O vinho na tela

O cineasta Bruno Barreto revela os atores preferidos de suas taças e polemiza sobre os vinhos sul-americanos

por Fernando Roveri

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Bruno Barreto prefere os vinhos brasileiros aos argentinos e chilenos

Bruno Barreto é um cineasta precoce. Dirigiu seu primeiro longa-metragem, Tati, a Garota, quando tinha apenas 17 anos. A partir daí, sua carreira deslanchou e hoje seu nome figura entre os grandes diretores do cinema brasileiro. Bruno está nos preparativos para fazer seu próximo filme, que será gravado no Rio de Janeiro, sobre o acontecimento do ônibus 174. Entre um intervalo e outro desse "corre-corre cinematográfico", ele falou com ADEGA sobre sua outra paixão: os vinhos.

Bruno nos conta que começou a apreciar a bebida quando morou na Itália. "Lembro exatamente da época. O ano foi 1983, estava finalizando um filme que fiz com o Marcello Mastroianni e a Sônia Braga, o Gabriela Cravo e Canela", diz o cineasta. Posteriormente, ele morou nos Estados Unidos durante 17 anos, e foi casado com a atriz americana Amy Irving. A estadia na América fez com que o diretor se apaixonasse cada vez mais pelo vinho. "Lá, os grandes vinhos são mais acessíveis, pois não custam tão caro como aqui", declara.

Ele é, inclusive, amigo de outro cineasta enófilo, o já conhecido e polêmico Jonathan Nossiter, autor do documentário Mondovino. Suas opiniões a respeito dos vinhos do novo mundo são as mesmas do cineasta norte-americano: "Eu concordo com ele, não sou um grande fã desses chilenos e argentinos com teor alcoólico alto. Com álcool, qualquer vinho fica redondo. Prefiro os que têm personalidade", polemiza o diretor. "São os chamados vinhos yuppies", brinca. Mesmo tendo vivido durante muito tempo nos Estados Unidos, ele não aprecia os vinhos de lá. "Prefiro os que são feitos com o Pinot Noir de Santa Bárbara, mas não me atraem muito".

Apesar de não apreciar muito os produtores do Novo Mundo, o cineasta revela que gosta de alguns vinhos brasileiros. "Não gosto muito de Merlot, mas provei o 'Merlot Dezem' e gostei", revela. Ele nos conta que Jonathan Nossiter, apaixonado por vinhos brasileiros, o levou a uma degustação. "Eu provei o "Casa Valduga Reserva" e esse é um dos brasileiros que mais me agradou", confessa.

Em sua residência em São Paulo, Bruno tem uma adega onde guarda aproximadamente 60 garrafas. "Gosto de ter, sempre, os Bordeaux mais leves, gosto muito do "Chateau de France", que dá pra comprar sempre, e também outros vinhos de "Pessac-Leógnan" e os "Crozes Hermitage". Para ele, são vinhos bons e acessíveis. "É claro que eu adoro um Romanée-Conti, mas é uma fortuna, não é todo dia que se pode tomar um desses. Há vinhos acessíveis e muito bons, como o Champagne Billecart- Salmon", por exemplo", revela Bruno. Sua preferência é por tintos e espumantes. "Eu tomo branco de vez em quando, mas quando compro é para oferecer aos amigos", diz o cineasta. Admira os vinhos da Provence e Languedoc que, segundo ele, são ideais para o nosso clima. "O bom é tomá-los quase gelados, entre 13 e 14 graus", deleita-se o enófilo.

Além dos franceses, Bruno também tem apreço pelos espanhóis. "Os da Bodega Protos, da Ribera Del Duero, são muito bons". E dos italianos, que lhe instilaram a paixão pelos vinhos, tem preferência pelos provenientes da região da Úmbria e do Piemonte. "Os da Toscana também são bons, mas estou meio enjoado da sangiovese", conta.

Quando questionado sobre um momento especial de sua vida no qual o vinho era um dos protagonistas, ele revela: "Eu sempre procuro associar o vinho aos melhores momentos da minha vida. Por exemplo, durante a gravação do filme O Casamento de Romeu e Julieta, eu e Luiz Gustavo sempre bebíamos nos intervalos. Se há vinho, aquele momento se torna inesquecível", declara. Para ele, a bebida registra as ocasiões na memória, de forma prazerosa e subjetiva. "É uma coisa meio proustiana, de sabores, elementos, enfim". Assim como o cinema, o vinho é outra arte presente na vida de Bruno Barreto, repleta de brindes cinematográficos.

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