto, Cávado, Lima, Monção, Paiva e Sousa. Cada uma delas apresenta características específicas, gerando vinhos diferentes.

Amarante
Localizada no interior da RDVV, esta sub-região tem amplitudes térmicas superiores e verão mais quente, o que favorece o desenvolvimento de castas de maturação mais tardia - como a Azal e a Avesso - e origina brancos frutados e de teor alcoólico superior à média da região. Mas é dos tintos que vêm a fama de Amarante, especialmente dos vindos da casta Vinhão, pouco conhecidos fora de Portugal, porém muito apreciados pela população minhota.

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Principais Características dos Vinhos Verdes
Castas mais utilizadasCor AromasBocaTemperatura de serviço
BrancosAlvarinho, Arinto, Avesso,Azal, Loureiro e TrajaduraAmarelo citrino ou palhaFrutados e florais,delicados e sutisSuaves e frescos8o a 12oC
RosadosEspadeiroLevemente rosadoAromas jovens, por vezes lembrando frutos vermelhosFrescos e intensos10o a 12oC
TintosVinhãoCor intensa e espuma rosada ou vermelha vivaAromas discretos de frutasEncorpados12o a 15oC

Ave
Às margens do rio Ave, com relevo bastante irregular e baixa altitude, seu clima caracteriza-se por baixas amplitudes térmicas e índices médios de precipitação. É uma zona de produção de vinhos brancos, com frescor, notas florais e de frutas cítricas. As castas mais adequadas à região são a Arinto e a Loureiro.

Baião
Localiza-se no interior da região e tem uma altitude média, com invernos mais frios e menos chuvosos e verões mais quentes e secos, que favorecem o amadurecimento de castas com maturação mais tardia, como a Azal e a Avesso. Baião tem ganhado notoriedade pelos brancos, feitos a partir da casta Avesso - de aroma intenso e frutado com acidez marcante.

Basto
É a sub-região mais interior da RDVV, encontrando-se a uma altitude médio- -elevada e resguardada dos ventos marítimos. O clima local é mais agreste, com invernos frios e chuvosos e verões quentes e secos. A principal casta é a Azal, a partir da qual são produzidos vinhos muito particulares, frescos e com aromas de limão e maçã verde.

Cávado
Esta em uma zona de relevo irregular e de baixa altitude, bastante exposta aos ventos marítimos. O clima é ameno, sem grandes amplitudes térmicas e com pluviosidade anual média, propício às castas Arinto, Loureiro e Trajadura. Os vinhos produzidos têm acidez moderada e notas de frutas cítricas, maçãs e peras.

Lima
Dentro da RDVV, Lima é a sub-região onde a precipitação pluviométrica atinge os índices mais altos. A altitude das plantações varia, aumentando do litoral para o interior, onde o relevo é também mais irregular, o que acaba por originar uma série de microclimas. Os vinhos mais afamados são produzidos a partir da casta Loureiro.

Monção
Com microclima caracterizado por invernos frios com precipitação média e verões quentes e secos, esta sub-região desenvolveu-se à volta da margem sul do rio Minho, numa zona de meia encosta. São destaque os vinhos produzidos a partir da casta Alvarinho - mais encorpados e com bom poder de guarda, exceção na RDVV que é caracterizada por vinhos que já mostram suas qualidades quando apreciados na juventude.

Paiva
Paiva não apresenta alto índice de precipitação, tem amplitude térmica moderada e clima temperado. Por essa razão, adaptaram-se melhor à região as castas brancas Arinto, Loureiro e Trajadura.

Sousa
Em Sousa, o clima é ameno, as amplitudes térmicas são baixas, com verões e invernos moderados. O índice pluviométrico é baixo. Assim, as castas típicas da região são Arinto, Loureiro e Trajadura.

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Gastronomia e Vinhos Verdes

Brancos - Aromáticos, tradicionalmente harmonizam-se com saladas, peixes, mariscos, carnes de aves e pratos da culinária oriental. Recentemente, têm sido servidos como aperitivo.

