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    Comédia, tragédia, drama e vinho

    O papel do vinho nas peças de William Shakespeare

    por Arnaldo Grizzo

    Shakespeare

    "Rogo a ti, não se apaixone por mim, pois sou mais falso que os votos feitos sob o efeito do vinho”. Também pudera, ao dizer tal frase, Rosalinda, personagem da comédia “Como gostais” (“As you like it”, no original), estava disfarçada de homem. Essa é apenas uma das muitas passagens em que o vinho aparece na obra de William Shakespeare, o maior dramaturgo da língua inglesa.

    Seja na comédia ou no drama, a bebida está presente nas peças que, de uma maneira ou de outra, acabavam por retratar o rico período elisabetano em que “o Bardo” viveu. Há quem tenha contado a aparição da palavra “vinho” nos escritos de Shakespeare, seriam 86 vezes. O autor, contudo, não cita o vinho apenas genericamente, chegando a mencionar exatamente a “marca” da bebida em algumas ocasiões. Entre seus preferidos estão os vinhos das Ilhas Canárias, o Malmsey e o Sack.

    Falstaff e Otelo

    Falstaff

    Há mais de 30 citações somente sobre o Sack, termo elisabetano para os vinhos de Jerez. A mais célebre passagem sobre o Sack ocorre, como não podia deixar de ser, com o personagem Sir John Falstaff. O boêmio e bonachão amigo do príncipe Harry fala sobre a audácia do futuro rei durante a peça “Henrique IV”:
    “Um bom copo de Jerez é de duplo efeito; sobe-me ao cérebro, seca-me ali todos os vapores tontos, obtusos e ásperos que o envolvem, deixando-o sagaz, vivo, imaginoso, cheio de formas leves, petulantes e deleitosas, que, entregues à voz, recebem vida da língua e se convertem em excelente espírito. A segunda propriedade do vosso excelente Jerez é a de aquecer o sangue, que, por ser naturalmente frio e pesado, deixa o fígado branco e pálido, sinal certo de pusilanimidade e covardia; mas o Jerez o aquece e o faz correr do interior para as partes extremas, ilumina o rosto, que, como farol que é, chama às armas a esse pequenino reino denominado homem. E então todos os moradores e os pequenos espíritos da província se congregam em torno do seu chefe, o coração, que, aumentado e envaidecido com o cortejo, torna-se capaz de qualquer empreendimento de valor. Todo esse valor vem do Jerez, a tal ponto que a habilidade no manejo das armas de nada vale sem o Jerez, que é o que a põe em movimento. O saber não é mais que uma mina de ouro guardada por um demônio, que só vale depois que o Jerez a explora e a põe em obra e uso. É daí que vem a valentia do príncipe Harry, porque o sangue frio que ele herdou naturalmente do pai, tal como terreno mesquinho, desnudo e estéril, foi por ele lavrado, adubado e cultivado com o excelente esforço de beber grandes e grandes quantidades do fértil Jerez, que deixou o príncipe ardente e valoroso. Se eu tivesse mil filhos, o primeiro princípio humano que lhes inculcava, seria absterem-se de bebidas fracas e entregarem-se ao Jerez”.

    Pouco antes dessa exaltação ao Jerez, o mesmo Falstaff reclama de outro personagem ao justificar por que nenhum homem é capaz de fazê-lo sorrir. “Pudera, ele não bebe vinho”, diz. O vinho, por sinal, é o veículo para a vingança de Iago contra Otelo, em uma das obras mais conhecidas de Shakespeare. Nela, Iago embebeda Cássio, que havia sido promovido ao posto de tenente (almejado pelo primeiro), faz com que ele brigue em uma festa e perca, assim, sua promoção concedida pelo mouro governante veneziano. “Ó espírito invisível do vinho! Se não és ainda conhecido por nenhum nome, recebe o de demônio”, proclama Cássio, sem lembrar do que havia feito.

    Canárias e Madeira

    O vinho mais popular na época de Shakespeare definitivamente era o Jerez, mas o dramaturgo cita ainda o vinho das Ilhas Canárias em duas obras: “Noite de Reis” e “As Alegres Comadres de Windsor”. Nesta última, novamente é Falstaff o personagem que irá apreciar o vinho do arquipélago espanhol na costa na África. Acredita-se que o vinho produzido no local era um branco doce, muito similar ao Malmsey. O dramaturgo chega a exaltar o vinho das Canárias: “Um vinho maravilhoso e penetrante, perfuma o sangue, fazendo com que se pergunte: ‘O que é isso?’”. 

    Por volta de 1640, mercadores de vinho ingleses chegavam a classificar a bebida das ilhas como “o vinho luxuoso de Tenerife” (uma de suas capitais, juntamente com Las Palmas). Ele era mais doce do que o Jerez e feito com Malmsey (Malvasia), no entanto, um vinho conhecido como Vidonia (outro nome para a variedade Verdelho) era relativamente seco, tinha acidez elevada e envelhecia bem.

    Da mesma forma, o Malmsey também está presente nas obras de Shakespeare, como “Trabalhos de Amores Perdidos”, “Ricardo III” e “Henrique IV”. Uma passagem curiosa ocorre em Ricardo III, quando os homens contratados para assassinar o Duque de Clarence propõem ocultar seu cadáver em um barril de Malmsey. Pouco antes de morrer, porém, o inadvertido personagem solicita uma taça de vinho, ouvindo dos assassinos a pronta resposta: “Você terá vinho suficiente, Sir”.

    Na Ilha da Madeira, não muito distante das Canárias, as pipas de Malmsey geralmente ficavam ao ar livre e o vinho oxidava, tomando uma cor marrom, mas a temperatura elevada acabava por lhe dar um bom sabor. Acredita-se, porém, que os primeiros vinhos ditos Malmsey que chegaram à Inglaterra, na verdade, tenham vindo da Grécia ainda na época medieval.

    E, por mais falso que o traidor Iago tenha sido ao dizer sua célebre frase, Shakespeare resume aqui um pouco da relação da humanidade com o vinho: “Vamos, vamos; o bom vinho é um camarada bondoso e de confiança, quando tomado com sabedoria; não continueis a falar mal dele”.

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    palavras chave

    VinhoFalstaffShakespearecomédiateatro

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