Um guia para entender como funciona a denominação do Prosecco, um dos espumantes italianos mais vendidos do mundo
por Arnaldo Grizzo
Sim, Prosecco é uma denominação. Assim como Champagne, há uma confusão e uma disputa em alguns lugares do planeta sobre se só os produtores daquela região do Vêneto podem usar esse nome em seus espumantes. Mas, a verdade é que, desde que a União Europeia reconheceu a DOC, ninguém de fora – que queira vender seus vinhos na UE – pode usar o nome Prosecco.
Disputas comerciais à parte, incontestável é Prosecco ser sinônimo de espumantes. Contudo, há muito mais do que borbulhas por trás desse termo e, dentro da denominação italiana, há ainda diferentes estilos. Os seja, Prosecco “não é tudo a mesma coisa”. Confira este guia para entender um pouco mais sobre essa clássica denominação.
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Desde meados do século XIII, o topônimo “Prosech” ou “Prosecum”, ou ainda “Proseco”, referia-se a uma pequena cidade, que faz fronteira com o bispado de Trieste a sudeste e com a área de Duino a norte. Prosecco é ainda hoje uma pequena cidade da província de Trieste, no extremo nordeste da península italiana. Quanto à produção de vinho no local, as primeiras citações remontam ao mesmo período e são de uma escritura de arrendamento de quatro vinhedos.
No início do século XVI, os vinhos da vila de Prosecco são mencionados em alguns estudos literários, como um do poeta Pietro Bonomo (1458 -1546), também secretário e conselheiro de três reis austríacos. No tratado, ele aprofunda a “Naturalis Historia” de Plínio, o Velho, e cita a história da imperatriz Lívia, esposa de Otaviano Augusto, que dizem ter sido capaz de alcançar a velhice mantendo uma ótima saúde graças às qualidades do lendário vinho Pucino, muito apreciado pelos romanos e teoricamente originário da área do Prosecco. A mesma história foi relatada pelo famoso médico Galeno, o que contribuiu para difundir a fama terapêutica do vinho Pucino.
Após colhidas as uvas, a fermentação dura cerca de 15/20 dias a uma temperatura máxima de 18°C para preservar os aromas mais delicados. Poucos sabem, mas há o Prosecco Tranquillo, que não passa pela segunda fermentação para gerar as bolhas. Há ainda o Prosecco Frizzante e, obviamente, o Spumante, que passam por segunda fermentação de acordo com o método italiano também denominado Martinotti (como o Charmat é conhecido na Itália – veja box), que ocorre em grandes recipientes herméticos, as autoclaves. No final do processo de toma de espuma, que dura no mínimo 30 dias, a temperatura é baixada para interromper a fermentação, geralmente deixando um pouco de açúcar residual.
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A área de produção da denominação Prosecco, criada oficialmente em 2 de abril 1969, está localizada na região nordeste da Itália abrangendo quatro províncias do Friuli Venezia Giulia (Gorizia, Pordenone, Trieste e Udine) e cinco províncias do Vêneto (Belluno, Pádua, Treviso, Veneza, Vicenza). Quando a vindima, vinificação e engarrafamento decorrem integralmente nas províncias de Treviso e Trieste, podem ser utilizadas as menções especiais Prosecco DOC Treviso e Prosecco DOC Trieste.
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As uvas para a produção do Prosecco provêm principalmente da variedade branca Glera, uma videira nativa do nordeste da Itália. O nome Glera, até pouco tempo atrás, era usado como sinônimo de Prosecco, daí a principal razão das disputas no mundo ao redor do uso do termo – que para muitos representaria a variedade e não a região. Juntamente com a Glera, são utilizadas historicamente outras variedades (até ao máximo de 15%): Verdiso, Bianchetta Trevigiana, Perera, Glera lunga, Chardonnay, Pinot Bianco, Pinot Grigio e Pinot Nero.
Prosecco também tem uma denominação específica para espumantes de segunda fermentação em garrafa. A DOCG Sui Lieviti (sobre leveduras) é o nome do Prosecco feito com esse método. Ele também é chamado no dialeto local de “col fondo”, pois não passa por dégorgement, então são turvos, devido à presença de leveduras mortas que não são retiradas ao final do processo. Ele é produzido na versão Brut nature.
Desde 2009, uma parte da denominação foi elevada ao status de DOCG (denominação de origem controlada e garantida), o mais alto nível para os vinhos italianos. Esse novo status exigiu uma mudança de nome, passando a ser “Conegliano Valdobbiadene Prosecco Superiore”. O espumante DOCG Conegliano Valdobbiadene Prosecco Superiore só pode ser produzido nas colinas de Conegliano Valdobbiadene, a partir da uva Glera, nos 15 municípios autorizados com rendimento permitido de 13,5 toneladas por hectare. Ele pode ser feito nas versões Extra Brut, Brut, Extra Dry e Dry.
“Premier Cru” Se Cartizze é comparado a um “Grand Cru”, logo abaixo estão os chamados “Rive”, algo como um Premier Cru. No dialeto local, o termo “Rive” indica as encostas dos morros íngremes que caracterizam a região. Esta tipologia destaca as diferentes expressões locais obtidas a partir de um único município. Na denominação existem 43 Rive, e cada um expressa um terroir. Para Rive, a produção é de 13 toneladas por hectare, as uvas são colhidas exclusivamente à mão e a safra é indicada no rótulo.
Existe uma pirâmide qualitativa em Prosecco. Na base está o Prosecco DOC, produzido nas nove províncias das duas regiões. No nível intermediário, existem duas DOCG, Conegliano Valdobbiadene Prosecco Superiore e Asolo. No topo da pirâmide está Superiore di Cartizze DOCG, tido como “o Grand Cru de Conegliano Valdobbiadene”.
Desde 2019, a denominação também passou a autorizar a produção de Prosecco rosé. Para os rosés, deve-se usar entre 10% e 15% do blend de Pinot Noir e o restante obrigatoriamente de Glera.
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A DOCG Cartizze é a denominação mais alta de Prosecco. É uma área de apenas 107 hectares de vinhedos, entre as colinas mais íngremes de San Pietro di Barbozza, Santo Stefano e Saccol, no município de Valdobbiadene. Há cerca de 140 produtores com vinhedos na região. É permitido rendimento máximo de 12 toneladas por hectare.