Rosados - De aromas mais intensos, são servidos como aperitivo ou acompanhando sobremesas.

Tintos - Mais encorpados, casam bem com pratos da gastronomia regional minhota, como arroz de lampreia, bacalhau com migas, tripas à moda do Porto, entre outros.

Espumantes - Além de escoltarem os pratos tradicionais, são servidos como parceiros de entradas e todo tipo de canapés, pratos de peixe, carne, mariscos, além de comida oriental.

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Palácio da Brejoeira e Quinta da Aveleda (foto abaixo) são dois belos lugares para conhecer
Eduardo Milan

Dicas de viagem
- Reservar pelo menos um dia da viagem para conhecer a cidade histórica de Guimarães,berço da nação portuguesa;
- Visitar o lindo Palácio da Brejoeira, um dos cartões postais da região;
- Passear pelos estonteantes bosques e visitar a cave de aguardentes velhas da Quinta da Aveleda;
- Tomar ao menos uma vez o tinto de Vinhão nas canecas de porcelana típicas da região; é diferente e um costume local que merece ser experimentado;
- Caminhar pela foz do Douro e almoçar ou jantar num dos diversos restaurantes da região;
- Aproveitar e conhecer a maravilhosa cidade do Porto e Vila Nova de Gaia, que dispensa comentários;
- Experimentar o Arroz de Tamboril, camarões frescos, infinidade de embutidos e tipos de bacalhau servidos na região;
- Provar as castanhas portuguesas fritas no azeite.

Vinhos de Destaque
Casa do Valle Grande Escolha 2009
Branco elaborado com as castas Alvarinho, Arinto e Loureiro em comemoração aos 20 anos da vinícola. Possui aromas cativantes de frutas tropicais e notas florais. No palato, tem ótima estrutura, boa acidez e persistência média/longa. Volume de boca surpreendente para um Vinho Verde.

Quinta do Casal do Paço Afros Loureiro 2009
Vasco Croft é adepto da cultura biodinâmica e defensor da casta Loureiro. Branco diferenciado, de aromas frutados e minerais elegantes. No palato, confirma o nariz e se mostra complexo, equilibrado, limpo, de ótima acidez e final persistente.

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Quinta do Gomariz Grande Escolha 2009
Fruto da combinação entre as castas Alvarinho e Trajadura, esse branco apresenta aromas de frutas tropicais que lembram maracujá, notas minerais e toques de mel. Em boca, é complexo, equilibrado, de boa acidez e final longo, refrescante.

Quinta de Carapeços Escolha 2009
Branco curioso, elaborado a partir de Alvarinho com estágio de seis meses em madeira. Aromas de frutas tropicais e notas de baunilha. Em boca, é frutado, estruturado e de boa persistência. Demonstra potencial de envelhecimento.

Aveleda Follies Alvarinho 2009
Elaborado exclusivamente a partir de Alvarinho, esse branco apresenta aromas herbáceos, minerais e cítricos. No palato, é limpo, sem arestas, de ótima acidez e é muito agradável de beber.

Solar de Serrade Alvarinho 2009
O enólogo Miguel Blanco é o responsável pela elaboração desse ótimo vinho, fruto da vinificação em separado de várias parcelas de vinhedos. O resultado dessa dedicação se mostra no vinho, que é frutado, complexo, equilibrado, fresco e muito elegante.

Provam Varanda do Conde 2009
Composto pelas uvas Alvarinho e Trajadura, esse branco tem aromas limpos de frutas tropicais e notas minerais. No palato, tem ótima acidez, é fresco, de média persistência e muito fácil de beber.

Palácio da Brejoeira 2009
Elaborado somente com uvas Alvarinho cultivadas nas vinhas velhas que circundam o Palácio, esse branco apresenta aromas de frutas brancas frescas, notas minerais e sutil toque floral. No palato, é elegante, sofisticado, de ótima estrutura e boa persistência. Lembra um bom Riesling.

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