Os produtores inovam ao cultivar cepas inéditas em algumas regiões, ou recuperar outras. Conheça mais seis variedades tintas
por Marcelo Copello
Um número crescente de produtores está tomando conhecimento da importância das castas e das regiões em que são cultivadas. Eles experimentam novas variedades, novos cortes, cepas inéditas numa zona, ou recuperam tipos de uvas supostamente perdidos, como no caso da Carmenère. Da mesma maneira que a indústria impulsiona suas vendas ao apresentar vinhos feitos com uma variedade de uva ou um corte, o consumidor está atento aos nomes estampados nas garrafas e nas possíveis harmonizações da bebida varietal em uma refeição. É um estímulo para que o enófilo busque novidades.
No mês passado mostramos dez uvas tintas. Agora mais seis:
#R#Merlot: Associada sempre às regiões bordalesas de Saint Emilion e Pomerol, onde dá origem ao Pétrus, o maior ícone desta cepa. É a mais cultivada em Bordeaux, com quase o dobro de hectares que a Cabernet Sauvignon. Usada em cortes ou varietais de grande sucesso, sua popularidade é crescente, por ser menos tânica, com a acidez ligeiramente menor e de textura mais aveludada do que a Cabernet Sauvignon. Amadurece de uma a duas semanas antes dela e se adapta bem a regiões mais frias ou úmidas, como norte da Itália, sul do Brasil ou Nova Zelândia. É muito difundida em todo o mundo e tem presença importante no cone sul, notadamente no Chile. Seus aromas típicos são ameixa, cereja preta, chocolate e ervas.
Nebbiolo: a grande uva do norte da Itália, de colheita mais tardia, colhida em fins de outubro, quando a névoa - nebbia, em italiano - toma conta da paisagem, justificando seu nome. Com ela se faz o Barbaresco e o Barolo - "o vinho dos reis e o rei dos vinhos", segundo Voltaire. Dá origem a líquidos tânicos, alcoólicos, de boa acidez e longevos, mas nem sempre com muita cor. É pouco cultivada fora dessa região por ser muito sensível às variações de solo e clima. Por esse motivo, pode ser comparada com a Pinot Noir, embora tenha perfil aromático diferente. Costumo descrever a Nebbiolo como "a Pinot Noir com uma névoa tânica", que com a idade se dissipa e descortina a elegância de grandes vinhos. Quando jovens, seus vinhos podem ter florais como violeta e rosas. Com a idade desenvolvem couro e especiarias.
Nero D'Avola: a grande uva tinta da Sicília, maior ilha do Mediterrâneo e segunda maior região produtora de vinhos da Itália, depois do Veneto. Geneticamente esta uva se assemelha a Syrah. No clima quente e solo vulcânico da ilha proporciona vinhos fortes e encorpados, os mais comuns são rústicos e pesadões, os melhores são longevos e mais equilibrados, atingindo a excelência.
Pinotage: esta casta é fruto de um cruzamento genético entre duas castas francesas, Pinot Noir a Cinsault. Criada em 1925, em Stellenbosch, na África do Sul, esta cepa tornou-se emblemática do país. Lá, ela rende desde rosados, passando por tintos leves, que lembram a parente Pinot Noir, até vinhos mais robustos, amadurecidos em carvalho. Os aromas típicos são: cassis, groselha, amora, framboesa, além de especiarias e uma nuança muito característica, normalmente descrita como aroma de acetona ou verniz. A Pinotage também é bastante cultivada no Brasil e na Nova Zelândia.
Sangiovese: a variedade mais importante da Itália, disseminada por diversas regiões de norte a sul do país. Está fortemente associada à Toscana, onde é a base de tintos tradicionais como o Chianti (no qual aparece misturada com outras variedades como a Canaiolo) e o Brunello di Montalcino, onde aparece sozinha, com o nome de Sangiovese Grosso, ou Brunello. Tem boa tanicidade e acidez. Aromas de especiarias, frutas vermelhas, como ameixa, e alcaçuz. É também a base de muitos supertoscanos como o Tignanelo, e muitas vezes aparece misturada a uvas de Bordeaux, como Cabernet Sauvignon e Merlot. Embora pouco adaptada fora da Itália, a Sangiovese é vista em alguns países, sobretudo de imigração italiana, embora raramente renda exemplares de qualidade.
Tannat: a cepa se tornou o símbolo enológico do Uruguai. Trazida para o país no final do século XIX, a casta tinta é original do sudoeste da França, onde serve de base para o Madiran, um líquido retinto e excessivamente tânico. Hoje, o Uruguai tem mais superfície plantada desta uva do que a própria França, representando aproximadamente um terço de seus campos de cultivo. Apesar de centenários, alguns desses vinhedos ainda produzem. O nome Tannat vem de tanino, substância responsável pela adstringência e cor escura nos tintos. O vinho Tannat uruguaio revela estilo diverso do francês, devido a diferenças clonais e de terroir. No geral, o Tannat de nossos vizinhos é menos agressivo e mais frutado que o gaulês, mantendo as características de cor escura, com taninos marcados, teor alcoólico médio e afinidade com carvalho. No caso de exemplares mais jovens, é bem-vinda uma passagem pelo decantador antes de chegar às taças. Uma curiosidade: a Tannat é também conhecida localmente pelo nome de "Harriague", referência ao basco francês Don Pascual Harriague, que teria introduzido a cepa no país, em 1870.
No próximo, número concluiremos as uvas tintas. Até lá!