Do tradicional ao novo

Com uma adega particular de mais de 4 mil rótulos, o apresentador do programa Todo Seu ensina a beber o vinho com o coração

por Fernando Roveri

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"O vinho se torna especial de acordo com a ocasião", diz Ronnie Von

O cantor e apresentador de televisão Ronnie Von é um grande apreciador e estudioso do mundo dos vinhos. Hoje com 61 anos, iniciou seus estudos em enologia aos 27, quando fez um curso de sommelier. Graças ao trabalho de seu pai, José Maria, que cumpria funções diplomáticas em Paris, recebia os melhores vinhos franceses da época. “Ele me mandava preciosidades como San Vivant, Continent e Fishburg, só pra citar alguns”, conta o apresentador. Esse costume do pai fez com que Ronnie Von se acostumasse, desde cedo, com os melhores vinhos do mundo. A partir daí, surgiu uma verdadeira paixão que só aumentou com o passar do tempo.

Há alguns anos, Ronnie Von mudou a forma de encarar o seu hobbie. Antes avesso a novos vinhos e uvas, ele se despiu de preconceitos, reeducou o paladar e deixou de se prender a rótulos. Hoje em dia, sequer cita safras específicas. Este tipo de atitude, segundo ele, estreita a experiência de se conhecer novos sabores e safras de qualquer parte do mundo. “Eu não entro mais nessa barbaridade de rótulos”, ressalta.

No início, Ronnie Von nem queria saber de vinhos produzidos em regiões como o sul da Itália e Portugal e tinha arrepios só de ouvir falar em Novo Mundo. Dono de uma adega com mais de 4.200 garrafas, ele declara que está sempre atento a lançamentos do mercado vinícola e se interessa também pelos novos e modernos processos de vinificação. “Meu vinho preferido é um bom vinho. Quanto mais você prova e estuda, mais pede desculpas por ter sido tão preconceituoso. Hoje em dia eu tomo e provo tudo e, na maioria dos casos, sempre tenho boas surpresas”.

Sua adega particular tem mais conteúdo do que forma. Instalada no subsolo da casa, no bairro do Morumbi, não tem refinamento decorativo, nem design moderno. Aliás, esta rusticidade é uma característica cada vez mais comum nas adegas atuais. No entanto, tudo é muito bem organizado. Alguns dos melhores vinhos estão em caixas originais, conservados de acordo com as normas de armazenamento. Ronnie Von também registra tudo no computador, desde a data de aquisição até o dia do consumo.

Para o cantor e apresentador, um vinho se torna inesquecível não apenas pela qualidade, mas também pelo momento em que é degustado. Ele jamais se esqueceu do dia em que estava em um restaurante e foi presenteado por um amigo com um Petrus 82. “Foi inesquecível. Para mim, a grande safra de Bordeaux foi a de 82, essa foi a linha divisória do que é ou deveria ser um bom vinho, mas o momento em que fui presenteado com o vinho fez com que se tornasse ainda mais saboroso”. Ele também se lembra de uma temporada romântica que passou com a mulher, no início do casamento, na cidade de Campos do Jordão, onde degustaram um vinho simples, mas tão saboroso quanto o Petrus dado de presente pelo amigo. “O vinho se torna especial de acordo com a ocasião e esse foi um dos momentos mais importantes da minha vida”, recorda o cantor.

Um apaixonado por vinhos não pode se esquecer de fazer minuciosas pesquisas. Um dos hobbies de Ronnie Von é pesquisar cardápios de linhas marítimas e de grandes banquetes europeus, além de ler muito. No entanto, ele dificilmente faz viagens. “Uma das coisas que eu mais detesto é viajar. Minha viagem é ligada a trabalho e quando viajo a lazer, o que é bastante raro, procuro algo ligado à gastronomia. Estou com uma planejada para o final do ano. De resto, eu sou meio bicho de toca”, confessa.

Sua dica fundamental para quem está iniciando os estudos em enologia é se despir de preconceitos e não se prender a rótulos prestigiados por enófilos experientes. “Nunca diga se é bom ou ruim sem ter passado pelo seu nariz e pela sua boca. Cansei de execrar os vinhos do sul da Itália e hoje em dia já provei vinhos maravilhosos de lá”, diz o cantor.

Com uma discografia que ultrapassa trinta discos (incluindo compilações), Ronnie Von é autor de obras musicais inigualáveis da música brasileira, pertencentes à fase psicodélica da carreira do cantor, como A Máquina Voadora, de 1968, e A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nuncamais, de 1969.

Atualmente, esses álbuns estão fora do mercado, e só é possível encontrá-los através de um garimpo minucioso por sebos e, se tiver sorte, encontrá-los em vinil por volta de 200 reais. O cantor conta que há uma proposta feita pela gravadora Universal de remasterizar os primeiros discos de sua carreira – incluindo os dois citados – e lançá-los em CD que serão reunidos em uma caixa. Será uma oportunidade única de ouvir, com qualidade digital, músicas como “Meu Bem”, “Silvia: 20 Horas, Domingo”, “Viva o Chopp Escuro”, “Pare de Sonhar Com Estrelas Distantes” e “Cavaleiro de Aruanda”. Uma ótima ocasião para degustar um bom vinho, independente da safra ou rótulo.

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