O mercado para os borgonheses cresceu, mas os estoques e a produção não. Resultado: preços altos
por Silvia Mascella Rosa
A lógica da escassez gera um efeito complicado para os apreciadores: o aumento de preços
Os vinhos franceses, como um todo, se recuperaram maravilhosamente bem da crise causada pela pandemia e pela guerra comercial com os EUA, com os mercados externos e internos muito aquecidos. Quando as sanções impostas pelo ex-presidente americano Donald Trump foram suspensas em março de 2021, as compras de vinhos franceses, especialmente da Borgonha, pelos americanos buscaram recuperar o tempo perdido.
Segundo a FNEB (Federação dos Negociantes da Grande Borgonha) o crescimento das compras de 2020 para 2021 foi de 45%. "As razões desse bom resultado comercial são, não apenas a suspensão do conflito comercial europeu com os EUA, mas também a reabertura dos bares e restaurantes, o turismo e o fato de que os vinhos da Borgonha têm o atrativo extra de ser a encarnação mais precisa do que é a viticultura de terroir", explica Albéric Bichot, presidente da FNEB.
Mas como nem só de boas notícias vive quem trabalha de mãos dadas com a natureza, os produtores da Borgonha estão vivendo também um momento de contenção do entusiasmo, por conta das perdas imensas da safra 2021 (você viu por aqui), afetada pela geada que ocorreu na primavera do ano passado. Ou seja, os estoques para o próximo ano estão baixos, por conta de não produção e com as vendas em alta das safras anteriores.
A lógica da escassez gera um efeito complicado para os apreciadores: o aumento de preços.
Em entrevista para o portal Wine Searcher, o comerciante londrino Charles Taylor afirmou que a demanda e os preços dos vinhos da Borgonha estão disparando: "Todos os mercados retornaram nos últimos seis meses e os estoques que estavam cheios há um ano, agora estão quase vazios. Eles estão vendendo tudo e os preços estão nas alturas. Eles sabem que não vão ganhar dinheiro no próximo ano, então estão fazendo caixa com a safra 2020. Não posso culpá-los", diz. Por fim, quem conseguiu colher alguma uva na região em 2021 também não está contando com uma produção de altíssima qualidade, como costuma ser a marca da Borgonha. O ano foi muito úmido e por conta disso alguns produtores colheram a uva tinta antes do momento ideal. Mas quem para quem pode pagar, Charles Taylor afirma que os Chablis da safra 2020 estão realmente bons, melhores que a safra 2019, mesmo entre os produtores menos famosos. Aposta cara, mas certeira.
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