O Château La Gaffelière tornou-se a quarta vinícola da classe principal a desistir da classificação de Saint-Émilion
por André De Fraia
Em comunicado, a família Malet Roquefort, proprietária do Château há mais de 300 anos, disse que não reconhece mais “os valores nos critérios de avaliação dos grandes terroirs e vinhos finos de Saint-Émilion estabelecidos pelo Comitê de Classificação”. E que por isso deixará de participar do sistema.
Segundo a vinícola, o novo método de classificação “pôs em dúvida o nível de qualidade do nosso terroir, que é aclamado e distinguido há mais de 65 anos”, e afirmou ainda que o sistema de pontuação implementado “contradiz todas as pontuações que o Château La Gaffelière obteve ao longo de muitos anos dos maiores profissionais do vinho”.
“Agora é hora de nos despedirmos. Já não nos reconhecemos neste sistema, ao qual estamos historicamente ligados e que há muito nos honrava”, disse Alexandre de Malet Roquefort, atual mandatário da vinícola.
“Continuaremos nosso trabalho como viticultores, respeitando o prestigioso terroir de Saint-Émilion, produzindo vinhos à nossa imagem, reconhecidos e apreciados pelos amantes do vinho em todo o mundo”, finalizou Alexandre.
A polêmica começou em agosto de 2021 quando os Châteaux Cheval Blanc e Ausone criticaram o sistema, dizendo que os critérios de avaliação se afastavam muito dos aspectos fundamentais do terroir, do vinho e da história. “Outros elementos secundários tiveram muita importância na avaliação final”, disseram Pierre Lurton e Pierre-Olivier Clouet, da Cheval Blanc, na época. Dizendo ainda que a classificação havia sido manipulada o que quase levou dois produtores para a cadeia.
O Château Angélus seguiu o exemplo em janeiro de 2022, com Stephanie de Boüard-Rivoal, a 8ª geração da família que assumiu a administração da propriedade em 2012, alegando que classificava o sistema atual como “inadequado aos desafios de nosso domínio e sua denominação”.
O atual sistema de classificação foi refeito em 2012 elevando Château Pavie e Château Angélus para Premier Grand Cru Classé “A”, título que desde a criação do sistema em 1955 cabia apenas aos Châteaux Cheval Blanc e Ausone.
O desagrado das duas mais conhecidas vinícolas de Saint-Émilion – ambas propriedades do grupo LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton SE – se intensificou com a regra imposta pelos classificadores de que, além de levar em consideração a qualidade nas últimas 15 safras, também deve se constatar a “fama e os meios implementados para o desenvolvimento” dos châteaux, através da cobertura da imprensa e de publicações nas redes sociais.
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